Um passo

Mateus II

"Tá, ok, não estou pirando, não é possível! Há um segundo ou menos eu estava vasculhando o arbusto do vizinho e agora eu estou em... Uma floresta, QUE?
Eu sei que não faz sentido, acha que não pensei nisso? Que merda é essa que tá acontecendo?"-Conversar sozinho é uma coisa que eu faço desde sempre e acredite ou não, me ajuda. E muito.

Eu realmente estava em uma floresta. Bem alaranjada, por sinal, mas isso é a única coisa que faz sentido até porque estamos no outono, certo?

Primeiro, eu também não sabia como tinha chegado ali tão rápido, então o que eu fiz assim que lembrei que deveria fazer alguma coisa se não quisesse ficar ali até morrer, foi olhar as horas. Eu queria ter certeza que não tinha sido raptado. Mas as horas estavam coincidindo, eu realmente estava, há um minuto atrás, na rua de casa.
Okay, eu precisava realmente sair dali, e rápido. Se não estivesse acontecendo comigo, eu não acreditaria, nem ferrando.

O que você faria se aparecesse de uma hora (na verdade de um minuto) pra outra numa floresta totalmente desconhecida?
Provavelmente tentaria achar o norte e seguir, ou tentaria construir um abrigo com algum recurso ou procurar comida, mas eu escolhi, [in]felizmente, seguir por aí sem rumo gritando que nem um doido à procura de alguém. Para todo lado que eu olhava, uma cor prevalecia. Adivinha qual? Acertou. Verde. Era verde por pelo menos uns 90.000 metros quadrados, não é possível!

Tentando gritar por alguém, saí andando e tropecei em algo. Claro, óbvio! Minha vida já estava andando como num filme (de terror) e pra piorar eu tropeço, o que vai acontecer agora? Eu vou levantar e ter que ajudar alguma menina a juntar seus livros, me apaixonar e depois me casar com ela?

Fiquei pelo menos uns dois minutos ali jogado no chão até resolver realmente levantar e tomar um rumo na minha vida.

Levantei, e andei mais um tempo. Após muitas gotas de suor aprisionadas na minha blusa azul, eu parei um minuto para recuperar meu fôlego. Foi nessa tentativa de me acalmar um pouco que eu vi de novo aquele brilho estranho, mas desta vez, bem mais intenso, numa moita que estava bem perto de mim.

Liguei os pontos. Será que realmente era minha migalha de magia que eu tanto esperei?

Eu fiquei paralisado por segundos até me lembrar que aquele brilho era o motivo de eu estar ali, naquele lugar. Então, provavelmente, era através dele que eu voltaria para casa.

Tentei de todas as formas remexer ali igual fiz da última vez, na expectativa de voltar imediatamente para minha cidade. Ou país. Ou continente.

Qualquer lugar que não seja uma floresta.

Minha mãe provavelmente estaria bem preocupada, já que não cheguei em casa no horário em que costumava chegar.
Depois de tentar sem sucesso usar aquele brilho por algumas vezes, perdi um pouco de esperança. Quando estava no arbusto do vizinho, tinha sido bem mais fácil.

-Vou tentar uma última vez.-mais uma vez eu conversando sozinho (ou não).

Mexi, remexi e adivinha?
Falhou.
Em parte, mas falhou.
Eu consegui realmente sair daquela mata densa.
Mas eu não estava em casa.
Ou pelo menos achava que não.
Na verdade, eu não sabia. Estava um breu danado, eu saí à procura de um interruptor ou algo que me desse pelo menos um feixe de luz, eu realmente não estava enxergando nada. Tomando cuidado em onde fixava o pé e sem conseguir encostar minha mão em nenhum lugar (o que era bem estranho), eu fiquei 10 minutos (deduzidos por mim) ali.

-Dentre muitos você foi escolhido por realmente acreditar em tudo o que não podia ver mais sentia.
Dentre muitos você foi escolhido pelo desejo de respostas e tamanha serventia.
Mesmo sofrendo continuou a lutar,
Mesmo sem provas, ainda conseguia acreditar.
Se muitos petulante contigo foram,
E poucos foram os que se disporam,
Saiba que conosco pelo menos essa vez pode contar,
E um de seus desejos vamos realizar.
Essa escolha foi decidida em votação,
Esperemos que goste do fundo de seu coração.
Queremos uma amostra de magia te proporcionar,
Para o bem ou para o mal podes usar.
Essa pequena quantia pode dar vida ou retirar,
Mas com as consequências deverá lidar.
Se usada para o bem, as consequências boas serão.
Se usada para o mal, sua prisão será seu coração.
Cuidado com o rancor e possível arrependimento,
Ou sua vida provavelmente será tomada de sofrimento.
Se aguentar o seu fardo carregar,
Sua vida vai normalizar.
Assim que decidir seu pedido,
Se fizer corretamente o processo, lhe será concedido.
Quando em seu pedido pensar,
Sua mão direita, à meia-altura deve colocar,
Sua cabeça deve levantar,
E seu corpo deve reto estar.
Quando tiver certeza absoluta,
Um passo deverá andar
Somente um para que funcione,
Se quiser que dê errado, mais um passo adicione.
Assim que concluir,
Esse pensamento da sua mente deverá excluir,
E dali pra frente começará sua luta
Com o bem ou com o mal
Você saberá no final.