Aquele em que enfrentamos a deglorificada

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Enquanto corríamos pela floresta um tanto quanto sem rumo, se arranhando nos galhos secos e até mesmo ficando presos neles por alguns segundos, minha mão não soltava o pulso de Draco de maneira nenhuma, que por sua vez, relutava contra o meu puxão repentino e corria desengonçado, tropeçando de minuto em minuto.

-Eu sei muito bem como andar sozinho! – O rapaz puxou o braço em um momento em que eu estava tentando decidir qual direção tomar de frente a uma bifurcação na floresta, me puxando junto e levando ambos os corpos ao chão. – Que droga Nina! Pelas barbas de Merlim por que estamos correndo?

-Você não pode simplesmente se sentir agradecido!? – Agarrei a camisa já encardida do rapaz, o puxando para perto furiosa, a minha intenção era socá-lo mas apenas mantive o contato visual, os olhos praticamente ardendo em brasas contra a pacificidade da lagoa azul que habitava os olhos de Draco.

-Se você não agisse como uma maluca eu talvez agradecesse! – Suas mãos envolveram meus dois pulsos, invertendo o jogo muito facilmente, até que os braceletes começaram a esquentar a palma de sua mão, o fazendo soltar rapidamente.

-Mortais... – Desdenhei empurrando seu peito com o pé, para ter mais espaço para levantar do chão lamacento.

-Por que estamos correndo? – Ele perguntou curto e grosso.

-Porque eu acho divertido correr pela floresta escura e desconhecida com um garoto loiro arrogante e mesquinho!

-Você tem um péssimo senso de humor – Ele comentou arrumando a manga da camisa suja, como se fosse fazer algum tipo de diferença em sua aparência.

-Floresta do sussurro – Indiquei com a cabeça para o local em que estávamos. – E estamos no solstício de inverno, a época do ano em que o véu entre os vivos e os mortos fica mais fino, demônios e espíritos ficam mais fortes nessa época do ano, o que possibilita a alguns espíritos bastante hostis e incontroláveis a passarem para esse plano.

-E você viu um onde estávamos? – Afirmei que sim com a cabeça a sua pergunta.

-Alguns a chamam de deglorificada, é meio que um humano que morreu de alguma forma trágica e não pode passar desse plano, pelo estado dela, acho que morreu recente então está faminta e mais agressiva que o comum. – Mantive os olhos no caminho de onde viemos correndo, esperando que mais cedo ou mais tarde aquela criatura surgiria gemendo e se arrastando pelas árvores.

-E como lidamos com isso no seu mundo? – Draco se postou ao meu lado, também olhando para o pequeno vão em que passamos pelas árvores.

-Em épocas normais, uma fogueira de Yule nos protegeria, no momento atual... – Apenas balancei a cabeça negativamente.

-O que? Então você quer dizer que ela é invencível? – Malfoy ria, uma risada de desespero. – Eu vi você enfrentando cães gigantes vindos do inferno, o que é um espiritozinho não é mesmo? – A voz trêmula entregava que o garoto estava com medo de morrer.

-É complicado demais banir uma deglorificada, teríamos que resolver o assassinato dela ou compensar a sua morte com algum tipo de calmaria para sua alma e definitivamente não temos tempo para isso, minha magia é sombria demais para algo do tipo - Levantei uma das mãos apenas para indicar o bracelete.

Enquanto Draco me fazia perguntas com sua voz trêmula, nitidamente assustado com a situação aparentemente não solucionável minha mente trabalhava em algum tipo de plano para parar a criatura. Apenas ficar na defensiva não era a melhor escolha, correndo para dentro da floresta e se afastando mais do ritual de troca de realidade, que possuía até o momento apenas três ingredientes, ingredientes esses que eu não conseguiria substituir antes que Draco perdesse completamente a memória. Ataque direto apenas iria nos cansar e eu precisava de energia para o ritual.

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