Acordei sentindo os raios solares já quentes em minha pele. Para alguns seria um incomodo e por isso ninguém tem um telhado de vidro em casa, mas eu gostava de acordar cedo com a luz do sol invadindo as minhas pupilas. Me ajudava a manter minha rotina matinal, além de ser agradável acordar assim naturalmente. Levantei inspirando fundo algumas vezes, me ajudava a ter mais paciência, apesar de ser quase impossível.
Levanto e desço a escada de madeira que range com meus pés nos degraus. Apenas notando que o ruivo já não se encontrava mais no sofá a muito tempo. Noto que as coisas estão mais organizadas e me surpreendi quando o vejo retornando da cozinha com uma vassoura em mãos.
-Bom dia Bakugou.- Ele diz com aquele sorriso de dentes afiados, uma cena particularmente encantadora de se ver.
-O que você está fazendo?- Questiono ainda tentando despertar.
- Eu levantei cedo e então arrumei um pouco.- Ele diz envergonhado.- Mas não mexi muito nas suas coisas.- Ele aponta para minha mesa de trabalho intacta.- Sorrio de soslaio e vou em direção a cozinha, preciso de um café.
Retorno com uma xícara e o bule em ambas as mãos. Vou até minha mesa e me sirvo. O ruivo ainda está concentrado em sua tarefa e eu tiro esse tempo para analisar meu projeto. Fico inerte por um tempo notando o sumiço do ruivo.
-Kiri?
- Sim?- Ouço sua voz da cozinha. Ele vem com dois pratos nas mãos e me deixa um na mesa.
- Eu não sei cozinhar direito, então cortei algumas bananas com mel para você.- Ele diz sem jeito.
- Por que não me pediu para fazer o café? Eu sei cozinha.- Digo sorrindo confiante.
-Desculpe.- Ele diz sem graça.
- Não se preocupe, e...bom, obrigado.
Como um pouco e volto a ler mais papéis. Noto ele um pouco inquieto no sofá, talvez seja um bom momento para conversarmos. Estava pensando em ir até a biblioteca, precisava de novos livros.
-Kiri eu vou precisar sair.- Digo notando o silêncio do outro.
-É melhor eu ficar.- Ele diz triste, a verdade é que realmente ele precisa se esconder, mas acho que tenho uma ideia quanto a isso.
-Você realmente não consegue se lembrar de nada que possa...-Dou uma pausa pensando no que dizer - nos ajudar?
-Poucas coisas, toda vez que forço uma lembrança minha cabeça dói.
-São como lapsos de memória, talvez você tenha batido com a cabeça, eu não conheço nenhum médico.
-Eu estou bem, não se preocupe.- Pensei um pouco, talvez seja bom conversar com Midorya, ele era o dono da biblioteca e estendia muitas coisas, além de ser um amigo de infância, por mais irritante que fosse.
-Você vem comigo.- Digo recebendo um olhar assustado.- Está tudo bem, você vai colocar isso.- Vou em direção a um cabideiro ao lado da porta pegando um sobretudo e um chapéu.- Esconde seu cabelo, ele chama muita atenção.- Digo o entregando as peças.
Caminhamos por dois quarteirões até a entrada do bairro onde ficava a rua comercial. A padaria cheirava a pães frescos, ainda era cedo o que fez o movimento estar menor, para meu alívio, andei um pouco mais até chegar em frente a pequena livraria. Kiri parecia incomodado com as máquinas, especialmente os carros.
Entramos ouvindo os sinos da porta avisarem nossa chegada ao garoto de cabelos verdes e cacheados. Ele veio em nossa direção, retirando os óculos redondos e os coloca do no bolso, logo estampando um sorriso em sua face ao me ver e me abraçar.
-Kacchan, eu nem posso acreditar.
-Me solta Mydoria - Digo com um rosnado, ele sabe como odeio sua melosidade.
-Você meu amigo vem me ver uma vez no mês e não quer nem mesmo me dar um abraço?
- Você sabe que eu não gosto.- Respondi desanimado aquela mãe na minha frente. Coloco as mãos no bolso até ele notar o ruivo que estava ao meu lado boquiaberto com os livros ao seu redor.
-E você é...?-Midorya questiona. O ruivo o encara da cabeça aos pés, se escondendo um pouco atrás de meu braço, o que eu achei terno.
- Esse é o Kiri.
-Prazer Kiri.- Mydoria estende as mãos e eu olho para que Kiri aceite o cumprimento.- Eu sou Mydoria, amigo do Katsuki, por mais que ele não tenha muitos amigos, até me surpreende ele ter feito um novo.- Mydoria fala sem parar com um sorriso no rosto apertando a mão do ruivo e arregala os olhos.
-Precisamos conversar.- Digo o olhando sério.- Kiri por que não procura um livro para você? O Mydoria pode te emprestar.
-Serio?- Ele pergunta sorrindo e o garoto com sardas acena com a cabeça. Logo o ruivo anda devagar em direção as pilhas e prateleiras cheias de livros os observando e nos deixando para trás.
- Então aconteceu algo?- Mydoria questiona e eu o conto tudo sobre Kiri, recebendo uma reação de choque e surpresa do garoto em minha frente.
-Bakugou isso é muito perigoso.- Ele diz ainda abismado.
- O Kiri é de confiança Mydoria, eu sinto isso. Preciso ajuda-lo.- Digo ainda sério recebendo uma confirmação de cabeça do garoto que mostra me entender.- Você sabe de algo que possa nos ajudar?
Para minha infelicidade, as suposições do Mydoria me deixaram com um gosto amargo na boca, e não era do café. Escravo de Mina, Prisioneiro de guerra que trabalha para mercenários. Coisas horríveis passam pela minha cabeça enquanto Mydoria fala.
-Ele disse que havia outros, é muito comum no centro da cidade e também nos portos ver várias crianças acorrentadas, as pessoas as chamam de mercadorias para não usar o termo escravo.- De fato a escravidão já havia acabado a umas décadas, mas isso apenas legalmente, por debaixo da fiscalização governamental muitas coisas aconteciam. O submundo dessa cidade, algo que eu temia profundamente o Kiri de fazer parte. Seria muito mais difícil.
Para minha sorte eu já conhecia uma pessoa que poderia me ajudar com mais informações e Mydoria pareceu pensar o mesmo. Afinal eu o conheci em frente ao bordel.
-Vou falar com o Kaminari.- Kaminari também era um amigo nosso, ele era pianista no bordel. Ainda havia Sero, seu amigo que tocava viola e cantava em espanhol.
-Um bom músico conhece tudo não é verdade?- Mydoria ri de sua colocação, sabemos o quão encrenqueiro, desastrado e idiota o loiro poderia ser. Mas é verdade que ele conhecia os podres de muitos.
-Só tem um problema...- Reflito um pouco mais.
-A Camie?- Ele pergunta com um sorriso e eu reviro os olhos.
-Nós não temos nada.- Eu digo bravo para sua ironia, eu tive alguns casos com ela mas nada sério. Ela e a Uraraka trabalham de garçonetes naquele lugar. Uraraka também é nossa amiga de infância e ela tem uma queda por Mydoria, para o azar da pobre coitada.
-É talvez eles possam ajudar.- Mydoria diz passando os dedos por um livro que estava sobre a mesa onde conversávamos. De repente Kiri aparece abraçado com dois livros. Olho para ele e sorrio com sua inocência, eu nunca me acostumaria, era fofo e eu odiava isso.
-Escolheu?- Questiono e ele acena freneticamente com a cabeça.- Então vamos, obrigado Mydoria, pela ajuda.- Digo me levantando da mesa e indo em direção a saída.
-Por nada, depois eu quero saber o que você achou dos livros Kiri.- Ele diz sendo simpático como sempre.
-Certo.- Kiri responde animado.
-Olha, todo amigo do Kacchan é meu amigo.- O de cabelos verdes diz.- Se precisar de algo é só vir até mim.- Ele diz sério olhando para o ruivo.
-Obrigado.- Ele responde boquiaberto e depois sorri com as bochechas vermelhas.- Todo amigo do Bakugou também é meu.- Ele diz por fim, colocando o polegar sobre o peito ao dizer a frase sobre si. Saímos com cuidado até chegarmos em minha casa. Infelizmente eu já sabia meu destino essa noite assim que o ruivo dormisse. Espero que isso de fato ajude em algo.
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Hitoritabi || Kiribaku
أدب الهواةEssa história se passa no estilo steampunk, Bakugou é um engenheiro promissor, porém muito fechado, que em uma noite acaba conhecendo alguém que faz toda sua rotina mudar drasticamente.