Continuei na biblioteca até o amanhecer do dia seguinte. Decidi voltar já que estava exausta e me perguntava se iria conseguir chegar sem desmaiar ao meio do caminho.
Consegui passar por todos os obstáculos da manhã de Arnaveal e logo quando cheguei ao quarto, me joguei em minha cama e dormi em segundos. Um barulho de alguém bater à porta me acordou. Foi apenas o que precisava para me deixar mal humorada.
Abri a porta e forcei meus olhos para ver quem estava.
Ethan.
— O que você quer? — Disse o mais alto que pude, mas mesmo assim não tive certeza de que ele entenderia.
— O que aconteceu com você? Foi beber com Merga ou o quê? — Disse podendo estar brincando. Mas por seu tom de voz, me questionei do contrário.
— Não. Passei a madrugada e o começo da manhã pesquisando e estou exausta.
— Ah, imagino — Uma palavra foi suficiente para acabar com a minha paciência — Espero que não faça mais vezes. Isso não faz bem. E além do mais, poderia voltar lá quando bem quiser.
Me esforcei para não revirar os olhos, me mantendo apoiada na porta de madeira escura.
— Sim, sim. Eu sei que não devia. Isso não irá acontecer novamente. Mas agora, eu realmente preciso descansar.
— Ah, sim, me desculpe — Ele sorriu.
— O que você quer? — Repeti.
— Nada... Só queria saber se estaria bem. Mas como não tem nenhum problema, já vou indo.
Apenas o encarei com as sobrancelhas erguidas e logo em seguida bati a porta. Demorei uns dois segundos para ouvir seus passos caminhando para longe do meu quarto.
Voltei à minha cama e dormi logo em seguida. Me senti de uma maneira estranhamente bem. Não sabia exatamente o porquê; mas sabia que no fundo, gostava daquele lugar. E só por não ter que aturar o peso da realidade por um dia, me sentia tão livre. Por mais que uma parte de mim dissesse para voltar, outra dizia o contrário. Mas quem falava mais alto era que fazia minha tempestade.
Quando acordei, fiquei em média uma hora encarando a parede, enquanto a chuva acinzentava o dia do lado de fora do meu quarto.
Quando levantei, esperei alguns segundos para começar meu dia.
Abri meu armário e peguei uma calça de lã preta, um suéter e usei por baixo a mesma camisa que tinha usado quando tinha chegado. Uma bota que costumava usar diariamente em Arnaveal.
Na mesa de refeições não encontrei ninguém; o que me desmotivou a comer. Dei meia volta e continuei a caminhar.
Voltei ao meu quarto e continuei a fazer minha pesquisa.
Achava estranho (e até mesmo um pouco irônico) o fato de saber mais sobre seu passado do que o próprio povo. Como que em tão poucos conheciam as atrocidades do passado? De seu próprio passado... Eu não tinha muita moral para pensar algo do tipo (já que também fazia parte de meu passado e não sabia de absolutamente nada); mas mesmo assim, era algo pelo menos curioso.
Os livros cheiravam a couro, com um quase imperceptível cheiro de baunilha. As páginas estavam amarelas de tão velhas. Tinha medo de não ser delicada o suficiente e rasgar algum dos livros. Algumas letras eram tão desenhadas que mal conseguia entender. Outras eram como as que eu costumava usar.
Além de estar aprendendo algo útil lendo os livros e registros caindo aos pedaços eu, surpreendentemente, estava me divertindo. Às vezes me pegava tendo emoções um pouco exageradas, como se estivesse realmente lendo um livro de fantasia. Ficava presa a cada detalhe; me colocava no lugar dos "personagens" a cada situação; torcia para eles. E era mais mágico ainda saber que aqueles heróis realmente existiram
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O Incrível Vazio da Mente de Agatha
De TodoAgatha é uma garota solitária que tem histórias como seus únicos companheiros. Uma vez, Agatha, aparece em um lugar desconhecido, que por mais familiar que seja, ainda era diferente de tudo o que já viu, mas subitamente, tempo depois, volta para seu...