Chá e papéis.

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Chegamos a minha casa que ficava na rua paralela a de Hatsume, por isso sempre usava o beco para atravessar, era um atalho, como cresci ali não temo muitas coisas. Talvez por isso esteja nessa situação agora, levando um completo estranho onde nem mesmo meus amigos andam. Se a garota soubesse disso nem mesmo me repreenderia, segundo ela eu deveria viver algumas aventuras também, de vez em quando.

Olho para o ruivo parado atrás de mim após a porta ser fechada, ele olha encantado todas as coisas no cômodo pequeno da sala. Minha casa não era muito grande, disposta por uma sala, que eu mais usava para deixar livros e peças, um pouco mais organizado que Hatsume, uma cozinha aos fundos e um banheiro ao lado.

No mesmo cômodo em que estávamos ainda havia uma escada de madeira que levava até uma espécie de puxado que eu mesmo construí para ser meu quarto, além disso meu teto era como uma cúpula, completamente de vidro, assim eu poderia observar o céu quando quisesse.

O olhar dele ainda percorria todo o cômodo, os papéis sobre a mesa, o sofá velho no canto, os livros nas estantes e por fim olhou para cima vendo as estrelas que iluminavam o local além das lamparinas que eu havia ascendido assim que entramos.

-Gosta do que vê?- Pergunto o deixando constrangido, ele apenas acena com a cabeça timidamente.

-Sua casa é muito bonica.- Noto que ele fala errado, mas logo se corrige.- Bonita.

-Tem dificuldade para falar?- Pergunto não por mal, apenas curioso. Espero não tê-lo deixado desconfortável. Talvez seja a máscara que atrapalha sua dicção.

-Não costumo falar muito, então tenho dificuldade.- Realmente ele sempre fala as palavras muito devagar como se soletrasse cada uma.

-Talvez se tirar isso ajude.- Aponto para a focinheira em sua cara, agora no claro eu consigo ver bem o que é, isso só me intriga mais, por que alguém usaria isso? Ele era um prisioneiro ou algo do tipo? Ele apenas encara os pés e eu suspiro.

-Você não me representa ameaça nenhuma, acredite, se não nem estaria aqui.- Digo simples cruzando os braços. Mas mesmo assim ele não tira.- Se quiser tomar um banho o banheiro fica a direita.- Aponto para o local me dando por vencido que o mesmo não tiraria aquilo da cara.

Ele segue o caminho que eu indico e enquanto isso subo para pegar uma roupa limpa para ele em meu baú, afinal ele só vestia uma calça preta e botas. Tiro uma calça de alfaiataria marrom com uma camisa branca de botões para o mesmo. Melhor que o traje anterior com certeza. Se não fosse um prisioneiro sequestrado seria o que então? Com o corpo tão a mostra...melhor não pensar nisso.

Deixo a roupa na porta e vou para a sala.
Coloco a peça que busquei sobre a mesa e começo a analisa-la juntamente com meu projeto, talvez tenha ficado absorto demais no que fazia pois nem notei o aproximar do garoto. Agora ele observava o que eu observava.

-Você tem muitos livros.- Ele disse me assustando, mas sua voz se tornou mais audível e clara. Quando virei para o mesmo, notei que ele havia tirado a focinheira finalmente. E comprovando o que eu pensava, não tinha nada demais em seus lábios, nada que fosse considerado perigoso ou assustador.

Na verdade com a proximidade pude observar melhor seu rosto, era bonito agora que estava limpo. Tinha olhos redondos e vermelhos que mostravam sua inocência, bochechas fofas com pequenos sinais marrons distribuidos aleatoriamente.

Apenas uma cicatriz em sua sobrancelha mas nada que o tornasse horripilante, na verdade era pequena e fofa. Seus lábios estavam secos. Ele também estava magro apesar de alguns músculos. Corei notando que já olhava para ele a uns minutos e me virei de volta.

-Eu sou engenheiro de cálculo, ler faz parte de minha profissão, mas sim, eu gosto, tenho até alguns romances na minha coleção como viagem ao centro da terra.- Parei nostálgico ao lembrar do livro que li na infância e que me fez querer ser engenheiro.

Hitoritabi || KiribakuOnde histórias criam vida. Descubra agora