Sophía

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-- Ser mãe é estranho. - era o que eu pensava ao acariciar o rostinho e os cabelos do meu anjo.

Você já imaginou o quão louco é se ver em outra pessoa? Olhar para um pedacinho seu, tão pequena, indefesa, tão inocente. Perdi as contas de quantas vezes a olhei dormir por horas e horas nos últimos dois anos, lembrando de quando ela crescia em mim, dos meus desejos absurdos no meio da madrugada e da vontade insana de fazer xixi todo o tempo. Eu rezei todos os dias por uma salvação, sonhava com poder acompanhar todos os passos e tropeços da sua vida. Agora eu sinto que isso será possível e o alívio me invade de uma forma que eu nunca achei possível.

É absurdo pensar que nos momentos de maior desespero foi quando eu realmente entendi como ela é a minha preciosidade.

Deitei lentamente ao seu lado e nossos narizes ficaram bem próximos. Esse rostinho, o cheiro gostoso, o jeitinho meigo e ao mesmo tempo raivoso. É inevitável não lembrar dele às vezes. Suspirei. Como a vida exige tanto de alguém tão pequenininho?

-- Mamãe? - sua voz saiu baixinha e cansada. Sorri deixando um beijo em seu nariz, vendo como ela o torcia e abria o sorriso preguiçosamente.

-- Tá se sentindo melhor, minha florzinha? - ela revirou os olhos e eu prendi o riso.

-- Não sou uma florzinha, mamãe! - explicou e eu suspirei aliviada, sinal que estava ótima. -- A titia disse que sou igual a Capitã América. - eu ri, não aguentei.

-- Então você prefere as heroínas, hm? - brinquei e ela encolheu os ombrinhos sorrindo toda sapequinha.

-- Todas nós somos, mamãe. - arqueei a sobrancelha.

-- O que?

-- Heroínas, oras! - eu ri.

-- Aaaah é? - beijei sua bochecha e ela riu. -- Eu não sabia, não. - dei corda e ela buscou minha mão, apertando-a. Fiquei curiosa com aquele gesto.

-- A titia disse que todas nós lutamos contra coisas ruins, só que nossos super poderes são invi...rizel. - ela pareceu pensar e eu ri.

-- Invisíveis?

-- invirivelis - eu ri mais e ela fez cara de brava, segurei outra risada.

-- Porque tá falando tanto da titia? - ela fez uma carinha triste.

-- Meu peito aperta...- estranhei. Será que ela estava sentindo alguma coisa? --...sinto saudade. - respirei aliviada, mas meu peito quem apertou ao ver sua carinha desolada, seu olhar indo longe.

-- Logo logo você vai encontrar com ela de novo! - ela negou.

-- Você disse isso há...- ela olhou pros dedinhos tentando contar e eu prendi o riso. Ela suspirou frustrada. -- Tem um montão de tempo, mamãe. - ela me olhou com mágoa e meu coração quebrou.

-- Lembra que nós duas tivemos que ficar beeeem longe de todo mundo, não é? - ela assentiu triste. -- Agora já estamos em casa, mas ainda precisamos ficar longe, meu anjo!

-- Por causa dos bichinhos maus?

-- Sim, a gente precisa ficar longe deles! - ela concordou e eu beijei seu rosto sentindo seu sorriso. -- A mamãe toda vez que chega da rua toma banho na garagem pra não trazer nenhum bichinho malvado pra casa.

-- Isso é um saco! - e cruzou os braços. Sorri.

-- É mesmo...mas agora estamos em casa! Você não gosta de dormir de novo no seu quarto? - ela assentiu rapidamente, mas logo entristeceu.

-- Mas no hospital eu tinha a titia...- suspirei. Minha filha estava sofrendo de saudade, e não havia sequer um mês que estávamos em casa e ela não via a famosa tia Aça.

A Receita Perfeita [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora