Capítulo 3

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O dia que Zoro conheceu o garoto monstro, foi um dia bem aguardado pelo o mesmo. Zoro faria 7 anos, era seu aniversário e pela noite seus pais resolveram levá-lo para um parque de diversões, que fazia temporada na cidade em que morava na época. Era pequeno, feio e enferrujado, mas Zoro o observava com olhos de crianças, olhos que não viam maldade e que não julgavam. Admirava as luzes coloridas e estava muito feliz pela surpresa. Sua mãe dissera que fora ideia de seu pai e o pequeno ficou ainda mais feliz, pois sabia o quanto era frio o relacionamento entre os dois.

Era distante.

Ainda chovia quando Zoro acordou e resolveu se levantar de seu futon. Sentia um pouco de frio e resolveu vestir um casaco com um haramaki verde. Fitou o pequeno relógio em cima da televisão no chão. Eram 3 horas da tarde e bocejou, esticando os braços para cima. Estava um pouco chocado por cada dia acordar cada vez mais tarde. Mas tinha uma grande necessidade para dormir e aquele tempo não ajudava. Depois andou até a cozinha com seus chinelos de madeira e colocou a água para ferver no fogão, faria um café.

Andou mais uns passos e chegou na varanda protegida por uma marquise velha e ondulada. Se apoiou no batente e seus olhos fitaram o horizonte para ver se via sombra daquele sobrancelha enrolada.

Mais uma vez se perguntou o motivo do garoto ter se dado o trabalho de andar da escola até sua casa debaixo da chuva - era um caminho longo. Por mais que estivesse com guarda-chuva, continuaria molhado pelo vento forte e a chuva grossa. Zoro até mesmo percebeu que o garoto estava praticamente ensopado no outro dia e nem ao menos emprestou uma toalha para que se secasse.

"Nem ao menos emprestou uma toalha, enquanto ele trouxe uma deliciosa comida."

A voz grave do garoto monstro lhe lembrou.

"Ele virá hoje também como prometeu e dessa vez você será gentil, mas lembre-se de que você carrega os genes de seu pai."

— Cala a boca!! Eu vou afundar a cara daquele sobrancelhudo na lama pra nunca mais querer se envolver comigo!!

Direcionou seus olhos para o corredor, onde o garoto monstro estava, mas o mesmo já havia ido embora. Bufou e voltou a fitar o horizonte até que a água fervesse.

Por volta das seis horas, Zoro notou algo no horizonte enquanto esvaziava um balde para pô-lo de volta no lugar que caia algumas gotas da chuva na pequena sala de sua casa.

Assim que jogou a água acumulada na terra do terreno, viu Sanji se aproximar com um guarda-chuva. Porém, o rapaz loiro fitava o chão enquanto cambaleava. Zoro percebeu que não estava bem e entrou na chuva para pegá-lo antes que desmaiasse naquele temporal.

— Aguente firme! Fique acordado! - Zoro tentava mantê-lo acordado, pelo menos até que chegasse na sua casa, mas o sobrancelha enrolada não conseguia respondê-lo.

Zoro o pegou no colo e correu até sua casa. Sentiu que sua pele queimava e quando chegou no barraco, trocou suas peças de roupas por umas secas.

— Que idiota você é! É claro que ficaria doente por andar na chuva! - Disse para Sanji, que estava no futon, debaixo de cobertas e respirava um pouco mais rápido. Porém, sua pele voltava a ganhar cor e Zoro se sentia menos preocupado.

— Eu trouxe as matérias de hoje...

— Sei disso, exatamente como prometeu. Agora descanse.

Sanji fez o que Zoro mandou e caiu no sono. Enquanto isso, o marimo se manteve ao seu lado até que acordasse.

Zoro observou aquela sobrancelha estúpida e pensou que não era tão medonha vista de perto. Riu por um garoto tão bonito ter um defeito tão gritante em seu rosto. Mas corou quando notou que havia pensado que Sanji era bonito.

Foi nessa hora que Zoro vira que a previsão do garoto monstro se tornara realidade. Em vez de afundar a cara do loiro na lama, pegou-o no colo para evitar que caísse. Coçou um olho quando se lembrou de outra coisa que o garoto monstro dissera: carregava os genes de seu pai.

Assim que chegaram em casa, o garoto segurava um algodão-doce que não conseguira comer de tão doce que era, e a partir daquele dia passaria a odiar tudo que tivesse açúcar como se fosse merda. Foi até a cozinha jogá-lo fora antes que sua mãe soubesse que gastara dinheiro atoa. Zoro até mesmo fez pirraça para que experimentasse um, mas estava melhor ali no lixo. Colocou no fundo da lixeira para que sua mãe não visse e foi para a sala assistir televisão.

Na mesma noite sua mãe fizera hambúrgueres na chapa e Zoro comera uns 5 muito satisfeito. Porém, quando terminou o quinto, seu pai lhe chamou na cozinha. O garoto estava sentado no tapete assistindo televisão, mas se levantou contente por seu pai demonstrar interesse por ele mais uma vez.

— O que foi, pai?

Sentiu a mão pesada de seu pai tocar sua nuca, fechando os dedos pelo pescoço. Pegou-lhe no colo e inclinava seu corpo até que uma de suas orelhas tivessem contato com a chapa quente. O fogo estava ligado, a chapa acumulava todo o calor e as gorduras restantes das carnes de hambúrgueres borbulhavam. Seu pai não via a hora de ver a carne de seu filho borbulhar e ria de um jeito assustador como se estivesse delirando.

Zoro viu o garoto monstro pela primeira vez por trás dele. Dava-lhe um sorriso reconfortante.

O pai pressionava a orelha na chapa quente com o peso de seu corpo. Porém, Zoro não gritava de dor, e por isso puxou o filho para dar uma olhada na cartilagem perfeitamente impecável como se nunca estivesse sob uma temperatura alta. Ficou chocado.

Zoro, assustado com o jeito do pai, golpeou seu rosto e correu para o quarto quando caíra no chão.

Mais tarde seu pai o chamaria de monstro por não ter se queimado até sua mãe se separar dele.

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