Capítulo 1

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Eu preciso de alguns, talvez, quinze minutos. Seria tempo suficiente para voltar em casa, deixar a minha bicicleta que quebrou a corrente e pegar um ônibus até a padaria para levar os pães fresquinhos que tenho na bolsa.

O mais provável é que eu não consiga. É um horário muito estreito. Se eu não tivesse tentado alcançar a padaria empurrando a bicicleta a pé, talvez desse tempo. Mas agora, se tiver sorte, não vou me atrasar. E em hipótese alguma posso me atrasar para o meu segundo trabalho. Afinal, é o que paga minhas contas. É o fixo.

Na segunda parte da manhã, em Manhattan, presto serviços na área da limpeza em um prédio que reúne os empresários mais bem sucedidos de toda Nova Iorque. Eu disse toda. São pessoas muito ricas e arrogantes. Autoritárias de um modo soberbo. Não precisa existir um motivo para que um funcionário seja colocado em um lugar indigno de até mesmo um lixo. O mais viável é que se desvie do caminho de qualquer um que ali esteja.

Eu poderia reclamar e me maldizer que estou em uma situação que não é das melhores. Sou um homem de 25 anos, com um pai morto e uma mãe que sumiu quando eu era pequeno; não tenho irmãos ou algum parente; também não sou o mais inteligente, porque não gostava muito da escola; moro sozinho no Queens, na casa em que meu pai me criou; não tenho namorada, porque também não sou o mais bonito. E eu poderia continuar dizendo o fracasso que parece ser a minha vida.

Mas me abstenho disso para poder conferir as horas. Se passaram dezessete minutos desde que me arrastei com a bicicleta, agora, inútil; o que me deixa em desvantagem.

Vai ser mais perto empurrá-la até a estação de trem, sendo exatamente o que faço.

O tempo para me deslocar da estação até o prédio da OpenBusiness, onde trabalho, é suficiente para que eu sinta o suor me cobrir. Estou com a bolsa de lado – contendo os pães que não foram entregues como toda manhã –, empurrando a bicicleta, a roupa colada ao corpo e uma fome de um rebanho. Solto baforadas pela boca, por causa da dificuldade do percurso. Já tive dias melhores, evidentemente. Isso é fácil de notar.

Paro de repente diante da entrada envidraçada do prédio extenso, reparando que não há um lugar próximo para que eu deixe a bicicleta. A única vez em que a trouxe para o trabalho por precisão, porque estava sem dinheiro para comprar o ticket do trem então tive que vir nela; consegui deixá-la no estacionamento do subsolo. Isso só porque eu "conhecia" um dos guardas e ele me prestou essa gentileza. Mas ele não trabalha mais aqui e não conheço outro alguém.

Porque tem uma coisa interessante sobre os funcionários do Open. E isso é provável que seja por causa do ambiente em que passamos tantas horas do nosso dia, que acaba nos afetando, mas há muita inimizade. Ninguém consegue ser muito cortês com ninguém porta adentro. Existem algumas panelinhas, que se reúnem para sair juntos e etc. E eu não me incluo em nenhuma delas. Não sei se o problema é em mim ou neles. Não agrado ninguém ali de dentro, e não é por falta de tentativa.

Abaixo a cabeça para olhar a bicicleta. Estou pensando na hipótese de ter que abandoná-la aqui. Parece ser a única opção que consigo pensar. Não tenho muito tempo para arquitetar algo melhor. Então, ajeito a bolsa para conseguir empurrar a bike para um lugar menos visível. Estou sorrindo porque não existe esse lugar. São frentes de edifícios empresariais por quase toda a avenida.

— Você é um idiota, Aaron — caçoo de mim mesmo com um riso enquanto deixo-a encostada em uma coluna, olhando-a pela provável última vez.

Mas é algo material. E tudo que é material, a gente consegue substituir. Apego não é comigo.

Bagunço os cabelos e ganho meu rumo.

Todo dia uma sensação nova me invade quando passo por essas portas. As do Open. O saudar que tento dar para as pessoas dentro do elevador nunca é respondido. Isto sendo o elevador de funcionários. Pensa só, se não é até mesmo engraçado. Estamos no mesmo nível, somos todos empregados de gente miserável em espírito, e ainda assim há seletividade.

Eu quase, quase realmente, desisti do mundo.

Assim sendo, quando as portas se abrem no quarto andar, que é vazio para a limpeza nesta parte da manhã, eu sigo diretamente para a sala de funcionários.

É a sala mais resguardada do andar. Fica ao fundo de toda a extensão do corredor, separada das paredes dos escritórios, e é fechada após as dez da manhã – que é o momento em que os soberanos chegam e que nem brincando estejamos mais aqui.

— Bom dia — eu cumprimento a quem encontro assim que abro a porta.

As duas mulheres presentes estão conversando entre si e ao menos me olham. Eu não faço caso. Até aqui, tudo normal.

Vou ao meu armário, troco a blusa pelo macacão do uniforme e seco o rosto com a mesma camisa. Jogo tudo dentro e volto a fechá-lo.

Estou indo em direção ao armário de limpeza buscar meu material de todo dia, quando gritos me fazem parar. As mulheres também cessam a conversa de repente, e agora somos três olhando em direção a porta que dá acesso ao corredor de salas.

Duas pessoas acabam de deixar o elevador no início do corredor. Os gritos são de uma mulher. Ela está incontrolável durante a tentativa do homem de acalmá-la. Pressuponho que ele a trouxe para este andar certo de que não haveria ninguém para testemunhar da cena. Ledo engano, as más línguas residem exatamente no andar dos funcionários.

Quase rio por isso. As pessoas ricas ainda conseguem encontrar motivos para brigar. Fico impressionado. Deve ser divertido reclamar tendo muito dinheiro.

O desenrolar do acontecimento termina com o homem virando de costas e entrando no elevador, deixando a mulher sozinha. As minhas companheiras na sala começam a cochichar entre si.

Minha única preocupação é voltar à minha bolsa, pegar meu cartão e bater o ponto, que ia quase me esquecendo.

E quando deixo a sala dos funcionários, equipado com luvas e o carrinho da limpeza, percebo que hoje é o primeiro dia em que tem alguém no quarto andar que não seja funcionário.

A mulher de pé perto do elevador está de cabeça baixa e deve estar pensando sobre a atitude de ter sido deixada para trás.

Deve ser péssimo ser contrariada uma vez na vida.






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Ai, que saudade!!! ❤️❤️❤️

Dia 1, socorro

Feliz ano novo, amoress 🌟

Que Deus nos help em mais um ano

Boa tarde com dor nas costas de dormir no sofá jkkj <3

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