☆ 03 | Péssimas influências

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Arca – Pátio da Árvore

Ano de 2147 (11 meses e vinte um dias antes de Telonious Jaha ser baleado)


O Pátio da Árvore estava lotado.

O tumulto para entrar era tão grande, que Skandar segurou firme na mão de Blaze, e só soltou quando os dois adentraram o salão. O lugar nada mais era que um corredor comprido e largo, com uma árvore enorme em uma das extremidades. Quem diria que a muda de cerejeira trazida da Terra se tornaria uma árvore tão bela no espaço. Blaze não tinha ideia em como os agricultores da Farm Station faziam aquilo, mas uma coisa era certa, o Pátio da Árvore era o ponto mais lindo da Arca, uma das únicas provas de que a vida na Terra realmente fora real.

Além da árvore, também havia um longo tapete vermelho cruzando o pátio, onde o desfile iria passar; naquele momento, era impossível vê-lo por conta da multidão ao redor.

— Não consigo encontrá-los — disse Blaze, varrendo o local enquanto Skandar a conduzia entre o aglomerado de gente.

— Encontramos eles depois — falou Skandar, a voz abafada pelo som da multidão — O desfile vai começar.

Os dois não conseguiram um ponto próximo ao tapete vermelho, de modo que a única vista que Blaze tinha era das costas de um homem e sua esposa. Skandar, sendo mais alto que a garota, conseguiria ver o desfile de cima.

— Posso colocar você nos meus ombros — sugeriu ele, um sorriso ladino brotando dos lábios.

Blaze soltou um riso nasalado e balançou a cabeça, em reprovação.

— Não, obrigada. E não acho que você seja forte o suficiente também. — completou com um sorrisinho zombeteiro.

Skandar semicerrou os olhos, fingindo estar ofendido, mas antes que pudesse retorquir, o som imponente de um trompete o interrompeu. O silêncio dominou a multidão e a música instrumental vinda dos autos falantes indicou que o desfile começaria. Como sempre, a trilha sonora era iniciada por "Carruagem de Fogo" e depois seguiam outros arranjos que Blaze nunca lembrava o nome. Apesar de não conseguir enxergar nada, a garota saberia dizer com precisão o que estaria acontecendo naquele tapete vermelho. O desfile sempre começava com a entrada das bandeiras de cada estação, iniciando pela Alpha e terminando pela Factory.

Skandar anunciou para Blaze o momento em que Sinclair entrou no tapete e sequer esperou a permissão da garota para erguê-la pela cintura. Ela pôde ver o pai balançando a bandeira da Mecha Station, a postura retilínea e o olhar concentrado mostravam que ele levava o trabalho a sério. Blaze não conseguiu deixar de sorrir, mas sua alegria sendo logo interrompida pelas reclamações de pessoas ao redor.

"Volte para o chão!", "Você está bloqueando o desfile!", "Coloque a garota no chão ou eu chamo os guardas".

Uma vez no chão, Blaze voltou a encarar a parede de pessoas à sua frente, por vezes perguntando para Skandar sobre quem estava entrando no tapete vermelho. Quando a música mudou, a garota sabia que o desfile continuaria com as crianças. Doze pessoinhas de meio metro entravam, uma por uma, segurando a bandeira de um país. Quando todas se reuniam embaixo da árvore, outra criança aparecia e recitava a história de como as doze nações se reuniram no espaço, 96 anos atrás.

— Há muito tempo, com a Terra em chamas, 12 estações flutuavam no espaço, separadas. Mas um dia, a Mir passou pela Shenzhen e perceberam que a vida seria melhor juntas. As outras estações viram isso e também quiseram se juntar. Quando todas se uniram, elas se chamaram de... a Arca.

Blaze | Monty GreenOnde histórias criam vida. Descubra agora