Sentimentum

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2 dias depois

-- Então tá me dizendo que sentiu alertas e soube que era medo?

-- Quantas vezes vai me perguntar a mesma coisa de formas diferentes, doutora?

-- Desculpa! - ela deu de ombros. -- É que estou tentando compreender melhor a situação...você disse que o dia havia sido agitado, mas normal dentro da sua rotina...- assenti. -- Então você resolveu criar um cardápio novo pra mulher especial e...

-- Não é especial...ela é uma mulher que eu quero muito levar pra cama. - dei de ombros e ela sorriu como se eu fosse a pessoa mais safada da face da Terra. -- Acho que isso não faz dela especial, doutora...nunca neguei que quero levar muitas mulheres pra cama, certo? A diferença é que eu senti que teria que fazer algo a mais do que só pagar umas bebidas e jogar charme pra conseguir isso com ela.

-- Ok. - ela anotou algo no caderno e eu suspirei com preguiça daquilo. -- Você cogitou a possibilidade de estar racionalizando suas ações ao invés de tentar pensar emocionalmente como estamos treinando fazer? - neguei. -- Já pensou que outras mulheres difíceis, essas que normalmente precisam de bem mais que um drink e charme, já tenham passado por sua vida e nem por isso você resolveu fazer um cardápio exclusivo pra elas irem parar na sua cama? - neguei.

-- Não acho isso possível, porque nenhuma mulher gostosa assim eu deixaria passar... - ela soltou uma risadinha. -- Mesmo que fosse teoricamente difícil.

-- Teoricamente difícil? - suspirei. Como eu poderia explicar isso?

-- É que eu sinto que ela é uma mulher difícil normalmente, mas por algum motivo, ela não é difícil pra mim...- ela mordeu o lábio prendendo um sorriso. -- Que foi?

-- Você é diferente, Manu...normalmente as mulheres se interessam pelo diferente.

-- Hm. Não sei bem se entendi.

-- Você é engraçada, inteligente, bem articulada, cozinha bem e tem algo que é super raro...não tem filtros, e por mais que isso choque um pouco às vezes...é interessante, combina com você. - levantei a sobrancelha.

-- Tá dando em cima de mim, Doc?! - ela riu ficando vermelha. Estava sem graça. É...a doutora estava na minha. Impressionante como isso eu não tenho dificuldade alguma pra entender.

-- Não estou dando em cima de você, e nem posso...mas não sou cega e nem imune aos meus clientes... - ela deu de ombros. Ela era ética. Gostei disso.

-- Podemos voltar ao assunto? - resolvi cortar antes disso ficar estranho.

-- Você fez algo porque sentiu que precisava e isso é um avanço gigantesco.

-- O que quer dizer?

-- Você diz que ela não é difícil pra você, então é certo dizer que fez o cardápio porque sentiu que deveria, você quis fazer, não foi por ela ser difícil Manu! Você tá tentando se enganar afirmando isso!

Eu não tinha pensado nisso, mas ela tinha razão.

-- Tudo bem...faz sentido. - ela concordou sorrindo. Acho que feliz por eu ter admitido algo assim.

-- Então, depois disso, você teve a sua chance de beijá-la, mas sentiu uma "aflição generalizada pelo corpo, como se fosse um sistema de alertas avisando que se o fizesse seria sem volta". - ela leu a última parte do caderno. Foi exatamente o que eu disse.

-- Medo. - ela concordou.

-- Só que não adiantou nada não ter beijado a moça, porque pensou demais nela nos últimos dias...- assenti e ela sorriu. -- Como foram os dias que a ignorou no whatsapp?

A Receita Perfeita [Ranu]Onde histórias criam vida. Descubra agora