Estava tudo perfeito: eu no topo do vulcão Orizaba maravilhada com a primorosa vista que aquele lugar fornecia. Ali, no topo daquela montanha, eu me sentia mais enérgica do que nunca. Mas eu sabia que quando descesse daquele lugar, voltaria a ser a mesma Mariana débil que sempre fui. Eu não queria pensar nisso, não ali, não com ele. ELE estava comigo. Pedro estava comigo. Com aqueles cabelos quase tão brancos quanto a neve que estava abaixo de nossos pés, e aqueles olhos tão negros quanto as madeiras queimando na nossa frente, na falha tentativa de aquecer nossos corpos. Tudo estava cooperando: o frio do inverno, Pedro do meu lado, eu visitando um dos lugares que mais tinha vontade de conhecer, longe de qualquer mal que me rodeava lá embaixo.
Eu já achava no fundo do meu coração que era impossível aquele momento ser mais sublime, e então Pedro, que estava à minha esquerda, me puxa pela cintura, fazendo eu me aproximar (de um jeito quase que constrangedor) de seu rosto. Olhou no fundo de meus olhos, me forçando a fazer o mesmo. Era incrível, até nessa mínima distância entre nós, eu não conseguia distinguir em seus olhos o que era íris e o que era pupila. Eu já conseguia sentir sua respiração, que me esquentava dificilmente.
Pedro começou a se aproximar mais, e quando ele ia finalmente quebrar os milímetros que separavam nossos lábios..."TRIIIIIIIIIIM!"
-Ah pronto, então quer dizer que eu perdi minha vida pro clichê? Sério, não tem condições. Como se não bastasse não poder beijar o gato do Pedro na vida real, nem nos sonhos eu posso mais?-Acordei falando alto e sequentemente ouvindo minha mãe rabujar do lado de fora do meu quarto.
-Mariana! Pare agora de gritar! Você não tem respeito pelo seu pai? Ele acabou de chegar do trabalho. Você poderia muito bem entender isso. Já está bem grandinha. Deixa ele descansar.
-Não ligo se ele acabou de chegar, por mim esse homem morreu. Aliás, e o respeito que ele deveria ter por você? Onde ele colocou? Por que se eu me lembre bem, quem tem respeito não trai.
-Mariana, para de pirraça, você é muito nova pra se meter nesse tipo de problema entre eu e seu pai.
-Não foi a senhora mesmo que há 1 minuto atrás tinha falado que já sou grandinha? Com 16 anos a gente sabe muito bem distinguir o que é certo e o que é errado. Esse homem só vai me bancar enquanto eu não tiver condição para fazer isto sozinha. Eu não sei se sinto nojo dele por te trair ou desprezo pela senhora que perdoou. Quem trai uma vez, trai duas e depois três, mamãe.-Levantei da minha cama, fui para o banheiro. Eu dormia em uma suíte,consequência: essa passagem foi rápida.
Eu precisava de um lugar pra desabar, e não podia ser na frente dela.
Minha mãe sofreu muito com o meu pai. Ela sempre deu o melhor de si, mas o meu pai não gostava muito de ser recíproco.
Minha mãe arrastava o mundo inteiro se fosse preciso só para ver esse homem feliz, mas ele não arrastava nem um município.
Ele fala que ama ela, compra flores, pede perdão, e quando a gente acha que ele mudou, volta a ser o mesmo babaca e petulante de sempre. Eu já percebi o joguinho dele, e se você estivesse aqui, também perceberia.
O problema é que minha mãe sempre diz:"Ele mudou, filha. Nossa vida vai ser diferente agora."
e no final, sempre sofre.
Lúcio Ferreira, o meu pai, é daquele tipo de homem que é super importante no trabalho, mas que não recebe tão bem assim;
Que parece ser mais doce que um pirulito de criança, mas em casa é mais amargo que chocolate belga.
Ele não ajuda minha mãe em nada.Ela arruma a casa, mantém tudo em ordem, cuidou de mim, me deu carinho e me ensinou tudo o que eu sei hoje, enquanto meu pai só paga tudo. Minha mãe da 100% de carinho e recebe uns 5%. Meu pai é um ogro.

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Um passo
ContoVocê acredita em magia? Se pudesse usá-la em seu favor, Seja para o bem ou não, Como você usaria? Esse livro é um compilado de contos curtos, sobre pessoas distintas mas que de uma forma acabaram se interligando. Aposte na ideia, mergulhe de cabeç...