Capítulo 1

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Dois poderes únicos habitam em mim. Não sei exatamente quando os descobri, só sei que não foi fácil mantê-los controlados dentro de mim. Pense, como controlaria uma luz escaldante e uma escuridão sem fim num mesmo cômodo? Precisaria de algo para separá-las, certo? Eu não tinha isso, eu era a minha separação.

Não conheço meus pais, desde que me entendo por gente eu luto pela minha sobrevivência. Vivia na rua, pedia comida aqueles que conhecia. Às vezes pedia roupas e assim por diante. Sempre fora difícil para mim viver sem meus pais. Não tenho nenhuma recordação, nada. Me pergunto se eles não me quiseram, se me acharam uma aberração. Ou se eles sabiam dos meus poderes e tiveram medo de mim. Talvez, eles soubessem e achavam perigoso me manter perto. Não sei o que aconteceu, não sei porquê me deixaram. Só sei que agora sou apenas eu. Eu e meus poderes.

Pelo que já li, é muito raro uma pessoa ter ambos os poderes como primário. É assim, comumente, uma pessoa tem um poder primário, o mais forte e o principal, e o secundário, como se fosse um complemento do primário. No meu caso, não tenho o secundário. Tenho a luz e a escuridão como primários, o que me permite ser bem forte. Mas sem o secundário, eu não tenho minha complementação. O que significa que eu só consigo usar um de cada vez em grande dose.

Existe um grupo, Os Aliados, no qual sempre sonhei em entrar. Eles protegem os sem poderes daqueles que podem machucá-los. São 3 participantes, a Mary que tem telecinese e sopro congelante. Dylan que tem super velocidade e regeneração e Stiff que pode controlar as emoções e leitura mental. Eles são realmente incríveis juntos, nunca os vi cara a cara, apenas ouvi falar. Mas eles sempre passam na TV.

Atualmente, tenho 18 anos. Pago um aluguel numa casinha perto do centro, que é onde eu trabalho pra me manter. É numa sorveteria, lá trabalham comigo os irmãos Deyse e Lucca. Não sabem sobre meus poderes, já que não convém ficar falando disso.

-Boa tarde?- uma moça pergunta me encarando.

-Olá, desculpe. Boa tarde, posso ajudar?- pergunto arrumando a postura depois de perceber que estava praticamente jogada em cima do balcão.

-Sim, gostaria de pedir dois do número 21.- aponta para o cardápio.

-10 dólares.

-Aqui.

-Obrigada, só aguardar.- digo e a mesma se senta com mais uma moça numa mesa ali perto.

-Lucca, dois 21.- falo após entrar na cozinha e vê-lo em posição de ataque pro nada.- O que você tá fazendo? E cadê a Deyse? Juro que ouvi a voz dela e não a vi sair daqui.

-Bu!- Ela aparece na minha frente, me assustando.

-Que isso? Você não tava aí! Você tava invisível? Ai meu Deus, você tava invisível!- digo e coloco a mão na boca, não sabia que ela tinha poderes!

-Calma! Olha.-a mesma faz seu braço sumir.

-Ai caramba, isso é muito legal!- olho pra Lucca que sorri enquanto faz o sorvete.- Você também?

Ele deixa o batedor de lado e estica o seu pulso, tocando meu queixo com sua mão. Arregalo os olhos e perco a respiração. Uau!

=Olá.= a voz de Lucca ecoa na minha cabeça.

-Telepatia? Elasticidade? Invisibilidade e mais o que? Vocês são incríveis, caramba!

-Meu secundário é teleporte, e obrigada!- Deyse sorri e manda um beijo no ar. Ouço a campainha no balcão tocar.

-Faz logo os pedidos pra gente continuar aqui Lucca!- o apresso animada, louca para mostrar meus poderes para ambos. Eles me passam confiança, e agora que eles se mostraram pra mim, sinto que posso e devo fazer o mesmo!

-Calma dona apressadinha, tá quase pronto!

Uns minutos se passam e eu entrego os pedidos para a moça e volto pra dentro.

-Preparados?- pergunto com as mãos na altura dos ombros e os vejo assentir.- Ok.

Sinto um formigamento na ponta dos meus dedos da mão esquerda e sorrio sentindo a luz fluir. Solto pequenos feiches de luz e na minha mão direita faço esferas de escuridão.

-Clary? Isso não é possível! Como você fez isso?- sorrio

-Luz e escuridão, como você aguenta?- todo o meu poder volta para dentro de mim ao escutar essa frase.

-Como assim?

-Segundo ás histórias contadas pela nossa avó, aqueles que possuiam dois poderes tão fortes e raros como primários enlouqueceram, a escuridão os dominaram e passam pelo 3 estágios da Loucura em Excesso;- Lucca emenda.

-A confusão, eles não sabem que são as pessoas ao seu redor, não se conhecem e perdem sua essência.- Deyse diz me olhando nos olhos com um certo receio.

-A reinicialização, eles voltam a ser crianças, agem como tal, falam como tal e pensam como tal. São impulsivos, afiados e extravagantes, bem como uma criança travessa.- foi a vez de Lucca falar, logo em seguida se senta na cadeira giratória ao seu lado.

-E por fim; a auto-mutilação, onde eles se machucam e sangram até a morte.- fico horrorizada ao ouvir o que saia da boca de ambos.

-Eu nunca tive graves problemas com meus poderes, apenas dificuldade para mantê-los juntos, porém separados dentro de mim, e nunca me ocorreu essas sensações de estar perto de ficar louca ou coisa do tipo, como saberei se não vou enlouquecer?- se calam.

-Olha Clary, podemos ver o que nossa avó diz a respeito, seus poderes são realmente incríveis, mas são extremamente perigosos. E você, como nossa amiga, não queremos que nada de ruim lhe aconteça. Então pode ficar tranquila, que nós a ajudaremos com o que estiver ao nosso alcance. Tudo bem?- Lucca levanta e me dá sua mão, num carinho aconchegante ele me conforta.

-Muito obrigada, de coração. Vou procurar alguns livros a respeito disso, obrigada por me avisarem.

Entre Dois LadosOnde histórias criam vida. Descubra agora