Capítulo 9

13 0 0
                                    

 Fiquei aliviada quando o relógio bateu às 12:30 e pude sair da escola. Sempre achei que tinha muito pouco tempo de aula, por isso dedicava um tempo em casa para estudar mais. Estes dias, eu começara a ficar mais tempo sem fazer isso, pois nunca conseguia me concentrar por mais de 15 minutos. Fiquei com meu gato por um tempo por puro tédio. Às vezes achava estranho o fato de ter tanta coisa para fazer, mas sempre me sentir tão entediada. Era agoniante, de vez em quando.

Com muito esforço e força de vontade, levantei-me do sofá e fui para a cozinha, onde sabia que havia algo para fazer. Olhei em volta e fiz uma lista de todas as coisas que tinha que fazer ali e do que precisava para fazer. Fiz e, quando pensei que tinha acabado, lembrei que minha mãe chegaria mais tarde hoje, então deveria fazer sua janta logo. Peguei algumas das coisas que costumava fazer para ela, cozinhei e a deixei no micro-ondas com um bilhete na parte de fora avisando que a comida era dela. Neste tempo, costumava fazer estas tarefas diariamente. Era o único jeito que tinha para me sentir útil, pelo menos um pouco. Às vezes sentia como se fosse a responsável por tudo estar dando errado, como se minha existência só trouxesse mais catástrofes. Fazer estas tarefas, fazia-me esquecer disso. Era meu antídoto.

Fiquei todo o resto da tarde me limitando a sair do quarto.

*

Dormia profundamente até quando minha mãe chegou e abriu a porta da sala. Acordei, mas não assustei-me com o barulho. Ela foi diretamente para seu quarto, provavelmente para trocar sua roupa; depois para a cozinha, como de costume; e após isso não consegui ouvir mais nada para deduzir o que estava fazendo.

Às vezes sentia pena de minha mãe por ter de ficar tanto tempo no trabalho. Mas sempre que conversava com ela a respeito, me dizia que amava seu trabalho e que não se importava em ficar todas essas horas. Tentava entender seu lado, mas nunca conseguia. Por mais que ela não se importasse com isso, eu me importava. Aquele emprego estava a atrapalhando mais do que a ajudando. Ela sempre fugia de seus problemas, como se essa fosse a resposta, sempre se tratou como alguém insignificante, como se fosse só mais uma para todos. Mas ela sempre foi tudo para mim. Desde a morte de meu pai, minha mãe tem estado distante e isso a está matando. Não o fato de estar distante, mas o fato de não se cuidar em relação a isso e a várias outras coisas. Não sei se era orgulho, não sei se era medo, não sei se tinha um motivo, mas sei que era preocupante. E por mais que eu tente fazer algo, nunca consigo.

Voltei a dormir em alguns minutos e perdi o sono um tempo antes de meu despertador tocar, me sentando na minha cama. Imediatamente senti minha cabeça doer. Coloquei minha mão em minha testa e ela estava parcialmente quente. Quando me levantei, não conseguia ouvir nada durante alguns segundos a mais do que um ruído agudo e irritante, mas passou rápido. Fiz minha comida, arrumei minhas coisas, tomei banho, escovei meu dente, dei comida para meu gato e a dor de cabeça continuava.

Tentei ignorá-la saindo de casa aproveitando também o tempo que tinha antes da aula começar. Passei por parques, lojas, casas, lanchonetes, todas desertas. Estava frio, parecia que iria congelar naquele lugar. Quando passava por perto de ruas comerciais, não havia ninguém na janela, ninguém visível, mas também não tinha ninguém fora de suas casas. Me senti como se fosse final de tarde de domingo, o que não era ruim. Depois de um tempo, a mistura do frio com minha dor de cabeça foi piorando, me fazendo procurar algum lugar mais quente para ficar.

Entrei em uma lanchonete próxima, onde havia uma garota familiar de cabelos negros e curtos, com roupas pretas — aparentava ter idade para estar na faculdade — mexendo no celular, apoiada no balcão. Senti uma pontada de vontade de iniciar uma conversa com ela, mas hesitei. O dono da lanchonete se chamava Leon, ou Leo para os mais próximos. Ele era já um senhor de idade, mas continuava bem animado e energético como se fosse mais jovem que eu. Era muito simpático, e tendia a não gostar muito de alguns adolescentes rebeldes.

O Incrível Vazio da Mente de AgathaOnde histórias criam vida. Descubra agora