CAPÍTULO III

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Era quase meia noite e Merlya andava pela floresta Canopus, o arco sempre em punho e uma espada embanhada nas costas, várias adagas posicionadas em lugares estratégicos na roupa de couro, recém comprada pela irmã. Já fazia mais de três horas que andava pela floresta, a procura do som, da música. Não havia nada ali, estava louca.

Merlya acordou certa noite incomodada, talvez fosse apenas um sonho perturbador e, acreditaria nisso se não tivesse escutado a tal melodia enquanto estava acordada. O burburinho das folhas se misturou a voz cantada e ecoou em seus ouvidos, como um chamado. Merlya perguntou se Amy ouvira a mesma coisa, durante o dia ou a noite, ninguém nunca ouvia nada.

Merlya tentou novamente. Adentrou mais na floresta de árvores azuis. Nada. Nenhuma voz. E nenhuma besta, era quase um milagre entrar na floresta Canopus e não encarar nenhuma besta feroz com sede de sangue.

Talvez estivesse com sorte, ou talvez muito azar.

Talvez realmente estivesse louca.

Merlya guardou a flecha e acomodou o arco sobre o ombro antes de voltar para o oeste, para a saída da floresta. Quando chegou à Arena, Merlya percebeu o quanto aquele lugar se tornava escuro e frio a noite. Ela pôs uma capa, cobriu a cabeça com o capuz pesado e foi para casa.

•●•

Merlya chegou em casa e jogou todas as armas em cima da mesa da cozinha. Lavou as mãos e pegou uma maçã.

- Ei! Que modos são esses? - Amy perguntou - Não se põe armas sobre a mesa.

- Olá irmã.

- Não seja insolente. Retire as armas agora e vá se lavar, parece que deitou com os porcos.

Merlya realmente não estava muito cheirosa, mas duvidava que fedia tanto quanto a irmã alegava, mesmo assim ela mordeu a maçã para segurá-la entre os dentes e com as mãos livres retirou as armas da mesa e jogou no canto da sala.

- Não esqueça de se lavar. - Amy era sua irmã mais velha, quatorze anos mais velha e fora criada em Starlight, um lugar bem diferente de onde Merlya cresceu.

Amy tentou ao máximo ensinar aos irmãos as práticas e os costumes de Starlight. Os ensinou sobre a hierarquia dos lordes, as histórias dos reis, e às lendas de Starlight. Mas assim como Merlya, Amy também foi obrigada a se adaptar ao país dos soldados.

Vitória, o país ao sul de Constillatio acolhia refugiados e desmerecidos de méritos, treinava jovens para que um dia fizesse parte da guarda de Starlight ou do exército do rei em uma guerra.

Todos os países de Constillatio pertenciam a Starlight, e respeitavam as normas e às leis do país das estrelas. O rei de Starlight passou gerações para conquistar todos os países, de um por um, mas enfim, quando o rei Paul Jay Alexandre Robbins conquistou duas das três lâminas do poder e duas das três pedras de obsidiana, extinguiu grande parte da magia de Constillatio, obrigando o povo a viver como humanos.

A pedra e a lâmina restante nunca foram encontrados e anciãos e bruxas contam que sua magia está, de alguma forma, adormecido, o que permite que o mundo tenha acesso apenas um filete de magia em pequenas coisas.

A floresta Canopus é um filete de magia vivo, suas árvores de tronco azul e folhas cor de ouro são um presente da última pedra de obsidiana e da última lâmina do poder jamais encontradas.

•●•

- Pode me dizer onde estava? - Amy trazia um copo de leite quente para Merlya.

- Em Canopus. - Merlya pegou o copo de leite.

- O quê? - Amy arqueou as sobrancelhas - O que eu tenho que fazer para você parar de se pôr em perigo?

- Eu estava armada, e não estava em perigo.

Amy começou a andar de um lado para o outro do quarto enquanto Merlya bebericava o leite.

- Sabe que em Canopus tem bestas, não sabe?

- Claro que sei.

- Sabe também que elas são grandes e atacam para matar, não sabe? - interrompeu Amy.

- Sei.

- Então porque ainda se põe em perigo?

Merlya suspirou. Não sabia ainda como explicar que algo lhe chamava, através de uma voz que ecoava apenas para ela, e estava disposta a andar em todas as direções até acabar com aquele barulho insuportável de uma voz extremamente afinada e uma melodia hipnotizante.

- Prometo não ir mais. - E foi tudo que disse.

Merlya foi vencida pelo cansaço e Amy dormiu logo depois.

•●•

Naquela mesma madrugada, mais tarde, Merlya foi acordada pela mesma melodia, a voz que a chamava. Colocou o travesseiro sobre os ouvidos, mas a voz parecia ecoar dentro da sua cabeça. Fechou com força os olhos, mas a voz retirara seu sono. Só lhe restava acordar e observar o sol nascer pela janela do quarto.

O céu começou a ficar azul claro, surgiram tons de laranja, vermelho e roxo e, quando a primeira ponta do sol surgiu, alguém bateu à porta.

O céu começou a ficar azul claro, surgiram tons de laranja, vermelho e roxo e, quando a primeira ponta do sol surgiu, alguém bateu à porta

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