Aquele em que perco alguém importante

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-Nina? – Sua voz era receosa, olhei para trás e Draco estava parado de pé, próximo a uma árvore, um pouco acanhado. Enquanto eu o olhava por cima do ombro pude sentir o fogo do inferno lambendo meus ferimentos, causando-me uma sensação de alívio nas costas e no meu antebraço que agora era abraçado por dois braceletes compridos, senti uma leve ardência em meus olhos, mas ainda estava cega de um deles. A cena que Draco devia estar vendo eram de chamas me consumindo, o que talvez o deixasse mais assustado.

Escutei um grunhido alto e então me lembrei de ver Orpheu caído em algum momento, corri atrás dele sem pensar duas vezes enquanto aparentemente Draco corria atrás de mim aos tropeços, gritando o meu nome.

Orpheu estava caído no chão, com sua forma animal transcendendo de segundo em segundo com a sua forma como duende e até outros tipos de pássaros, em constante agonia e sofrimento. Me ajoelhei ao seu lado me sentindo impotente, minhas mãos tremiam e eu não tinha ideia de como aliviar aquilo.

-Nina! – Draco ofegava por estar gritando meu nome durante todo o trajeto – Por Merlim garota! – Quando ele chegou perto o suficiente dava para perceber que ele suava frio, os cabelos loiros grudando na testa, as bochechas vermelhas por conta da corrida.

-Draco pega a minha bolsa e a bolsa de Nick! – Apontei para onde acreditava que estavam jogadas ambas as bolsas, sem nenhum senso de direção. – Anda! – Gritei irritada, tentando por a mão em Orpheu.

-Mas... – Ele me olhava questionador e até mesmo um pouco assustado com a situação de Orpheu.

-Eu juro por Satã que se meu familiar morrer por sua culpa.. – Empurrei seu peito e com a força mágica que carreguei em minha mão ele foi parar a alguns metros de distância. – Aguenta firme amigão... – Quando de volta a sua forma de calopsita por alguns segundos pude talvez escutá-lo resmungar em minha mente, o que me fez sorrir mesmo em meio as lágrimas – Eu te busco até no inferno seu pássaro insuportável!

Draco me entregou ambas as mochilas, com a cara fechada, nitidamente irritado. Na minha mochila haviam mais ingredientes para preparar inúmeras poções e também o necessário para o ritual que levaria Draco embora, inúteis no momento mas na bolsa de Nick, havia uma variedade de poções de cura já prontas, a maioria gasta por ele tê-las usado em mim. As despejei aonde mais sangrava em Orpheu, cantarolando um feitiço de cura com as minhas mãos sobre o ferimento, minhas mãos brilhavam em um leve tom de vermelho, não dourado como deveria ser, as lágrimas atrapalhavam que eu enxergasse muita coisa.

"Me deixa ir!" O escutei em minha mente.

-Não! – Gritei ainda tentando curar o ferimento, mesmo sabendo que era praticamente inútil, com os braceletes do inferno, magia branca como as de cura perdiam parcialmente o seu efeito. Me sentei na terra ainda com o olho bom embaçado de lágrimas, tentei arrancar o bracelete só por alguns segundos, apenas para curar Orpheu mas era como se estivessem colados e me apertando mais. – Maldito Lucifer! – Gritei alto desistindo do bracelete. - Você é mesmo um anjo sabia!?

-Nina... – Draco passava as mãos pelas minhas costas tranquilamente, as vezes me fazia um cafune na nuca, ele estava joelhado ao meu lado apenas me deixando ter o meu momento. – Eu sinto muito...

Retirei a poção sonífera que pretendia dar aos cães do inferno e despejei uma grande quantidade na boca de Orpheu, que espumava sangue, o efeito foi praticamente instantâneo. Vasculhando a bolsa de Nick pude encontrar uma pequena adaga, a peguei em mãos e cortei a garganta de Orpheu, guardando um pouco do seu sangue em um pote. Quando tudo isso estava feito, voltei para perto de Draco, eu apenas queria alguns minutos de silêncio para conseguir superar a morte de Orpheu, que estava comigo a mais tempo que um ser humano comum consegue viver, me aninhei perto do peito dele, desejando desesperadamente que ele retribuísse com carinho e ele assim fez.

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