Capítulo 6

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Hinata:


Honestamente, eu não entendia o porquê de Sakura estar tão chateada.

A menina que nos ajudou, Ino, não tinha sido nada além de prestativa. Depois de nos salvar de uma situação potencialmente (definitivamente) constrangedora, ela teve a bondade de nos levar até a nossa aula. O que havia de tão errado nisso?

A minha amiga parecia guardar a resposta para essa pergunta.

Cada comentário feito pela nossa guia resultava em uma revirada de olhos ou a ocasional jorrada de insultos, que com certeza não eram adequados para o ambiente escolar.

O mais impressionante, talvez, seria a bravura (ou estupidez, eu ainda não havia me decidido) de Ino ao responder suas pirraças na mesma medida. E mesmo que nunca fosse admitir, eu sabia que Sakura também estava impressionada.

Controlando a minha vontade de suspirar diante de toda aquela infantilidade, eu inclino a minha cabeça para dentro de uma sala que tinha sua porta entreaberta.

− Esse é o laboratório − Disse Ino − Um dos grandes orgulhos do nosso colégio.

− Não tão grande quanto o ego, eu imagino − Replica a voz a minha direita − Ou minha rola − Ela finaliza, agora com um ar pensativo.

Antes que eu ouvisse mais uma palavra daquela troca interessante e intelectual, meus olhos acabam sendo arrastados para outro lugar.

No fundo do ressinto, havia um menino. Sim, eu sei, uma observação muito perspicaz. Mas você terá que me perdoar dessa vez, porque meu cérebro parecia ter se tornado uma espécie de gelatina (não particularmente apetitosa, eu imagino).

Ele estava olhando diretamente em minha direção, e não parecia envergonhado por ter sido descoberto. Seus olhos eram azuis como o céu em um dia ensolarado e seu cabelo loiro apenas contribuía para a minha metáfora. As sobrancelhas finas, mas grossas estavam arqueadas, dando a impressão de que ele estava estudando (muito intensamente) um quebra-cabeça.

Eu sinto minhas bochechas corarem, desacostumada com aquele tipo de atenção. Luto contra a vontade de desviar o olhar. Se aquilo fosse um jogo, eu não estava prestes a perder.

O que aconteceu em seguida, eu nunca vou ser capaz de descrever com precisão.

Seu braço deve ter se movido. Ou talvez tenha sido a brisa de vento que havia escolhido aquele momento para aparecer. Ou, muito possivelmente, era apenas o destino, buscando por alguma diversão na minha miséria.

Qualquer que fosse a causa, o resultado permanece imutável.

O jarro que estava em sua frente, eu espero nunca saber que mistura maligna estava contida naquele recipiente, começou cair.

Não aconteceu em câmera lenta, como as desgraças são mostradas nos filmes hollywoodianos. Na verdade, eu não percebi o que estava acontecendo até ouvir o barulho do vidro se estilhaçando contra o chão.

Antes de qualquer coisa, eu gostaria de fazer uma confissão: química não é meu forte. Nunca foi e nunca será. Mas eu sei suficiente para entender que algumas misturas não podem ser tratadas descuidadamente sem causarem consequências drásticas.

Acho que você já pode ter uma ideia do que se seguiu.

No momento em que a substância, que havia voado do jarro, entrou em contato com o jaleco do garoto, o tecido assumiu um tom alaranjado. Tarde demais, eu fui perceber que não se tratava de uma mancha e sim fogo.

Fogo.

Maravilha.

Vejo uma pergunta não verbalizar a se formar em seu rosto, percebendo a mudança na minha expressão. Quando, muito lentamente, ele se vira, sua postura despreocupada some imediatamente e um grito abafado escapa da sua boca.

Eu, por outro lado, não fui tão delicada.

− PUTA MERDA.

As poucas outras pessoas no lugar, outro menino e mais três alunas, levantaram suas cabeças, alarmadas.

Acho que o meu grito foi mais alto do que eu imaginava, pois, Sakura e Ino, que estavam profundamente absortas em sua discussão, vieram rapidamente ao meu encontro.

− Mas que porra... PUTA MERDA.

É bom saber que eu sempre posso contar com a minha amiga para completar os meus argumentos.

E as coisas só ficaram melhores.

Depois do breve momento de estupor coletivo, Sakura agiu prontamente e seguiu em direção ao extintor que estava preso a parede. O gesto poderia ter sido bem heroico.

Poderia.

Enquanto tentava, sem sucesso, desprender o objeto, suas mãos escorregaram. Devido ao peso que estava colocando em seus braços, ela perdeu o equilíbrio e começou a se balançar freneticamente, esperando conseguir se manter em pé.

E foi assim que, pela quarta vez naquele dia, ela partiu em direção do chão.

− Sakura − Eu digo − Você, seriamente, acabou de CAIR?

− Não, foi de brincadeira − Ela responde − O QUE VOCÊ ACHA?

E foi nesse instante que o extintor, que estava se mostrando tão relutante em sair da sua posição, se soltou da parede e caiu bem em cima da sua barriga, a fazendo urrar de dor.

Não era possível que isso estivesse acontecendo.

De repente, sou tomada por uma vontade indescritível de gargalhar.

− Eu juro por tudo que é mais sagrado − Disse Sakura, mantendo um tom surpreendentemente assustador para alguém na sua situação − Se você soltar mais um pio, eu vou te matar.

Infelizmente, isso só piorou as coisas. Em um segundo eu me vejo tentando desesperadamente manter uma postura séria e no outro, me dobrando de tanto rir.

A minha amiga abre a boca, parecendo querer falar algo, mas o que, nós (felizmente) nunca saberemos, pois ela foi interrompida por uma tossida nada discreta.

− Sinto muito por interromper, mas alguma de vocês poderia, por favor, passar o extintor?

Eu me viro, apenas para encontrar... Ele. Mas agora seu cabelo estava completamente bagunçado e os braços já não eram mais cobertos pelo jaleco. Os seus olhos se encontravam embaçados, graças à adrenalina.

Eu tinha a total intenção de responder, mas tenho a impressão que o único som produzido pela minha boca foi um "Hã... Eu... Hã..." (Ler trecho referente a gelatinas).

− Aqui - Minha amiga responde, me lançando um olhar engraçado.

Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, o barulho ensurdecedor do sinal invade o ressinto.

− Ótimo, agora vamos nos atrasar − Diz Ino, que havia observado a cena toda em um silêncio surpreso. Ela se vira para uma das meninas, que se encontrava em um estado de completo choque − Eu vou deixar a situação em suas mãos.

Em um movimento rápido ela agarra Sakura e eu por nossas mochilas e marcha em direção ao corredor.

Institivamente lanço um olhar para trás. O pequeno fogo fora apagado e o menino parecia um tanto atônito. Quando nossos olhos se encontram, eu faço um pedido de desculpas silencioso.

Pelo o que eu estava me desculpando, eu não fazia a menor ideia.

DesastreOnde histórias criam vida. Descubra agora