Capítulo 6

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Foi um dia muito do tempestuoso, no bom sentido. Nada do que planejei saiu como o esperado. Não consegui vender os pães doces com recheio de queijo – uma especialidade minha – para a padaria; minha bicicleta deu problema e foi roubada; conheci uma mulher magnífica; fui chamado para tomar um café com ela em uma região nobre; e até andamos um pouco juntos pela rua.

E agora, deitado e refletindo sobre isso, entendo que ter saído um instante sequer da minha realidade de costume, me fez um certo bem. Eu me sinto com vontade de sorrir para alguém. Por alguém. É uma sensação gostosa, da qual eu já não me lembrava mais.

Será que ela chegou bem em casa? Eu me vejo necessitado dessa resposta. Me viro na cama para alcançar a cabeceira e pegar meu celular. Vasculho no menu para achar as chamadas, realizando a ligação.

Trago o aparelho ao ouvido, aguardando.

A janela do meu quarto está sem cortinas, o que me possibilita ver a Lua, e também traz um pouco da sua luz para dentro do cômodo. O contraste do brilho com a escuridão da noite é esplêndido, aconchegante e traz paz.

É o quinto toque quando a voz invade meus ouvidos [e sentidos]:

Oi, Aaron — Lili está ofegante.

Meu sorriso é instantâneo.

— Você salvou meu número — observo, olhando o escurecer além da janela, algo familiar sobre isso dentro de mim. — Liguei para saber se você chegou bem…

Eu cheguei. Cheguei, sim — ela dá uma risadinha. — Acabei de dar uma exercitada e estava indo para o banho… Quase perco sua ligação.

— Para o banho? — pergunto, impensável.

Isso é informação demais, Lili. Quero dizer, mas não digo. Ao contrário, tento afastar a imagem de vê-la indo para o banho com seu corpo curvilíneo e com seu andar hipnótico. Concluo que deve ser uma tentação.

Sim — seu pigarreio é quase um suspiro. — Você demorou a chegar?

— Não, foi rápido — mudo de posição na cama, me condenando por ter tido a péssima ideia de ligar para saber que ela estava indo para o banho, e eu a atrapalhei. O que me faria sentir alguma satisfação, se a interrupção fosse por outro motivo, que é impossível ao meu alcance. — É… Lili, eu preciso desligar. Só queria saber mesmo se você tinha chegado bem.

Está certo — sua voz vem baixinha, parecendo desanimada. — Boa noite, Aaron. E obrigada por ter vindo… E, ah, por ter ligado.

— Sempre que precisar — Não sei por qual motivo digo isso, mas digo. — Boa noite, Lili.

E a percepção de quem encerra a chamada primeiro, me passa despercebida, pois minha mente está em outro lugar, em outro momento… em se realidade fosse uma outra hipótese.




***



Está uma bela manhã para não ter que sair de casa. Um vento tenebroso soprou por todo o caminho que tive que fazer até me encontrar no prédio da Open. Sem o auxílio da bicicleta, fiquei sentido sobre fazer os pães para levar à padaria hoje e entregar; então pude dormir até um pouco mais tarde.

Dormir. Quem consegue dormir quando se está com Lili na cabeça? Ou sua voz? Seu jeito de falar e soltar risadinhas que escondem bem a sua verdadeira vontade de rir com tudo?

Sou puxado do pensar com um empurrão no ombro quando já estou prestes a ultrapassar as portas de entrada do prédio. O homem que esbarrou em mim, ergue as mãos, como em sinal de desculpa, dando um passo para trás.

À Prova do Amor #1 (NA AMAZON)Onde histórias criam vida. Descubra agora