Prólogo

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1997, Portland, Oregon

— Anahí, espera! — Poncho corria atrás dela, com lágrimas escorrendo pelo rosto de tanto rir. Anahí era sua melhor amiga, mas só no coração dele. Na vida real, ela o odiava, e ele não sabia por quê. Aos 8 anos, fazia o possível para mostrar que gostava dela, mas Annie sempre terminava magoada.

As meninas eram bobas.

Seu irmão mais novo, Ian, finalmente os alcançou.

— Por que você fez isso, Poncho? — E o empurrou para o lado.

A língua de Alfonso de repente pareceu grossa na boca. Queria explicar os motivos para
fazer Anahí tropeçar, queria mesmo, mas as palavras não saíam. Ele odiava gaguejar. Era tão difícil falar assim, e isso só acontecia quando ele estava se esforçando demais ou na frente de Annie.

— Argh! — Ian chutou a terra. — Agora ela nem vai me beijar!

— Beijar você? — exclamou Alfonso, horrorizado só em ouvir o irmão falar a palavra beijar, quanto mais pensar em fazer uma coisa dessas com Anahí. Além do mais, por que o irmão de 6 anos de idade beijaria antes dele? — Ela nem gosta de você desse jeito. — E cruzou os braços.

Alfonso pelo menos sabia disso — meninas não gostam de meninos. Elas gostam de homens, e ele estava perto de se tornar um homem. Na verdade, tinha acabado de encontrar um pelo no queixo. Provavelmente começaria a se barbear até o fim da semana. Inflou o peito e olhou de cara feia para o irmão.

— Ah, é? Bem, ela te odeia. — Ian mostrou a língua. — Ela me disse isso, e... — Colocou as mãos nos bolsos e respirou fundo. — Eu vou casar com ela.

— Vai nada!

— Vou, sim!

— Vai nada! — Alfonso empurrou o irmão, que caiu no chão. — Eu sou maior. Ela vai
casar comigo.

Ian mostrou a língua e limpou a sujeira da calça.

— Quer apostar?

— Quero! — zombou Alfonso. — Aposto. Um milhão de dólares!

— Ótimo! — Ian cuspiu na mão e a estendeu. — Aperta aqui. Juramento de sangue.

— Mas não tem sangue — observou Alfonso.

— Dã! A mamãe mataria a gente se tivesse sangue. Vale do mesmo jeito. A Annie que
disse.

— Ótimo. — Alfonso cuspiu na mão e bateu na mão do irmão.

Ian fez uma careta.

— Que nojo.

— Vê se cresce. — Alfonso revirou os olhos e procurou Anahí no quintal. Não queria ter
feito com que ela tropeçasse. Bem, na verdade, queria, mas tinha um bom motivo para isso.

Ele sabia que Annie adorava histórias de princesas. Ela falava de como as meninas
devem ser tratadas como princesas e os meninos devem ser príncipes. Mas como ele poderia ser um príncipe se não havia dragões para matar? Como poderia provar seu valor se não havia monstros?

O bom é que ele era o garoto mais esperto da turma. Sabia exatamente o que fazer. Tudo
que precisava era causar o problema e depois salvá-la.

Primeiro, ateou fogo na boneca dela, mas isso não funcionou conforme o planejado. Na
verdade, a boneca agora estava na lata de lixo. Como ele poderia adivinhar que o extintor de incêndio não estava funcionando?

Depois, colocou uma cobra no saco de dormir de Anahí. Quando ela acordou gritando, ele correu para agarrar a cobra, mas não conseguiu encontrar o bicho. Ian o entregou, e Annie ficou com tanta raiva que chorou.

Na última tentativa de impressioná-la, amarrou os cadarços dela para ela cair, depois se ajoelhou para ajudá-la. Mas ela estava tão irritada que deu um tapa nas mãos dele para afastá-las, arrancou os sapatos e saiu correndo chorando.

Me nina s.

Ele nunca as entenderia. Afinal, ele estava tentando ajudá-la o tempo todo. E o tempo todo ela o afastava mais. Isso só significava uma coisa. Para ganhar a aposta, ele teria que se esforçar mais. E sabia exatamente o que fazer.

— Ei, Ian? Sabe onde tem pedras?

ESTREIA, SEXTA-FEIRA, 08/01

O que ficou pra trás Onde histórias criam vida. Descubra agora