Acordei, olhei para o Peter e ele estava em pé todo melado de creme de barbear no rosto. No momento que fui sorrir, levei a mão na boca e percebi que ele, aquele desgraçado, tinha colocado o creme na minha mão. De imediato, tentei cuspir a espuma para não engolir.
– Peter, eu vou te pegar! não corra não! A vingança é um prato que se come frio.
Ele sai correndo rindo da minha cara e se tranca no banheiro. Corro até o banheiro e bato milhares de vezes na porta para que ele abra.
– Você me paga! Eu vou vomitar! - Ele abre a porta e eu vou até a pia desesperadamente para me limpar.
– Você tinha que ter visto, foi hilário! E você mereceu...
– Cala a boca! - Dou um soco fraco na barriga dele.
–Ai, essa doeu.
Volto ao meu quarto e olho ao redor dele. Pelo menos, o carpete não sujou com essa brincadeira sem graça, e se tivesse sujado, o Peter iria limpar. Não sei o porquê dele inventar de fazer a barba hoje, se quase não tem. Bebo um pouco de água da minha garrafa que está em cima da cômoda branca e pego a câmera que já estava com o cartucho carregado na primeira gaveta.
É loucura pensar que quando voltar para os Estados Unidos não serei a mesma Alana, vou conhecer de verdade minha família paterna e realizar meu sonho de conhecer o Brasil, isso é incrível!
Com a câmera nas mãos, tiro algumas fotos do meu cantinho para eternizar esse momento de fechamento de ciclo que é único para mim. Pulo na cama para lembrar da maciez e abraço meu travesseiro para me sentir acolhida. O Peter aparece e me abraça por trás.
-O que foi? Só estou estou me despedindo
Levanto e tiro mais uma foto no espelho branco de chão que fica perto da minha janela com persiana. O Peter encostado na cabeceira da cama aparece dando língua para a foto. Abro a porta do guarda roupa e pego um álbum de fotos para colocar as tiradas agora e adicionar as que fazem parte do mural que fica na parede em cima da minha escrivaninha.
Pego minhas malas e coloco os cadeados para que elas não se abram durante o voo. Tento arranjar um espaço na minha mochila, a famosa bagagem de mão, para pôr os meus livros preferidos, a câmera instantânea com cartuchos novos, alguns esmaltes coloridos e o álbum de fotos para folhear quando bater a saudade do meu país e das pessoas que amo.
Dessa vez percebo que o Luís apertou o botão da campainha e minha mãe abre a porta com a maior classe por estar completamente deslumbrante e mostrando o quanto ela estava maravilhosa sem ele.
– Olá Vanessa, você está encantadora! – Luís fala entre suspiros e minha mãe não dá abertura para ele, apenas o olha de baixo para cima, o seduzindo.– A Alana está lá em cima terminando de arrumar as malas, se quiser pode subir. – Ela olha para as escadas esperando ele subir os degraus, mas ele decide ir em direção a sala.
– Prefiro ficar esperando aqui embaixo mesmo – Ele senta no sofá e coloca as mãos em cima dos joelhos. Era perceptível que estava tímido e um pouco nervoso.
Desço rapidamente com um sorriso no rosto e saltitante, o Luís olha para mim e sorri contagiado por perceber que estou animada com a viagem.
– Filha, você está preparada para ter uma viagem incrível e conhecer sua família? – Ele não está sabendo como agir, principalmente por falar inglês por um momento, e fico um pouco sem graça, por ele ter me chamado de filha, mas assenti balançando a cabeça para cima e para baixo.
– Luís, vou pegar minhas malas lá em cima com o Peter, você espera aqui? – Ele assente e subo novamente as escadas.
Chego no quarto e o Peter já está com minha mochila nas costas e uma mala na mão. Ótimo. Pego a segunda mala e descemos juntos para descarregá-las no carro da mamãe. Enquanto isso, minha mãe vai ao banheiro para retocar o batom e o Luís aparece na porta.
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A Redescoberta De Alana
Teen FictionUma garota norte-americana que descobre o verdadeiro significado da palavra resiliência após conhecer a outra parte que lhe faltava, o Brasil. A beleza cultural do Recife torna-se mais brilhante para Alana estando ao lado do seu pai biológico, pois...