Cheguei na casa do Simon toda enrolada com meu casaco porque estava começando a baixar a temperatura. A luz da sala estava acesa. Toco a campainha e o pai dele me atende.
- Que surpresa mais inesperada, Ana! – ele abre um sorriso e me abraça – Quanto tempo que não te vejo! Você está crescendo! Suba, o Simon está lá no quarto dele e pode tirar o casaco se quiser, os aquecedores estão ligados. Sinta-se em casa!
- Obrigada pelo carinho de sempre, senhor Richard.
Subo as escadas e me deparo com o Simon sem camisa mostrando seu corpo magro sem curvas deitado na cama fazendo um som em sua guitarra. Por alguns segundos observei o quarto dele e percebi o quanto mudou depois de tudo. Agora, as paredes são pintadas de roxo com um rodapé preto, o colchão sempre ficou no chão mesmo por escolha dele, o guarda roupa ainda continua cheio de adesivos, as paredes se encheram de pôsteres, a janela com cortina preta, CDs, livros tralhas no chão do quarto em caixas, e para finalizar, as estrelas no teto branco que brilham a noite para lembrar da mãe dele.
- Você chegou antes do horário! – ele coloca a guitarra de lado e senta na cama.
- Pelo menos eu estou aqui! Então me diga, como você está realmente? Agora sem filtros porque não tem mais ninguém para escutar além de mim. – falo sentando ao lado dele.
- Agora, eu estou extremamente confuso e perdido sobre o que fazer da minha vida. Minha música é meu refúgio. Realmente não ligo para nada e ninguém, tirando você e minha família. Outra, nem posso mais andar de skate, acredita?
- Tem o tempo de recuperação somando com paciência, depois você volta a andar, confia.
- Enquanto isso, estou perdendo o tempo da minha vida. Algumas vezes bebo um pouco de vodka pura para relaxar, porque não consigo conviver com o fato de que sempre estou perdendo pessoas. Meu pai não liga muito para mim, eu também não ligo, mas a única coisa que eu sei é que eu gosto muito de você. – ele se aproxima de mim na cama
- Eu também gosto de você, Simon.
- E agora que você vai para o Brasil, eu... – ele acaricia meu rosto e me beija rapidamente.
- Espera aí, eu beijei o Peter ontem e você sabe disso! Simon! – Me levanto da cama e aumento o volume da minha voz expressando minha raiva enquanto falo.
- Eu precisava te beijar pela última vez, seria uma despedida. – Ele pega nas minhas duas mãos para tentar me acalmar e eu solto no mesmo momento.
- Despedida? Como assim Simon?
- Você vai para o Brasil e não vou te ver mais! - Ele fala com um tom de voz baixo.
- Isso não é justificativa para me beijar.
- Achei que você queria, você não recusou na hora.
- Eu...
Respirei fundo e contei tudo o que aconteceu nesses últimos dias, além de tudo, o Simon é um dos meus amigos. Acho que é a melhor descrição que posso fazer dele nesse momento. Eu não gosto de comparar pessoas, determinar quem elas são. Nós estamos mudando constantemente e nossos sentimentos e ações momentâneas podem não estar pertencentes a nós mesmo daqui a um certo tempo. Não posso dizer que o Peter é o correto para mim, não posso dizer que o Simon é o correto para mim. Isso é relativo. Pessoas são diferentes, elas erram, são arrogantes, carinhosas, possuem valores diferentes, ideias, conhecimentos, realidades e o que pode nos unir é o amor. Eu amo os dois de formas diferentes, talvez eu me confunda às vezes, mas eles são meus amigos e isso já basta.
- Você nunca me disse que tinha família no Brasil – ele olha para mim sem entender o que estava acontecendo, talvez com peso na consciência – Desculpa por ter invadido sua privacidade em relação a tentar te beijar. Fui inconsequente e só pensei em mim. – ele se afasta e eu tento abraçá-lo.
- Está tudo bem e eu sei que precisávamos desse momento para nos reconciliarmos, não necessariamente com um beijo, mas... – Percebo que seu coração acelera a cada segundo por estar abraçado comigo sem camisa.
- É porque eu precisava dizer que eu te amo. Você é muito importante para mim! – o momento do abraço acaba e tento refletir sobre nós dois.
- Também sinto o mesmo, mas faz 6 meses que nós não estamos mais juntos daquela forma, nossa vida mudou muito nesse tempo e bom, agora você terá que entender a nossa nova forma de se relacionar... – ele abaixou a cabeça cortando nosso contato visual e dá uma volta no quarto.
- Ana, eu te amo do jeito que você quiser que eu te ame. Eu não quero atrapalhar seu lance com o Peter. Quero que você siga sua vida, mas todas as vezes que eu lembro de você, fico feliz por lembrar do seu sorriso, sua ingenuidade, delicadeza, das nossas conversas e momentos. Eu sempre vou sentir isso por você, não importa quanto tempo nós estejamos separados. Eu não me importo de esperar por você!
- Por favor Simon, não tente iludir a si mesmo dizendo que um dia iremos ter algo como tínhamos. Isso não vai mais acontecer – começo a chorar por causa da pressão que estava sentindo no momento, então começo a falar entre soluços – Foi muito difícil para mim superar o término da nossa relação. Você sabe o quanto eu estava perdida e depositando minha felicidade em você... Eu fiz tudo errado, me desculpa! Infelizmente, a gente não nasce com um manual de como ter um namorado – Ele me consola em mais um abraço limpando minhas lágrimas, e eu só simplesmente respiro fundo e digo – Estou indo para casa agora.
- Eu te levo! Vou tomar um banho rápido e pegar a chave do carro, certo?
- Tá bom. Vou esperar lá embaixo, na sala. – ele assente e sai do quarto sem falar mais nenhuma palavra.
Sinto que aquele silêncio ensurdecedor era necessário depois de eu ter colocado tudo para fora. Era perceptível que o meu coração estava desgastado em relação a ele, e espero que ele respeite o meu espaço. Amanhã é meu penúltimo dia aqui em Seattle e preciso me poupar de certas coisas. O Simon me chama e vamos direto ao carro.
- Está com frio? Quer que eu coloque uma música? Curte Louis Tomlinson?
- Simon, está tudo bem!
Não fiz contato visual e ficamos em silêncio durante o trajeto da casa dele até a minha, mas eu ainda continuava a chorar baixinho ao escutar a música Habit do Louis. Parecia que o Simon queria me acertar com várias flechadas no meu coração.
Finalmente chegamos e ele estaciona na frente da minha casa e ficamos olhando para a rua por alguns segundos ainda em silêncio.
- Alana, você não tem mais nada para dizer? Isso é um tchau para sempre?
- Para sempre é muito tempo. – Começo a falar pausadamente com uma voz chorosa e respirando fundo para que ele me entenda – Eu não vou passar muito tempo no Brasil. Acho que um mês e meio dará tempo de fazer tudo o que quero fazer por lá. Não posso perder a oportunidade, sabe? E enquanto a nós... Você já sabe que somos um capítulo fechado. Eu gosto de você, até sentirei saudade. Se quiser pode me ligar pelo menos uma vez enquanto eu estiver no Brasil.
- Pode deixar que eu te mando uma mensagem. – damos um abraço e ele fala – se cuida Ana! Estou torcendo por você e me desculpe por qualquer coisa.
Saio do carro em silêncio e caminho até a porta da minha casa. Olho para trás para ver se ele já tinha ido embora, mas ele ainda não tinha dado partida no carro. Eu imagino que ele não queria voltar para casa, o que ele realmente queria era sair do carro e correr para me beijar e passar a maior parte do tempo comigo até eu ir embora depois de amanhã. Isso não vai rolar Simon, eu estou em outra vibe agora. Abro a porta da minha casa e minha mãe aparece.
- Filha, onde você estava? – ela olha pela janela, percebe o carro do Simon e fala – Na casa daquele garoto? O que está acontecendo com você, filha?
- Mãe, não estou com cabeça para conversar agora. Vou me deitar que amanhã é o novo dia, meu último dia aqui em Seattle. Tenho certeza que o Peter vai inventar alguma coisa para fazermos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Redescoberta De Alana
Teen FictionUma garota norte-americana que descobre o verdadeiro significado da palavra resiliência após conhecer a outra parte que lhe faltava, o Brasil. A beleza cultural do Recife torna-se mais brilhante para Alana estando ao lado do seu pai biológico, pois...