Era um lugar que aparentava ser uma floresta. Havia várias árvores, de diversas cores, todas lindas de um jeito diferente, misturadas perfeitamente. Havia flores diversas e graciosamente belas, com um cheiro hipnotizante. Eu conseguia ouvir o som das folhas avermelhadas se contorcendo ao chão enquanto eu as esmagava, após o vento as derrubarem.
Estava frio o bastante para me sentir confortável em meu casaco. Alguns raios do sol batiam em minha nuca, esquentando-a, mas não eram quentes o suficiente para que me deixassem incomodada.
Apesar de estar isolada em um campo razoavelmente grande, não ouvia nenhum passo ou sinal de algum outro animal presente. Os únicos sons que conseguira escutar eram das folhas das árvores ao se balançarem, não tão bruscamente, e de minha própria respiração.
Eu poderia ficar ali para sempre.
Estava completamente perdida. Não sabia onde estava, muito menos como fui parar ali. Mas de tão fascinada com tudo aquilo, nem tinha me importado.
Caminhei por lá durante um bom tempo, continuando a apreciar a beleza da natureza do local.
Enquanto dava a volta em um grande canteiro de flores, ao olhar para minha frente, avistei um rapaz virado de costas para onde eu estava, aparentemente procurando por algo. Ele era alto, havia cabelos de tamanho médio negros azulados lisos. Usava uma calça azul marinha, uma blusa da cor branca com uma manga levantada até seu cotovelo e uma bota negra de cano baixo, como umas que eu tinha só que um pouco mais largas. Decidi ir falar com ele, com a esperança que me desse alguma informação.
— Olá! — Disse da maneira mais simpática que conseguira, mas ainda confusa — Desculpe incomodar, mas, poderia me ajudar? Estou perdida e não sei como fui parar aqui. Me chamo Agatha, Agatha Camus — falei da melhor maneira que conseguira na hora.
— Olá, senhorita! — O homem misterioso disse após se virar, tirando os braços da cintura e com o mesmo tom de simpatia. Havia olhos com castanhos levemente avermelhados; sua boca era clara com leves curvas em suas laterais, que combinavam perfeitamente com seu rosto retangular e desnutrido como todo o resto do seu corpo.
Ele estava prestes a dizer algo, mas se interrompe e me olha atentamente, como se ele ainda estivesse processando o que estava acontecendo. O ouvi murmurar algo incompreensível.
Franzo a testa desentendida.
"One shot is never enough
I just wait for us to go in circles
A lifetime of giving my all for you''
— Merda.
falo baixinho me lamentando por mais uma vez o despertador ter me acordado para ir para a escola. Odiava a escola. Quem não odeia?
Dei um tapa desajeitado em meu celular com raiva, forte o suficiente para fazê-lo se calar, mas ao mesmo tempo fraco para não quebrá-lo.
Levantei-me ainda um pouco raivosa, sem a menor vontade de fazê-lo. Me visto antes de colocar meu gorro vermelho, que uso todos os dias e que não me dá nada além de muita caspa mas o mínimo de auto confiança.
Cambaleei até a sala, tentando calçar minha bota ao mesmo tempo. Não sentia a menor vontade de comer algo. Ainda estava irritada com meu despertador e pelo fato de não poder ficar em casa o dia inteiro.
"Querida Agatha, hoje eu não irei poder tomar café com você, pois vou ter que ficar algumas horinhas a mais no trabalho. Talvez eu também não esteja ai para o jantar, mas deixei um macarrão pronto dentro do micro-ondas para você comer à noite, mas de qualquer forma mandarei uma mensagem te avisando. Beijitos da mamãe!"
Minha mãe sempre fazia horas extras. Ela dizia que se algum dia precisasse, teria tempo acumulado o suficiente para poder não ir trabalhar, mas mesmo sabendo que não era por isso, a deixava sem discutir. Ela tinha problemas. Queria muito saber quais, ou pelo menos como ajudá-la. Mas já havia tentado inúmeras vezes, sem nenhum resultado. Precisaria de muita motivação para tentar novamente.
Mesmo quando começou a ficar assim, afastada, eu sabia que ela me amava, nunca duvidei. Era apenas um pouco distante, às vezes. E eu, também, a amava e entendia perfeitamente seus motivos por querer se isolar. Mas sentia um pouco de falta dela, de vez em quando.
Me apresso, pegando um casaco no cabideiro. Haviam vários porta-retratos pendurados, de anos atrás à décadas. Olho para a fotografia de 7 anos atrás. Foi tirada em um evento na escola, onde nós levávamos as pessoas que nós mais amamos para a escola. E, como quase todo mundo, eu e meus amigos levamos nossos pais. Estava eu e mais 5 amigos, as verdadeiras pessoas que mais amava. Faziam caretas e poses engraçadas, e eu os encarava confusa e rindo, com os pais, como figurantes, rindo sem a menor graça. Seria uma boa lembrança. Já deveria ter retirado-o daí.
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O Incrível Vazio da Mente de Agatha
AcakAgatha é uma garota solitária que tem histórias como seus únicos companheiros. Uma vez, Agatha, aparece em um lugar desconhecido, que por mais familiar que seja, ainda era diferente de tudo o que já viu, mas subitamente, tempo depois, volta para seu...