Pausa

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Desci a escada quase caindo de tão rápida que estava. Marcella levantou assustada do sofá.

-- Achei que estivesse dormindo com a Sofia! - ela olhou pra bolsa que eu segurava. -- Onde diabos você pensa que vai desse jeito?!

-- Ela me contou! - disse sentindo meu coração querendo sair pela boca.

-- O que?! Quem te contou o que? - levantei a carta que ainda segurava nas mãos.

-- A mãe guardou as cartas. Manu me contou quem era. - Marcella me olhou sem entender.

-- Ela te disse quem era por carta e não contou isso pra você?!

-- Na verdade, ela deixou claro na carta que era uma mulher e a forma como ela assinou escrevendo "sua estranha"...- suspirei irritada comigo mesma por não ter notado isso antes. -- Deus! Eu não me lembrava disso, mas acho que eu a chamei de estranha nas vezes que nos encontramos no colégio. Não de um jeito ruim...

-- Você não falou alguma coisa sobre a chef te chamar assim? - assenti tentando disfarçar um sorriso. Eu amo quando ela me chama assim. Olhei para Marcella e ela tinha um sorriso no rosto.

-- Que?! - ela encolheu os ombros parecendo pensar.

-- É como se aquela Rafa tivesse voltado à superfície, mesmo que não totalmente. Olha como você está nesse exato momento...- suspirei tentando entender o que ela estava dizendo. -- De pijama, com uma bolsa na mão e uma carta na outra, tá chovendo horrores lá fora e você quer sair pra falar com a Manu...não é isso?! - senti minha pele arder de vergonha. -- Você ao menos sabe onde ela tá?! - suspirei derrotada e me aproximei, jogando a bolsa no sofá e me jogando nele em seguida. Vi seu olhar acompanhar cada passo meu enquanto dobrava a carta com todo o cuidado do mundo.

-- Ela parece ter se isolado e Cat não quis me contar nada...mas óbvio que você tem razão, acabei esquecendo disso e, aparentemente de todo o resto, quando li essa carta. - minha voz demonstrava a angústia dentro de mim e minha prima sentou ao meu lado, seu olhar transbordava carinho. -- Estou sendo impulsiva e inconsequente como há 10 anos, não tô?! Minha cabeça e meu coração estão uma bagunça, essa é a verdade...- desabafei e ela negou rapidamente.

-- Sua cabeça pode estar uma bagunça, mas seu coração sempre soube o que quer. - olhei de lado pra ela, que encolheu os ombros. -- Não fique chateada comigo por eu dizer a verdade. Sabe que te amo e faço isso pra tentar te ajudar com o que parece estar sendo um conflito enorme dentro de você...

-- Um conflito?! - ela assentiu.

-- Entre o que você quer e o que sua cabeça te diz que é inaceitável...- suspirei. Ela tem razão, estou em puro conflito. -- Você ama a Manu, eu não sei explicar, talvez nem você consiga explicar, mas seus sentimentos não mudaram mesmo depois de saber de tudo...

-- Acho que depois de tantos anos achando as piores coisas dela sem saber ao certo o que tinha acontecido, nutrindo isso em mim mesmo dizendo que não pra todo mundo...a surpresa mesmo seria se eu não sentisse mais nada por ela. - e ela suspirou.

-- Vê o que tá fazendo? - olhei sem entender. -- Tá tentando justificar o fato de ainda ter sentimentos por ela. A verdade é que você tem sentimentos por ela e sua cabeça fica constantemente tentando justificar isso, como se você precisasse de motivos ou de uma desculpa pra amar a Manu.

-- Depois de tudo que descobri...pode dizer que tô errada em tentar encontrar uma explicação lógica pra continuar com esse amor aqui dentro?! - ela negou.

-- Não, mas seja lá o que ela escreveu nessa carta, você tá usando como desculpa pra ir atrás dela. Apenas não é saudável...você tá tentando justificar o fato de ainda querer estar com ela, querer viver essa história com ela...

A Receita Perfeita [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora