Capítulo 3

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Sakura:


Eu iria matar Hinata.

Ela não estava ajudando de forma nenhuma enquanto ria igual uma hiena no meio da rua. Eu não sabia identificar quem estava passando mais vergonha, eu caindo igual merda por simplesmente tropeçar no ar ou ela com sua risada escandalosa. Éramos uma boa dupla no fim.

Consigo tirar quase toda sujeira de minha saia e volto a caminhar em sua direção como se nada tivesse acontecido. Não é tão feliz quanto parece dizer que levar tombos constantemente é normal para mim.

− Bom dia Sakura − Hinata diz quando chego perto de ti. Ela tentava miseravelmente segurar o riso ficando vermelha no processo.

− Você está vendo essa mão? − Eu digo levantando o braço a frente de seus olhos lilases.

− Claramente, por q...

− Sua visão não coopera então é sempre bom perguntar... − Sua feição se fecha e eu ganho um dedo do meio em resposta − Mas voltando... Esta mão Hina, vai voar na sua cara se você não calar a boca.

− Vejo que seu humor está muito bom.

− Eu o perdi naquela calçada ali − Aponto o dedo para trás para o lugar onde havia levado meu lindo tombo e a vagabunda volta a rir freneticamente − Vamos logo entrar nessa merda, a gente tá muito atrasada?

Ela levanta o braço para o olhar o seu relógio de pulso que em minha descrição seria "de vó", mas esse é o tipo de coisa que se mantém dentro da boca para não causar mais nenhuma desavença entre nós.

− Quase 15 min atrasadas − Ela levanta o olhar para mim com a voz recheada de deboche − Muito bom para o primeiro dia Sakura.

Dou um sorriso irônico a ela e começo a subir as escadas daquele lugar, eram gigantes, não tinha um elevador ali não? Poha, ia levar mais tempo ali do que tive para chegar ate aqui. Malditos ricos que gostam de exagerar em tudo.

Passado eu imagino uns 10 min, eu e Hinata conseguimos chegar ao topo daquele lugar parando em frente a um portão e vocês não acreditam.

A POHA DO TREM ESTAVA TRANCADA E NÃO HAVIA NINGUEM ALI.

− Mas que merda em − Eu falo com a respiração acelerada me apoiando no portão para descansar.

− Acho que estão todos na celebração de primeiro dia, eu escuto o barulho de uma voz sendo dita em um microfone − Hinata diz e eu percebo que a baixinha estava certa.

− Pelo menos sua audição funciona Hime.

Não, eu nunca chamava Hinata pelo seu nome correto. Aquilo era uma lei que eu havia feito comigo mesma, a única que eu nunca havia quebrado.

Hinata me olha novamente com seu olhar debochador e eu sorrio. Eu e ela estávamos na merda, típico nosso. Olho novamente para o portão a minha frente e tenho uma ideia nem um pouco inteligente.

− Eu vou pular esse caralho Hina.

− Tá doida? − Ela me encara e eu tiro a mochila das costas a jogando nos meus pés − Quer perder a bolsa logo no primeiro dia?

Sim, nós duas éramos bolsistas. Havíamos conseguido passar na mesma prova juntas e ali estávamos, naquele maldito colégio de rico que não tinha nem a merda de um porteiro.

− Prefere perder a bolsa ou o primeiro dia?

− Não me faça pergunta difícil.

− A chave está em cima da mesa, eu passo por cima e abro o portão pra você.

− E as câmeras?

− Não mandei me deixarem trancada aqui fora.

Dito isso eu começo a escalar. Graças a Deus eu não tinha calçado aquela sapatilha ridícula, senão nem nas escadas eu teria sobrevivido.

E meu All Star mais uma vez passava por uma situação doida comigo, ele era meu maior companheiro de fazer merda, depois de Hinata lógico.

É até fácil chegar ao topo e passar para o outro lado, mas o problema de verdade mesmo é em minha descida, meu pé pisa em falso quando eu estava no meio do portão. Óbvio que eu tinha que cair, não era eu se aquilo não ocorresse.

Minha saia se levanta com o vento que bate contra si por conta da queda e eu bato minha bunda contra o piso gelado. Não faz tanta diferença na verdade, mal havia nervos naquela região de tanto que eu já caí com ela nos lugares.

Escuto as risadas de Hinata e eu me levanto limpando minha saia novamente. Quando fico de pé e a encaro percebo que suas risadas cessaram e ela tentava desesperadamente segura-las enquanto olhava para algo atrás de mim.

Era só o que me faltava. Viro-me e vejo um menino mais alto que eu escorado na parede com as mãos no bolso.

Ele estava vestido com o mesmo uniforme que eu obviamente, uma calça social azul marinho tão escuro que facilmente seria confundido com preto. A blusa branca social arregaçada ate os cotovelos da mesma forma que eu, mas diferentemente de mim os três primeiros botões estavam abertos revelando um pouco de seu peitoral e a gravata estava folgada quase solta em seu pescoço.

Na verdade aquele ser humano estava ate que bem sexy naquela pose daquela maneira.

Os cabelos pretos bagunçados tampavam seus olhos... Mas eu podia sentir... Ele olhava diretamente para mim.

Seu olhar se levanta e meu corpo todo estremece ao perceber que toda sua atenção era direcionada somente a mim. Meus olhos verdes esmeralda estavam perdidos no preto dos seus.

Eles me encaravam com diversão.

E o meio sorriso estampado em seus lábios parecia querer me provocar.

− Perdeu alguma coisa? − Mas infelizmente eu não estava com ânimo nem para raciocinar um flerte.

Ele ri de um jeito provocador do mesmo jeito que eu havia imaginado e ele se move da parede vindo em minha direção.

− Eu estava observando vocês duas de longe...

− E foi imprestável o suficiente para não nos ajudar?

Ele para a minha frente com o rosto levemente inclinado para baixo para não cortar nosso contato visual, ele estava a poucos centímetros de mim. E eu tinha que confessar: Ele era extremamente bonito.

Mas nem por isso perdi minha postura, continuei o encarando com a mesma intensidade sem deixa-lo perceber o quanto sua presença tão perto da minha me deixava desconfortável.

− Eu queria ver o que você ia fazer.

− Eu ter pulado esse portão foi sua culpa então.

− Foi uma ideia bem inteligente eu tenho que confessar.

Nossos olhares não se esquivavam nem um milímetro sequer. Ele com o sorriso provocador e eu com a face fechado de raiva. Quem olhasse de outro ângulo poderia até ver um casal brigando.

− Então né... − Escuto uma tosse fraca vindo de trás de mim e me recordo de Hinata − Nós temos que ir Sakura...

− Sakura... − Ele diz meu nome baixinho, mas por estarmos com rostos tão colados eu podia ouvi-lo perfeitamente. E o jeito que ele havia dito... O que foi aquilo? Por que uma faísca passou por meu corpo? - A gente se vê por ai...

Ele termina sua frase e some no corredor da onde ele havia dito que estava. Respiro fundo e percebo que fazia tempo que ar não chegava a meus pulmões. O ser humano tinha me tirado do sério, nem percebi que prendi a respiração.

Viro-me para a mesa e pego as chaves abrindo o portão para Hime entrar.

− Acho bom você nem falar nada − Eu digo com minha feição de estresse ainda presente. Ela entra e eu pego minha mochila no chão fechando o portão fingindo novamente que nada tinha acontecido.

Eu ainda não sabia o porquê, mas aquele ser vivo havia levado o resto de paciência que restava em mim.

DesastreOnde histórias criam vida. Descubra agora