Sabia exatamente onde estava, mas não fazia ideia de onde iria.
Eram umas três da tarde e o sol batia bem em cima da minha cabeça só não fazendo tanto calor pois o vento me esfriava. Não fazia parte da minha rotina, essas caminhadas sem rumo, mas também não era incomuns. Não parecia haver muito sentido em ficar em casa sem fazer nada, saindo pelo menos tirava algum peso da inutilidade da consciência. Parando para pensar, também não fazia sentido caminhar. Não é como se algo para fazer surgisse do nada. Mas também não é como se fizesse alguma diferença.
Botei na minha cabeça, assim que ouvi o barulho do elevador avisando a minha chegada na portaria, que iria para algum sebo. Talvez não levasse nada pois teria que confiar nos trocados perdidos no bolso da minha jaqueta, mas ver os livros já faria com que o passeio valesse um pouco a pena.
Sabia de cor o caminho de minha casa até qualquer lugar, e de qualquer lugar até a minha casa. Isso me ajudava a andar pela cidade que não era muito grande. Mas não sabia ir de um lugar para o outro, o que não era necessariamente um problema, uma vez que nem saia de casa direito para nada que fosse dispensável.
Ao me tocar que havia virado a esquina errada, paro e tento me redirecionar para algum caminho que me leve até lá. Pela ironia do destino e minha surpresa, lá estava a lanchonete onde Merga trabalhava.
Não muito hesitante, passei pela porta e não a vi lá. Tudo bem, poderia comer algo, o que tinha certeza que o meu dinheiro poderia pagar.
O meu banco que sentava quando lanchava ali não estava ocupado, o lugar inteiro estava vazio, talvez pelo clima estranho do dia, cinza, com sol e vento, tivessem preferido ficar em casa.
— Boa tarde — um garoto que nunca vi com um avental veio falar comigo —. Vai pedir algo?
Onde estava Merga, era o que pensava. O lugar não era grande o suficiente para precisar de dois atendentes. Talvez ela estivesse em outro turno, fazia sentido. Talvez ela não trabalhasse em finais de semanas, o que já fazia menos sentido pelo o que havia me dito da última vez que conversamos neste exato lugar.
— Hum, não. Ainda não. Mas... você sabe onde Merga está? Ela trabalha aqui, certo? — Digo com receio de ser informal ou desrespeitosa por chamá-lo de "você".
— É... Ela não trabalha mais aqui. Acho que mencionou algo sobre se mudar com seus tios.
— Ah, entendi.
Nunca tive contato com seus tios, apenas ouvi falar das vezes que Merga e Vladimir viajaram para o sítio onde eles moravam.
De repente ouço um chiado em fino e contínuo ecoar em meu ouvido. Minha cabeça dói e fica tonta, como numa queda de pressão.
— É, só mais uma coisa. Onde fica o banheiro, por favor?
Ele indica e corro para lá imediatamente, jogando tudo para fora no vaso sanitário.
*
Parada de frente para uma porta, diferente de segundos atrás, não fazia a menor ideia de onde estava. Eu estava dentro de algo pequeno demais para ser chamado de quarto. Talvez um armário.
Abri e me vejo em Arnaveal. É o castelo, mas algo parece estranho: não vejo ninguém. Os corredores dos dormitórios não são muito movimentados de qualquer forma, mas não ouço nenhum barulho. Nem de pássaros, de vozes, das pessoas fazendo seus trabalhos, nada. Desci as escadas para onde fazíamos as refeições e estava vazio.
Começo a me preocupar quando saio do castelo e encontro a cidade vazia. Ninguém fazia nenhum barulho sequer dentro de casa, se é que havia alguém ali. Algumas portas estavam abertas, coisas estavam jogadas no chão, como se fosse uma fuga de última hora.
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O Incrível Vazio da Mente de Agatha
De TodoAgatha é uma garota solitária que tem histórias como seus únicos companheiros. Uma vez, Agatha, aparece em um lugar desconhecido, que por mais familiar que seja, ainda era diferente de tudo o que já viu, mas subitamente, tempo depois, volta para seu...