Perdido sob as estrelas.

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Steampunk: Uma realidade espaço-temporal na qual a tecnologia mecânica a vapor teria evoluído até níveis impossíveis (ou pelo menos improváveis).
Obras ambientadas no passado onde os paradigmas (modelos) tecnológicos modernos evoluíram mais cedo do que de fato aconteceu.
***
Era uma noite gélida, a fumaça dos maquinários e o cheiro do vapor se misturavam com a brisa noturna e as poças d'água no chão, fazendo um leve odor de terra molhada. Além do motor das máquinas a única coisa que Katsuki ouvia era o gotejar de água que caia pelo beco o qual caminhava. Seria mal iluminado seu trajeto não fosse pelas placas reluzentes que indicavam os bordéis ali presentes.
Não era o melhor dos bairros, mas já se acostumará, encontrava coisas boas por lá, como a padaria que logo as seis já abria espalhando o cheiro de pão recém feito, a pouca presença de automóveis nas ruas e a única biblioteca que continha pouco menos que quinhentos livros a sua disposição.
Suspirou parando em uma encruzilhada, ao fim do beco poderia seguir a rua para a direita ou esquerda. A sua frente havia um grande prédio escuro de tijolos, possuía dois andares.
Sabia bem quem morava ali, na verdade poderia ver a única luz saída pela janela do segundo andar, onde provavelmente o rapaz Todoroki se encontrava pensando mais do que deveria. Não sabia como uma família tão rica morava naquele lugar. Dobrou a direita continuando seu caminho. Não era de seu feitio sair de casa, só fazia quando extremo necessário. E aquela era uma das ocasiões, precisava de algumas peças então marcou com sua amiga. Hatsume, uma grande inventora, a garota adquiria certa fama pela cidade, com até mesmo clientes de extrema importância, mas sempre abria exceção ao amigo.
Uma visita noturna soaria estranha se não fosse tão comum, Katsuki preferia sair a noite, quanto menos pessoas visse, melhor. Hatsume já era acostumada, a mesma tinha uma rotina de quase nunca dormir, então não se importa com o horário tardio. Chegou finalmente na oficina da garota.
Tinha apenas um andar e grandes janelas de vidro na entrada, que estavam fechadas por cortinas brancas. Se surpreendeu por não ver luzes acesas, será que já dormia?
Logo a porta a sua frente foi aberta revelando a garota de cabelos rosas e olhos amarelos a sua frente, sorria empolgada e possuía algumas manchas de graxa pela face redonda. Antes mesmo que pudesse entrar a menina já abria a boca, falando sem pausas para respirar sobre seus últimos feitos mais interessantes, na visão dela.
-Você ficaria impressionado se visse meu último bebê, pena que já o entreguei a seu dono.
-Acredito que sim.- Disse sentando em uma cadeira no meio de duas mesas de madeira repletas de bujigangas e maquinários em construção, havia as mais variadas peças ali, como papéis de manuais e até mesmo esboços.
-Você precisa urgentemente de um ajudante aqui, Hatsume, está perdendo o controle e eu mesmo não sei como ainda não se perdeu no meio dessa bagunça.
-A minha própria mente é uma bagunça caro Bakugou, como você quer que eu seja organizada se é assim que eu funciono? Volto a dizer que não preciso de ajuda nenhuma, já você...- Ela sorri como quem me pegou.- precisa de um namorado.
Olho incrédulo para a garota após esse comentário, mas a mesma apenas cai na gargalhada. Depois de longos minutos disso, em que eu apenas me arrependerá de ter ido até ali, ela finalmente para.
-Mas eu falei sério.- A encaro revirando os olhos.
-Eu não preciso disso, guarde seus comentários inoportunos para você.-Disse por fim. Apenas queria pegar minha peça, mas sempre tenho que passar por isso.
Finalmente tenho a peça que precisava em mãos, a encaro impressionado tamanha a eficiência da garota que recebeu meu pedido a menos de dois dias.
-Ficou perfeito, obrigado.-Digo satisfeito imaginando que agora faltava pouco para o que eu fazia ficar pronto.
-Nada que um engenheiro de cálculos como você não fosse capaz de fazer.
-Para que o trabalho, se eu posso pedir para você? E no fim eu apenas tenho capacidades limitadas de construção, inventar algo como você faz está para além.
-Bakugou...- A garota parecia emocionada frente a tantos elogios vindos de mim.- Estava com saudades, você é um péssimo amigo sabia?
-De fato, você é a única amiga que mantenho então não reclame.- Levantei a fim de ir embora, ficava tarde e perigoso.
-Venha me visitar mais cedo na próxima, assim eu faço um chá para nós e você me conta o que está aprontando.
-Não prometo nada, mas vou tentar, até logo.- Me despeço da garota que acena de volta da porta.
Hatsume era incrível, agora a faltava bem pouco, sei que poderia fazer aquilo, mas não com tanta maestria, ela realmente era uma inventora incrível, fazia as peças do zero e era isso que eu procurava, não queria nada que já tivesse rodando por aí na minha máquina incrível. Parei para notar que estava de volta no beco. Que agora estava mais escuro que o normal, me pergunto o que houve para o bordel encerrar tão cedo, quando sem aviso prévio me deparo com uma figura agachada no chão encostada na parede a minha direita.
Penso um pouco no que deveria fazer, voltar para Hatsume? Já estava muito longe, ir para casa do Todoroki logo atrás? Respirei notando que a figura apenas se encolhia mais no escuro, parecia com mais medo que eu, estava se escondendo de algo? Segurei a pistola em minha cintura firme e me postei a caminhas novamente, dessa vez a passos mais lentos. Me aproximei de seja lá o que for, iria passar direto mas minha curiosidade não permitiu.
Pensei brevemente se deveria mesmo fazer algo tão imprudente, tendo em vista que não sou esse tipo de pessoa que liga para qualquer coisa ao ponto de se arriscar. Enfim me abaixei ficando de frente com um rapaz. Ele tinha cabelos vermelhos e algo prendia sua boca, eu não via bem naquela escuridão, a única coisa que nos iluminava agora eram as estrelas e nada mais. Mas pude ver suas órbis vermelhas me fitando. Tinha temor nos seus olhos.
-O que faz aqui?- Não obtive nenhuma resposta, ele apenas colocou a cabeça nos joelhos escondendo o rosto.
-Oi, você tá bem? Como é seu nome?- Perguntei aturdido com aquela situação.
-Não sei.- A resposta veio um pouco abafada mas ainda assim eu pude ouvir.
-Não sabe o que? Seu nome?- Fiquei surpreso com a possibilidade de uma pessoa não saber quem é.- Está tentando me enganar? Se for me assaltar digo para não se dar o trabalho se quiser permanecer vivo.- Falo sério vendo que a respiração do garoto começar a ficar mais forte como se chorasse silenciosamente. Fico em choque sem saber o que fazer ou como reagir a isso.
-Ei, não fica assim...
Ele volta a me fitar. Aquela coisa em sua boca estava me dando nos nervos então fiz movimentos para tirá-la.
-Não.- Ele disse baixando a cabeça.- Eu sou perigoso.- Que bobeira era essa que estava ouvindo, como alguém perigoso teria tanto medo e choraria daquela forma, tudo bem que alguns dizem que minha presença é um pouco, digamos assustadora, mas isso já era demais, eu nem mesmo havia gritado ainda.
-Você tem para onde ir?- Pergunto sem paciência, só queria voltar para minha casa, mas não conseguia deixar o rapaz para trás naquele estado tão perdido. Ele fez uma negativa com a cabeça, assustado.
-Eu fugi, mas logo eles vão me achar novamente.
Novamente? O que aquilo queria dizer, ele falava de forma tão simples e ao mesmo tempo me deixava cheio de dúvidas a seu respeito. Eu nunca ajudaria um desconhecido, mas quando eu olhava para aqueles olhos de cachorro abandonado não pude evitar fazer algo que talvez me arrependerá depois.
-E se você vier comigo?- Ele me olhou confuso.
-Ir com você?
-Para minha casa.- Completo meu argumento, vendo-o ficar surpreso e empolgado, mas logo desanimar novamente.
-Não, traria problemas a você.
-Não se preocupe, ninguém vai achar você comigo.- Tento tirar suas inseguranças. Claro que não o chamaria para morar comigo, apenas uns dias até eu, ou ele mesmo, descobrir o que fazer. Iria atrás de quem ele era e quem estava atrás dele, aquilo me intrigava.
-Pode me chamar de Kiri.
-Kiri?
-É assim que me chamam a um tempo.
-Tudo bem Kiri.

Hitoritabi || KiribakuOnde histórias criam vida. Descubra agora