Capítulo 8

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Hinata:


Por quê?

Eu tenho sido uma boa pessoa. Pelo menos eu tenho tentado. Eu sou respeitosa com os mais velhos, sempre faço o meu dever de casa e eu nunca jogo lixo no chão.

Então por quê?

Só podia ser culpa da Sakura. Eu não tinha a menor ideia como, mas era única explicação.

Ou talvez tenha sido algo que eu fiz em alguma vida passada. Quer dizer, não que eu me lembre de nenhuma delas, mas até onde eu sei, eu posso ter sido o tipo de gente que come Kit Kat sem respeitar as delimitações sagradas das barrinhas.

Porque nada mais podia justificar o jeito que o Universo estava me tratando.

Eu sei, eu sei. Você tem o total direito de revirar seus olhos, o drama parece ter se apossado de mim hoje. Eu gosto de pensar que são os hormônios.

No momento em que entro na sala, a primeira coisa que meu cérebro processa não são as grandes janelas que preenchiam as paredes. Ou o quão absurdamente, e eu tenho certeza que desnecessariamente, grande o quadro era. Ou até mesmo que o garoto que encontramos no incidente do portão (como ficará conhecido pela eternidade) estava lá.

A primeiríssima coisa que eu noto meu caro amigo, é Sakura Haruno no chão.

Eu tenho certeza que você entende os meus motivos, uma cena dessas não é facilmente ignorada.

Ela havia terminado em uma posição que parecia, no mínimo, extremamente desconfortável e seus olhos verdes adquiriram um tom mais escuro, graças a sua confusão momentânea.

Antes que me desse conta, eu estava milímetros de me juntar a minha amiga, mesmo que por razões diferentes (sendo elas desequilíbrio e crise riso, respectivamente).

A segunda coisa que eu noto, tardiamente, é que há apenas duas cadeiras. E que elas não estavam nem um pouco perto uma da outra.

Minha cabeça começa a correr, tentando, e falhando miseravelmente, em achar uma solução que impedisse a nossa separação eminente.

A terceira (em caso de confusão, ler a lista acima) são olhares. Até esse instante, o fato de que estávamos em frente de uma turma inteira de adolescentes (as criaturas mais malignas conhecidas pelo homem) e não sozinhas, havia escapado completamente da minha mente.

Eu viro em direção a minha amiga, a minha querida companheira, com os olhos esperançosos e suplicantes para que possamos decidir o nosso plano de ação, pois aquele certamente não poderia ser o nosso fim.

Mas a única coisa que encontro é as costas do seu cabelo cor de rosa.

Sem despedidas, sorrisos envergonhados e pedidos de desculpas.

Eu fora abandonada.

Amizade era uma verdadeira benção.

Eu não sei quanto tempo eu fiquei parada ali. E eu provavelmente não gostaria de saber, porque eu tenho o pressentimento que minha vergonha apenas aumentaria.

O que eu sei é que, por mais que a minha mente não, meu corpo permanecia na realidade. O que provavelmente explicava o cutucão hesitante no meu ombro.

Eu não uma pessoa religiosa. Realmente, não sou. Mas em quanto eu virava lentamente para trás, eu rezei. Eu rezei para que eu estivesse imaginando tudo aquilo e que, na realidade, eu não estivesse em frente aos meus mais novos colegas de classe olhando para o nada como uma completa idiota.

Minhas orações não foram atendidas.

Ao invés disso, lá estava o professor de história, senhor Hatake suponho, me olhando como se eu fosse um ser de outro mundo.

Mas fique tranquilo, eu te garanto que a situação é bem pior do que parece.

Eu lanço um olhar para o fundo da sala, onde a minha amiga (será que eu deveria chama-la assim?) se encontrava. Contudo, eu não tenho a oportunidade de fulminá-la com a minha presença, já que a respectiva estava muita envolvida em uma conversa com o menino de cabelos escuros.

Depois. Eu vou matá-la depois.

Com as bochechas queimando, eu corro em direção ao único outro lugar disponível. Ao perceber que eu ainda era observada por alguns dos alunos, coloco meus cabelos na frente do meu rosto, numa pobre tentativa de me esconder.

− Gata, o seu pai é padeiro?

Eu levanto a minha cabeça em sobressalto, a procura dessa nova voz.

Na cadeira atrás de mim, um par de olhos escuros me encarava ansiosamente. O garoto tinha um sorriso malicioso em sua boca e seus cabelos castanhos rebeldes caiam em sua envolta da sua cara. Acho que ele era bonito, mas não tanto quanto o rapaz do laboratório.

Opa, opa, opa.

Quando foi que eu comecei comparar a ele com outros meninos?

Felizmente, eu sou salva de responder a essa pergunta.

− Não dê ouvidos a ele, Kiba não conhece o sentido da palavra autocontrole.

Olho para frente com o objetivo de enxergar o novo participante da conversa. Seu rosto era parcialmente escondido por o que parecia ser um óculo de sol (eu nem sabia que eles eram permitidos aqui), que contrastava drasticamente com a sua pele pálida. Ele lançou uma expressão severa para o outro.

− Qual é Shino! − Retruca − Você nem deu uma chance pra ela responder.

Esse se limitou a simplesmente suspirar pesadamente.

Kiba, eu imagino, voltou sua atenção para mim:

− Acho que deveríamos começar de novo. Sabe qual é a diferença entre você e um cubo mágico?

− Só uma curiosidade − Shino intervém novamente − Todas suas cantadas começam com perguntas?

− Eu não sei Shino, por que você não pergunta pra sua mãe?

E eu pensando que a Sakura e a Ino eram ruins.

Quando eu acreditei finalmente que tinha sido esquecida daquele diálogo e que poderia participar apenas como uma espectadora, aqueles olhos escuros recaem sobre mim mais uma vez:

− Posso pelo menos ter seu nome?

− Hã... É Hinata Hyūga.

− Prazer em te conhecer, Hinata.

Dessa vez, os dois sorriem amigavelmente para mim.

Hum, talvez o Universo não fosse tão ruim assim.

DesastreOnde histórias criam vida. Descubra agora