Capítulo Oito

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Ian não conseguiu evitar o sentimento de desconfiança quando olhou de Alfonso para Anahí e de novo para Alfonso. Naturalmente, ele não era do tipo desconfiado nem ciumento, pelo menos não tipicamente. Mas ficou um pouco nervoso. E não tinha a ver com o fato de Anahí estar usando calças de lycra tão apertadas; ele estava com dificuldade para andar e falar ao mesmo tempo.

Era seu irmão idiota, Alfonso. Alfonso, entre todas as pessoas! Ele estava olhando para Anahí como se se sentisse atraído por ela — o que era ridículo, porque, bem, ele sempre a desprezara, e ela a ele. Ian nem conseguia contar nos dedos as maneiras como os dois tinham provado isso. Só que ele conhecia Alfonso. Pelo menos ele gostava de pensar que era inteligente o suficiente para conhecer seu próprio sangue. Mas, pelo andar da carruagem, bem, parecia que Alfonso estava encarando Anahí como... como um homem.

Que droga. Ele estava perdendo a porcaria da cabeça. Todo mundo sabia que ele realmente a odiava. Ele tinha sido muito cruel com ela desde que se conheceram no ensino fundamental. No mínimo, Ian sempre precisou protegê-la do irmão mais do que das outras crianças na escola.

Quem a tinha levado para casa quando Alfonso a empurrou e ela ralou o joelho? Hum, Ian . Quem a tinha convidado para o baile de formatura quando todos os outros caras teriam entrado para uma lista negra se tivessem colocado os pés perto dela, por ordem das outras garotas da escola? Mais uma vez, o mais novo dos dois irmãos. E quem, no meio do ginásio, quando foi coroado Rei do Baile de Formatura, tinha se agachado em um joelho no último ano e pedido a Anahí para namorar com ele?

Ian detestava se gabar, mas, sim, tinha sido ele. Enquanto isso, Alfonso ficava sentado lá como um bobão. Claro, ele já estava na faculdade e só estava passando o fim de semana. Mas mesmo assim. Sempre era Ian. Sempre tinha sido Ian. Então, a ideia de que Alfonso no momento estava olhando para ela como... bem, como os caras olham para as garotas, era bem assustadora. Afinal, o boato na escola era que Alfonso era gay ou coisa parecida, não que Ian jamais tivesse perguntado a ele. Não queria embarcar numa conversa tão desconfortável e tudo o mais.

Ian afastou o pensamento de sua mente. Honestamente, só estou muito cansado. Tinha trabalhado demais para garantir que tudo ficasse em ordem no trabalho e, para piorar as coisas, Samantha, sua namorada de idas e vindas, tinha dito que iria aos jornais para relatar que o noivado era falso. Naturalmente, ele ameaçou processá-la. E ela achou isso muito excitante.

Evidentemente, ele também comprou uma passagem para ela passar o fim de semana
lá. Não era como se Anahí fosse ser muito realista no papel, nem que Ian fosse permitir isso. Depois de tudo que aconteceu entre os dois, era seguro dizer que eles precisavam continuar amigos ou ele destruiria a vida dos dois pela segunda vez.

— Ian? — O pai alcançou as batatas depois que todo mundo estava sentado. — Como está o escritório? Tudo correndo bem?

Não, ele queria gritar. Nada estava bem desde a aposentadoria do pai, mas era fundamental que Ian parecesse no controle. Ele deu de ombros e respondeu:

— Sem problemas.

A vovó decidiu fazer uma entrada triunfal, com direito a batom borrado no rosto, e ele sentiu o cheiro de algum tipo de perfume masculino vindo dela em ondas. É sempre bom saber que a vovó está se divertindo enquanto você finge estar noivo.

— Qual é a conversa sobre os negócios? — A vovó conseguia destruir um homem com um único olhar cruel.

— Nada — respondeu Ian, distraindo a atenção de si mesmo. — Mas você pode perguntar sobre Annie e meus planos de casamento.

Nesse momento, o coração de Ian parou quando a vovó agarrou o peito, ofegou e literalmente caiu da cadeira.

— Vovó! — gritaram todos ao mesmo tempo, como se quisessem ressuscitá-la de algum jeito. Ian caiu de joelhos e agarrou a mão dela. A vovó abriu os olhos com a deixa.

O que ficou pra trás Onde histórias criam vida. Descubra agora