Alter ego

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Havia um motivo para Zoro achar que estava fadado a fracassar, assim como havia um motivo para Zoro ser carente.

Sua família sempre foi muito pobre, começou a trabalhar desde cedo, embora só trabalhasse durante suas férias. Tinha uma mãe alcoólatra que também sempre fumava, as pontas de seus dedos eram amarelas e foi por isso que Zoro notara o amarelado nos dedos de Sanji. Recentemente sua mãe tinha um namorado que a agredia e fugiu com o mesmo, largando Zoro para trás.

Mas durante sua infância, sofrera mais nas mãos de seu pai. Por um motivo que sua mãe desconhecia, seu pai o machucava com frequência a ponto de acabar com o casamento.

O incidente da chapa aquecida, na verdade não aconteceu daquela forma, ela estava apagada e por isso Zoro não perdera sua orelha. No entanto, seu pai tinha certeza que o fogo estava aceso e chamava Zoro de monstro por não ter se machucado. Mas tudo não passava de uma ilusão em que ele acreditou veemente.

E fez Zoro acreditar também.

Assim como o fez acreditar que era um monstro.

O rapaz passara boa parte da infância com um dedo indicado para si, enquanto ouvia as palavras "monstro, garoto monstro!"

Seu pai lhe importunava não só fisicamente, como também psicologicamente.

Sua mãe não aguentou mais aquilo e se mudou com Zoro para outra cidade, tinha apenas 14 anos na época e talvez essa fora a melhor decisão que sua mãe já fizera na vida.

Mas ainda morando longe, Zoro continuava perturbado e criou um alter ego que sempre o puxava para baixo ou o sabotava. Ouvir de seu pai e depois de sua mãe que não era um bom filho e nem um bom sujeito, lhe fizeram pensar que tinha alguma espécie de maldição. Sua mãe mesmo se tornara alcoólotra depois que viveu sozinha com ele.

E esse alter ego se chamava "garoto monstro". Exatamente aquilo que seu pai dizia para insultá-lo ou traumatizá-lo.

Toda vez que amava algo, fazia de tudo para se afastar. Era por isso que se mantinha isolado na escola, não queria amaldiçoar nenhum colega. Porém, Sanji apareceu e ele se rendeu ao rapaz da sobrancelha enrolada. Durante os dias com o loiro, sentia um conflinto intenso a ponto de causar ânsias e tonturas. Um medo de matar a pessoa que mais amava e a única que o amou, dominava sua mente. Mas Zoro era carente e ele precisava pousar sua cabeça no ombro amigo para chorar muito. Numa noite, contou tudo para Sanji com medo de repudiá-lo a partir daquela confissão, mas o loiro o ajudou e esclareceu melhor as coisas.

O sonho que tivera era apenas uma paranoia devido o medo de ser como o seu pai, e ele ainda percebeu que com Sanji ao seu lado, o garoto monstro não apareceu mais.

O garoto monstro era a ansiedade, o medo, a tristeza, a autossabotagem, a baixa autoestima... todos os sentimentos que lhe faziam não progredir.

Mas agora estava disposto de recuperar todos os anos de sua vida que perdera por conta de uma paranoia idiota.

Naquele dia, após os dois tomarem café da manhã, Zoro foi até um posto encher um galão de gasolina, enquanto Sanji tirava tudo de valor e útil do barraco.

Ao chegar, Sanji disse que já havia arrumado suas coisas e Zoro resolveu despejar a gasolina pelo barraco feito de madeira. Depois pegou os fósforos de Sanji e riscou um para cair sobre o rastro de gasolina.

Em questões de segundos, o barraco queimava e uma fumaça subia para o céu.

Os dois fitavam as ligas de madeira caindo aos poucos, deixando o barraco irreconhecível.

— Será que tomamos a decisão certa? - Perguntou Sanji um pouco apreensivo e Zoro riu com seu comportamento.

— Pensei que entraríamos nessa sem medo.

— Verdade. A página está virada agora.

Os dois pegaram suas respectivas mochilas do chão e passaram a andar de mãos dadas naquele terreno tão longo e de terra seca. Iriam vagar pelo mundo a procura de algo ou nada. Iriam vagar como verdadeiros ordinários sem medo do amanhã.

For tomorrowOnde histórias criam vida. Descubra agora