POV RAFAELLA
Meu primeiro dia em uma nova cidade, sem dúvidas era uma mudança e tanto, já que muitos e muitos anos se passaram sem que eu morasse numa cidade de porte grande. Desde que cheguei tudo está saindo exatamente como o planejado, minuto por minuto, passo a passo. Ou ao menos estava.
Manu e eu nos mudamos para o Rio de Janeiro com o intuído de evitar lembranças desnecessárias que nosso antigo lar pudesse trazer, nós planejamos viver sem qualquer envolvimento nem qualquer tipo de contato com ninguém além daqueles que já faziam parte do nosso pequeno circulo social, tecnicamente falando, essas "regras" seriam mais que fáceis de serem seguidas por mim. Afinal, vivo assim desde que consigo me lembrar, necessidade de conhecer novas pessoas, ouvir suas histórias de vida e me prestar a criar um laço, nenhuma dessas coisas faz parte de quem eu sou, é confortável, seguro e útil.
Seguir o plano, eu estava focada nisso.
Mas, mesmo que eu tentasse pensar nas coisas práticas, pela primeira vez em tanto tempo minha mente me traiu, posso ouvir o gaguejar de sua voz fraca e docemente tremula de minuto em minuto, ela se fez presente em cada uma das minhas aulas de hoje junto com a lembrança de seu par de olhos castanhos, me atormentando no íntimo do meu psicológico. Quase que como se eu tivesse sido acometida por um feitiço extremamente bem feito, quase como se eu tivesse provado da droga mais atrativa já criada uma única vez em uma festa, e agora meu organismo já dá sinais de um vício iminente.
Sei que Manu tentará me matar assim que souber que tenho uma aula particular nesse fim de semana, mas a vontade de conhecer melhor ou quem sabe apenas gravar melhor algum detalhe sobre a causadora desse meu pequeno duelo interior me veio forte o bastante para simplesmente abandonar o plano na primeira oportunidade que me apareceu, "bom trabalho Kalimann" meu consciente me advertia enquanto meus pés me levavam nem sei bem pra onde, pra fazer nem sei exatamente o que. Eu não podia, eu não devia e eu não ia me envolver mas, conhecendo melhor posso descobrir o melhor jeito de me manter longe certo?
Entre uma discussão interna e outra, pude notar que meus passos me trouxeram a uma espécie de parque não muito movimentado, mas o suficiente para que ele não possa ser descrito como deserto, o silêncio reinava de uma forma confortável, o tipo perfeito de ambiente para que meu cérebro me trouxesse uma das lembranças que mais me perseguiram de forma vivida por tanto tempo... "filha é um caminho sem volta e você sabe disso... Não vá!" Pude ouvir quase que vivida e claramente a voz de minha mãe no dia em que eu lhe disse adeus, porém logo depois dessas palavras a imagem de minha aluna se fez presente mais uma vez, no entanto dessa vez não se tratou de imaginação.
Foi basicamente nesse instante que eu me dei conta de o quanto o destino estava disposto a zombar de mim. Erguendo os olhos eu simplesmente vi quem eu menos queria ver, bem ali, a própria senhorita Andrade estava para se esfolar na calçada, dava pra ver que o tombo ia ser feio, aparentemente ela estava ainda mais distraída que eu.
Corri na direção do corpo que já sem equilíbrio nenhum partia de encontro ao chão, felizmente consegui alcança-la e a puxei com mais velocidade do que eu deveria possuir, com mais força do que minha aparência demonstrava que eu pudesse ter. Foi realmente estranha a sensação pela qual fui acometida quando seu corpo magro, e perfeitamente esculpido devo acrescentar, se chocou contra o meu, ainda de costas pude notar sua respiração ofegante pelo susto, ao mesmo passo que seu coração batia de uma forma tão frenética que eu pensei se deveria me preocupar com a possibilidade de um ataque cardíaco ocorrer naquele instante. Sem mais delongas tratei de virar, a jovem mulher que ainda se apoiava totalmente em meu envolver de braços para manter o equilíbrio, de frente para mim pensando que talvez com o contato visual ela pudesse se acalmar, afinal ela provavelmente me reconheceria, ao menos é o que eu espero que aconteça.
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AMOR ANTES DO SANGUE
FanfictionBianca odiava as aulas de economia e para ela era apenas "aquela droga de matéria insuportável", até que um dia tudo mudou. "Aquela professora, aqueles olhos verdes com ar de sobrenaturais, aquela troca de olhares, o jeito que ela me fez tropeçar...