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PoV. Harry

A adaga escorregou da minha mão e bateu no chão com um som estrondoso.

Dei passos atrapalhados para o lado, contornando a menininha que me observava em silêncio.

— Isso... - minha voz saiu entrecortada, eu estava sem fôlego - Ele não está em mim. Não pode estar.

A fantasma riu.

Mas eu não achava graça. Não era engraçado.

Minha mente voltou para o início de tudo isso. No Halloween. Não tinha como. Eu estava treinando para ser Caçador.

Minhas costas atingiram uma coluna de pedra e eu arfei.

Me lembrei do dia que visitei Niall: Mas por que o Azazel iria querer matar o H-, Horan tinha perguntado, mas eu o interrompi. Na hora preocupado com suas mãos queimadas.

Lembrei de Louis na varanda da minha casa: Josh captou um alerta na sua casa. Tem um fugitivo aqui.

Escorreguei para o chão, os joelhos dobrados, tremendo como uma folha seca jogada numa tempestade. Não podia ser.

Então a decisão de vir sozinho nesse ateliê não tinha sido minha?

— Harry. - dessa vez a voz era masculina.

Vinha da direita, carregada pelo ar como se outras milhões de vozes falassem ao mesmo tempo.

Meu pescoço travou, se recusando a olhar para o lado. Ouvi seus passos pesados se aproximarem.

— Me deixe entrar. - ele sussurrou de trás da coluna que eu estava.

Meus olhos se encheram de lágrimas. O frio ficando esquecido. Tudo que tomava minha mente era o medo. O pavor subindo por meu peito, se agarrando ao meu cérebro.

Aquela presença estava ali, mas eu a sentia dentro da minha cabeça. Rastejando na escuridão. Um dragão que ficou adormecido e agora se levantava, faminto e com desejo de sangue.

— Vá se ferrar. - vociferei.

Eu estava sentado no chão. A poeira sujando minha roupa, minhas costas na coluna. Sentindo a presença do Nogtisune atrás de mim, rodeando, lenta.

— Eu tenho coisas a fazer, sabe? - ele falou, voz rouca tremendo meus ossos - Seus dias acabaram. Agora é a minha vez de andar por aí. E você vai deixar.

Bati a cabeça na coluna e fechei os olhos com força, me recusando a ver o mundo, me recusando a acreditar na realidade. As lágrimas desceram com força.

Essa coisa estava em mim esse tempo todo. Me senti sujo, violado e acima de tudo culpado.

— Vá. Se. Ferrar. - vociferei cada palavra.

Senti ele parar em minha frente, seu rosto se inclinando para perto do meu. Apertei mais os olhos, bem fechado. Eu não queria vê-lo. Não queria encarar o horror.

— Maggie, - ele chamou, o hálito de sangue contra meu rosto - traga nosso pacotinho especial.

Ele se afastou, voltando para trás do pilar.

Senti o frio acompanhar a fantasma até o segundo andar. Ela desceu a escada carregando alguém.

Abri os olhos, aflito.

— Niall... - sussurrei.

Niall Horan, de cabelo loiro bagunçado, rosto molhado de lágrimas e pulsos amarrados, me encarou em completo terror.

— Harry! - gritou - Não escuta ele! Qualquer coisa que ele disser-

— Cala a boca dele! - o Nogtisune ordenou.

A menina, que tinha mais força do que aparentava, jogou Niall no chão e se assomou acima dele. De repente seu rosto angelical e infantil se esticou como um esqueleto coberto por carne espedaçada. Suas unhas cresceram como garras e ela as enfiou com força no peito de Niall.

O garoto gritou, seu peito começando a fumegar, os olhos azuis ficando cinzentos.

— NÃO! - berrei - PARA!

— O que todo munto tem... - o Nogtisune se aproximou da minha orelha - mas ninguém perde?

Continuei encarando Niall.

— Deixa ele em paz, por favor... - pedi num soluço agonizante.

— O que todo mundo tem, mas ninguém perde! - a Raposa berrou na minha cabeça.

Tapei os ouvidos, tremendo de medo.

— SOMBRA! - gritei.

Então eu entendi.

Fui virando devagar e olhei para o Nogtisune.

Era eu. Com os joelhos um pouco dobrados, inclinado para mim. Havia sombra ao redor dos seus olhos. Mais parecido comigo de luto, do que qualquer coisa.

— Me deixa entrar, Harry. - ele mandou, a voz não era minha. E isso foi a única coisa que me ajudou a não aceitar por completo que ele era eu. Era uma Raposa, sendo ardilosa ao usar meu rosto - Você quer que ele saia daqui vivo?

— Por favor... - sussurrei.

— Se me deixar entrar, eu deixo ele ir.

A garota enfiou mais fundo a mão. O peito de Niall convulsionou e sua boca abriu num berro mudo, a pele começando a ficar cinza.

— NÃO!  - berrei - SOLTA ELE! NIALL!

Fui tentar levantar, um surto de adrenalina para salvá-lo. Mas o Nogtisune entrou na minha frente. A força dez vezes maior que a minha, me empurrou para o chão e me segurou ali.

— ME DEIXA ENTRAR! - urrou contra meu rosto.

Meu choro agora não passava de um sussurro num corpo exausto. Eu estava exausto.

— Harry... - ouvi Niall chamar baixinho - não...

Ergui o olhar para ele. A fantasma se afastando, seu peito voltando ao normal.

— Eu sinto muito... - sussurrei.

As forças deixaram meu corpo. E eu desisti. Tudo ficou escuro depois disso.

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