Capítulo 4

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Sanji acordou. Estranhou o lugar bagunçado que estava e não conseguia se lembrar de como chegara ali. Levantou o torso do futon e viu Zoro dormindo sentado e de braços cruzados no canto do quarto. Pelo visto estava na casa do marimo.

Depois procurou por um relógio e achou o que ficava sobre a Tv. Eram 10:30 da manhã e entendeu que não dava para ir ao colégio nessas horas.

Sem saber o que fazer, levantou-se vestido com sua samba canção e uma camisa grande para o seu corpo. Deveria ser de Zoro, concluiu depois de observá-la.

De repente se lembrou da sensação do tato do marimo, e imagens abstratas da sua feição preocupada tomaram sua mente. Lembrou-se de tudo, enquanto esfregava um lado da cabeça que doía.

Se lembrou que Zoro havia cuidado dele no outro dia.

Com um sorriso que não conseguira conter, puxou a gola da camisa até o nariz e inspirou fundo. Queria sentir o seu cheiro, seu cheiro de suor impregnado naquela malha.

Sanji precisava convencê-lo a ir pra escola, senão não teria um motivo para frequenta-la. Zoro também não podia achar que nascera para ser um ordinário, ele deveria entender que tinha potencial como qualquer um.

Fitou-lhe mais uma vez e parecia que dormir naquelas condições não era um impedimento, já que dormia profundamente. Resolveu ir na cozinha daquele barraco, mas ouviu um barulho estranho e percebeu que era do marimo. Balbuciava algumas palavras inaudíveis enquanto dormia, mas duas Sanji conseguira ouvir claramente: "garoto" e "monstro".

Deu uma olhada na dispensa e não achou nada. Pensava em como a mãe do marimo fazia comida e acabou achando um bilhete junto de um envelope na gaveta de um dos armários. A caligrafia era confusa, mas Sanji conseguiu ler aquele pedaço de papel. Ficou assustado ao saber que a mãe do marimo o abandonara. Depois abriu o envelope, que deveria ter o dinheiro que ela mencionara no bilhete, e ficou chocado por não ser muito. Porém, o sobrancelha enrolada pegou algumas notas mesmo assim e foi para o mercado.

Quando Zoro despertou, um cheiro gostoso inundava sua casa. Saiu de seu quarto e viu Sanji esfregando com uma escova o chão da sala. No cômodo ao lado e sobre a mesa havia uma grande refeição decoradíssima que lhe assustou.

— Que porra está fazendo?

Sanji levou um pequeno susto com a voz do marimo e parou de esfregar o chão para fitá-lo. - Finalmente acordou! Anda, tem comida e vai comer.

Zoro achava aquele loiro um abusado, continuava a falar de um jeito imperativo como se fosse sua mãe!

— Não vou comer sua comida! Uma pena ter gastado o seu dinheiro e tempo atoa!

— Eu gastei foi o seu dinheiro.

— O quê?!

— E também li o bilhete de sua mãe, é por isso que não vai mais a escola? - Largou a escova e se levantou encarando os olhos castanhos do outro.

Zoro deu um suspiro, aquele sobrancelhudo parecia um parasita querendo saber sobre tudo. Deveria se explicar dizendo quem era e por que não largava de seu pé. - Acho que tá na hora de você ir embora.

Mas Sanji voltou a esfregar o chão.

— Você está me ouvindo por acaso?! - Exclamou aborrecido e o loiro lhe respondeu com assobios emulando uma canção, que o deixou ainda mais nervoso.

Zoro deu meia volta e resolveu abrir a geladeira para pegar uma garrafa de saquê a fim de beber na varanda. No entanto, Sanji o parou.

— Ei, eu disse para você comer! Se seguir esse ritmo de só tomar álcool irá morrer!

— Você também. - Retrucou abrindo a garrafa e vendo o cozinheiro confuso com sua réplica. - Pare de fumar antes que seus pulmões virem carvão! - Virou a garrafa, deixando a bebiba escorrer um pouco sobre sua pele morena.

Sanji ficou surpreso. - Como sabe?!

— Seus dedos são de fumantes, sobrancelha enrolada. - Enxugou a boca com o antebraço.

O loiro fitou suas mãos ensaboadas e de fato, se olhasse bem de perto, veria que seus dedos eram amarelados. Mas ninguém nunca havia notado antes. Aquele cara era observador, realmente não era como os outros garotos da escola, aqueles ogros desprovidos de sensibilidade e-

Zoro arrotou.

Ou Sanji estava muito enganado.

A casa de Zoro estava limpinha e cheirosa, Sanji nunca juntara tantos sacos de lixo como dessa vez. No entanto, jurava que algo ainda cheirava mal e o rapaz farejava a casa inteira até se dar conta que o cheiro vinha do próprio proprietário idiota.

— Há quanto tempo não toma banho?

— Não lembro.

Com essa resposta, Sanji prendeu Zoro no banheiro e disse que só sairia se esfregasse o corpo inteiro.

— O seu ôfuro fica lá fora? - Gritou próximo à porta.

— Sim. - Respondeu do banheiro.

Foi para fora, mas não encontrou o ôfuro ao redor da casa, estava confuso até achá-lo num estado degradante. O barril estava jogado no terreno com lodo e tudo.

Deu um suspiro e foi pegar um balde e a escova de antes para esfregá-lo. Depois, com muita dificuldade, arrastava o barril até ficar próximo da casa e do local com materiais de construção e que havia madeiras para usar como lenhas.

Sanji estava sujo e fedorento (um ogro praticamente) quando observava de longe Zoro todo sorridente aproveitando a água quente do ôfuro.

— Parece que você deu um trato na minha casa, né?

Riscou um fósforo e acendeu um cigarro. - É.

— Costuma fazer isso sempre que visita um amigo?

— Não sei. - Soprou a fumaça para o alto. - Nunca tive um amigo para visitar.

Zoro arqueou a sobrancelha, intrigado. - É por isso que quer ser meu amigo?

— Quando disse que queria ser seu amigo?

— Ora, se vem pra cá todos os dias debaixo da chuva e ainda cozinha e limpa a casa pra mim, não seria pra ser meu amigo?

Sanji deu outra tragada, sua postura estava relaxada apesar de todo estresse que o marimo lhe fez passar durante o dia inteiro. Olhou pra cima depois de soltar a fumaça e viu que era noite de lua cheia. Também pensou que o idiota descrevera uma esposa e não um amigo. - Eu quero dar para você. - Disse naturalmente, enquanto tragava mais uma vez. Se levantou da pedra em que estava sentado. - Vou pra casa, até mais. - Pegou sua mochila ao lado da pedra e já estava vestido com seu uniforme que secou graças ao esverdeado por colocar para secar no outro dia.

Zoro piscava os olhos surpreso com o que ouviu. - Espera! - Gritou e o loiro parou. - Amanhã você vem?

— Mas é claro, você precisa das matérias de hoje e de amanhã. - Deu um aceno e continuou a andar.

O rosto de Zoro devia estar mais quente que a água em que estava imerso. Por acaso aquele sobrancelha enrolada era tarado? Ou somente um maluco?

Enquanto voltava pra casa, Sanji pensava que durante aquele dia, pareceu ter sido outra pessoa. Nunca daria ordens ou repreenderia um de seus irmãos.

Um bom motivo pra ter agido daquele jeito foi porque não aguentava ver um lugar bagunçado e uma pessoa se alimentar tão mal. Mas ele sabia que havia um outro motivo.

Se importava com o marimo e não acreditava que sua mãe o havia deixado.

Colocou o peso de seu corpo na mochila em seu colo. Sentava-se no banco do trem e teve uma ânsia que quase o fizera vomitar. A vida do marimo era uma desgraça, mas faria aquele ogro voltar a estudar de qualquer jeito.

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