Raoz II

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Aurélie não seria tão assustadora se não estivesse no breu e com a lanterna apontada para seu rosto pálido, senti uma sensação estranha - ela parecia assustada. Suas olheiras estavam estranhamente destacadas, como uma versão bonita do bicho-papão.

-Aurélie! Que susto!

-Quem não deve não teme. O que faz aqui a esta hora? Você sabe que passeios noturnos não são permitidos, Oz.

-Certo. E você sabe que eu não consigo controlar minha fome, estou em fase de crescimento! Eu preciso consumir nutrientes necessários para me desenvolver com êxito, só aquelas sopas rotineiras que a Lucy faz não são suficientes e...

-RAOZ! - ela exclamou com a voz alterada.

-Aurélie, shiu! - repreendi o tom da fala - Por favor, não me entrega para a Isabel, você sabe que ela tiraria minhas sobremesas da escola! Você me conhece, eu não vivo sem meus docinhos! - implorei.

-Tudo bem, não vou contar que você violou a sexta regra. - ela disse, desta vez prestando atenção no volume da voz.

-Então, se não se importa, vou para a cozinha matar o que está me matando. - Ensaiei uma saída, mas a jovem revirou os olhos e estendeu a mão direita no meu peito, me impedindo de dar um passo sequer.

-Não vou contar porque você não vai violar tal regra.

-OQUE?!

-Eu vou pegar uma fruta para você, só para eu não me sentir culpada se por algum acaso você morrer de fome, mas nada mais que isto. Me espere aqui, já volto.

Aurélie deu meia volta e foi em direção à cozinha com sua lanterna.

-Calma, barriguinha, você já vai ser preenchida. Mesmo que seja só um pouco.

Sentei no último degrau da escada.
Aurélie também é boa, mas não tanto quanto Johan. Ela é gentil e bem brava quando quer, entretanto, segue fielmente as regras do Bonheur.
Sabe? Mesmo que muitas vezes eu me esqueça, tenho uma vida até que boa. Digo isso porque há, com certeza, pessoas em piores condições, não é? Eu deveria reconhecer isso.

É, definitivamente sim.

Meus pensamentos evaporaram como álcool quando ouvi um grito.

-Aurélie?! - Gritei, me levantando rápido.

-Raoz, o que faz aqui? - Johan disse, chegando rápido atrás de mim.

Alto, gordinho, loiro e olhos negros. Ele era a definição de uma imagem aconchegante. Só de perceber sua presença já me senti mais seguro.

-Eu vim comer, estava com fome. Cheguei aqui e encontrei a Aurélie. Ela disse que iria buscar algo para eu comer e foi para a cozinha, mas ouvi um grito e... - eu praticamente cuspi as palavras, mas Johan me cortou.

-Deixa, a gente conversa sobre isso amanhã. Você falou da Aurélie, onde está ela? Foi ela quem gritou? - ele pareceu preocupado.

-Não sei. Ela pediu para eu esperar ela aqui.

-Vem comigo, talvez ela tenha se machucado, vamos encontrá-la. Preciso da sua ajuda. Pode ser?

Eu assenti e saímos em busca dela. Onde está você, Aurélie?

Passamos nos três corredores principais, abrindo todas as quatro portas que cada um havia e nada.

-Johan, se ela estava indo para a cozinha, o que a gente está fazendo procurando ela pelos corredores?

-Eu tinha uma esperança de encontrar ela por aqui e acabei esquecendo deste fato. Como pude? - ele escondeu o rosto corado nas mãos.

-Não se cobre tanto, eu também me distraí. Vamos para lá, okay? Ela deve estar lá. Ela tem que estar lá. Foi até bom a gente passar por aqui, assim, temos certeza de que ninguém invadiu o prédio, pelo menos não por aqui.

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⏰ Última atualização: Jan 05, 2023 ⏰

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