Relatio

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Uma das coisas que meu pai sempre dizia é que só quem teve o privilégio de viver muito sabe como o tempo é poderoso. Taí algo que ele me ensinou que eu jamais poderei refutar.

Ele tinha razão, embora neste momento eu saiba que o amor pode competir de igual pra igual com o tempo nesse quesito.

O amor e o tempo só diferem na forma das coisas. Enquanto o tempo é caprichoso por usualmente mudar sua visão das coisas e suas atitudes ao longo do caminho, o amor tem ação muito mais rápida, ele te te faz tomar atitudes loucas do dia pra noite. Talvez por isso a conversa com Manu tenha mexido tanto comigo.

Cada diálogo que eu tive com ela sobre a Kalimann desde que ela voltou pra minha vida girava na minha cabeça e me fazia questionar o que eu estava fazendo e pra onde eu queria de fato ir como a executiva que eu sempre fui criada para ser.

Eu simplesmente não conseguia parar de me perguntar que tipo de líder eu sou. Talvez eu também esteja tendo o tal do pensamento intrusivo que Manu me explicou. No meu caso não era nada absurdamente catastrófico como imagino que é no caso dela, mas a ideia de que eu estava fazendo tudo errado na minha vida profissional me consumia desde a nossa conversa naquela noite.

Eu demorei a dormir, acordei e não conseguia fazer com que esses pensamentos fossem embora. Eu os expulsava e eles voltavam quando eu menos esperava.

-- Rafa? - Marcella disse assim que a Diretoria saiu da sala e só ficamos nós e Bianca.

-- Hm? - Bianca deu uma risadinha e ambas se olharam de forma cúmplice. -- Que foi?

-- Não te vi hoje no café da manhã...- franzi o cenho. O que tinha a ver?

Dei de ombros. -- Acabei acordando tarde demais e quando desci você já tinha ido.

-- Tá tudo bem entre você e a Chef? - Bianca perguntou e eu recostei na cadeira, olhando para elas duas.

-- Onde vocês querem chegar?

Bianca recostou na cadeira também e eu senti como se fôssemos ter uma espécie de conversa séria.

-- Você apostou alto demais levando os produtores pro evento do seu projeto...um evento que era pra ser interno. - Bianca jogou e eu assenti.

-- Foi um tiro no escuro, mas convidar os produtores era a melhor forma de incluí-los no projeto. - respondi e Marcella riu.

-- Nós três sabemos que isso não é inteiramente verdade, Rafa. - minha prima disse. -- Você pode ter conseguido enrolar a Chef, mas nós duas aqui te conhecemos bem demais...

Revirei os olhos. Tudo bem. Eu sabia que a Kalimann precisava que os produtores tivessem certeza da participação da Manu nesse projeto pra dar certo, mas não foi o motivo principal de eu ter os convidado.

-- Porque tá tão aérea hoje? A Chef brigou com você por causa disso? - Mar perguntou.

-- Não. - respondi pensativa. -- Nós estamos bem. - elas me olharam em dúvida. -- Eu juro! - suspirei. -- Não é nada com ela, eu só...tô pensando em algumas coisas.

-- Pessoais ou profissionais? - Bianca questionou e eu encolhi os ombros pensando se falava ou não a verdade. -- Vamos! Eu vi como seu semblante foi mudando ao longo dessa reunião. O que acontecendo?

-- O que vocês acham da minha gestão?

As duas me olharam surpresas.

-- Eu te admiro, sempre deixei isso claro. - Bianca disparou, seu olhar questionando aquela minha demonstração de insegurança. -- Pra mim, você é a melhor CEO que essa empresa já teve.

A Receita Perfeita [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora