Hitoritabi || Kiribaku

Pensamentos e procura.

Por mais duro que seja admitir, Todoroki era bom no que fazia, claro que não foi tão rápido assim, levou uma semana para ele reunir informações suficientes e sanar algumas de minhas dúvidas.

- Creio que Kirishima era uma mercadoria, o comércio de órfãos recolhidos assim quando crianças. São diversos serviços, podem trabalhar nas Minas, por exemplo.

-Isso nós já suspeitavamos.- Disse Mydoria com uma mão no queixo em concentração.

-Mas eu descobri onde e para quem ele trabalha.- Isso sim despertou minha curiosidade.

-Diga logo meio a meio, pare de enrolar.- Digo já perdendo a paciência.

-Ele foi vendido logo quando criança, trabalha para uns mercenários desde então. Mas digo de anti mão que são pessoas perigosas do ramo.

-Você soube alguma coisa sobre seu paradeiro?

-Kirishima foi vendido com mais duas crianças, deve ser quem ele procura então eu deduzo que ele deva estar tentando salvar esses outros. Sobre como vamos acha-lo, seria prudente uma equipe de busca sigilosa não?

-Já pensei nisso.- Disse Mydoria, porém eu não gostei da possibilidade de envolver terceiros nisso.

-Vai ser apenas a gente.

-Bakugou não seja tolo, precisamos de uma equipe, esses homens são do alto escalão de tráfego de navios e ouro.

-Não me interessa, ninguém mais ser envolvido, nós damos conta.

-Não seja imprudente.- Disso o meio a meio mas antes que eu pudesse lhe dar uma resposta o outro garoto interviu.

-Eu tenho uma ideia, a Hatsume pode nos ajudar com armamentos e afins, e nós vamos precisar do Denki, ele pode ser bom para fazer os contatos.- Para meu azar sua ideia era boa.

-Se nós vamos ao porto o Denki pode se sair bem nos bares juntando informações, pensou bem Mydoria.- Shoto diz deixando o de cabelos verdes sem graça e com as bochechas coradas, ele realmente não supera isso.

-Tudo bem.- Digo revirando os olhos, o plano estava feito, espero realmente encontrar aquele ruivo logo.

(...)

-Tamaki eu preciso disso para ontem.

-Não é fácil assim tudo bem? Eu sou apenas um atendente não sou um traficante. E pelos deuses o que você pretende fazer com isso? Se suicidar?

-Você sabe, eu vou salva-los.

- E você sabe que é suicídio ir sozinho, já tem muita sorte de não te encontrarem você estando bem debaixo dos narizes deles. Kirishima o Dabi não é bobo.

-Eu sei o que estou fazendo. Obrigada por me abrigar aqui.

-É bom que saiba mesmo.

(...)

-Ta tudo bem Bakugou?

-Mei, que susto mulher, não faz mais isso.

-Você anda muito pensativo.

-Você entendeu o que é para fazer certo?

-Entendi, mas voltando ao assunto que você tentou fugir, você gosta dele?

-Eu não sei Hatsume. Gosto.

-Eu sabia. Uma pena que você não trouxe ele aqui para eu conhecer, até o Mydoria conhece.- Apenas bufo em resposta.

-Não esquenta essas cabecinha, vamos encontrar seu amigo.

Depois de falar com Hatsume e Kaminari voltei para casa exausto, fazia uns dias que eu não dormia muito bem. Eu já havia deixado de lado meus projetos e tudo o que me dedicava, nem mesmo me reconhecia.

O quanto uma pessoa pode mudar sua vida é realmente impressionante. Chego a ficar surpreso com esse fato. Eijirou Kirishima surgiu em minha vida como fumaça e desapareceu da mesma forma. Nada explica a imensa vontade que tenho de encontrá-lo novamente.

Achei que a única coisa intensa que eu vivenciaria seria minha personalidade forte e a forma como não sei lidar com as pessoas. Kirishima veio me provar o contrário. Veio fazer com que eu soubesse o que é afundar-se profundamente em algo que você nem ao menos sabe o que é.

Se ele estivesse aqui, cobraria histórias bobas para ele e veria seus olhos brilharem em empolgação com isso, não, na verdade eu o levaria para viver suas próprias histórias, por sorte eu as viveria junto. Seria adorável como tudo que parte dele.

Observo a imensidão do céu e aprecio o brilho das estrelas. Um telhado de vidro não é nada usual mas, para um homem sonhador e que sempre está preso em seu próprio mundo como eu, é perfeito. Não há forma melhor de pensar do que observando as estrelas.

(...)

Roubei um livro do bar para ler. Não é muito confortável dormir aqui em cima com tanto barulho. Também não posso ficar pensando no plano de salvar meus amigos sempre. Na verdade há algo que me angústia muito mais do que isso. É aquele cabelo loiro e olhar intenso, a cara amarrada e as falas grossas.

Não posso pensar nisso, querer que o Bakugou fizesse parte de algo que ele nem mesmo sabe o que é, é muito egoísta de minha parte. Na verdade ele nem mesmo me conhece para que esse sentimento seja recíproco. Mas no pouco tempo que fiquei com e me senti vivo.

Ele não conhece o Kirishima mercenário que já compactuou com atrocidades feitas pelos chefes, mas ele conhece o Kirishima de verdade, ou ao menos quem eu queria ser. Sinto que fugir sem conversar com ele foi um erro, porém foi melhor assim, espero não ser mais um problema, espero que ele me esqueça...

Porém admito que não vou esquece-lo, tive uma vida normal e aprendi muitas coisas com ele, foi muito importante para mim, entretanto a realidade é que não posso abandonar minha família. Mina e Tetsu são muito importantes e eu não poderia continuar vivendo daquele jeito me enganando e enganando o Bakugou. Seria viver uma mentira.

Olho pela pequena janela o céu com algumas nuvens que se formam sobre o mar. Vivi tanto tempo nesse porto mas nunca admirei o céu assim antes. Estava ocupado naquele barco fazendo coisas horríveis, mas também não era de todo infeliz, eu tinha eles. Eu tinha o Tamaki também, sempre cuidando de mim após uma noite de bebedeira.

Será que o Bakugou gostaria de ser meu amigo se me conhecesse assim? Se nós conversassemos em um bar qualquer e eu fosse bobão depois de dois copos de cerveja. Seria engraçado vê-lo lidando com isso.

Mas será que ele se interessaria em um qualquer mercenário bêbado? Sendo um engenheiro tão promissor eu imagino que não, por mais pimposo e legal que eu seja. Eu sou muito legal afinal. Iria conquista-lo a força, afinal eu posso ser insistente quando quero.

Bom quem sabe se tudo der certo, e eu salvar meus amigos sem ser morto, e depois de uns anos quando o Dabi desistir de perseguir a gente eu não possa visitar o engenheiro famoso que ele será? Talvez não, se ele estiver com uma bela família irei ficar triste.

Katsuki Bakugou, eu sou um homem do mar, eu não tenho nada a oferecer a não ser boas aventuras como a dos seus livros, você toparia ser amigo de um fugitivo como eu e abandonar todos os seus sonhos? Seria assim se eu não tivesse ido embora. Não posso atrapalhar sua vida, lamento Bakugou.