Capítulo 4

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Kathy não sabia que horas eram, mas sabia que já era bem tarde ou cedo demais. Girou para o outro lado da cama irritada por não conseguir dormir, virou mais uma vez e por fim decidiu desistir de tentar . Levantou com o corpo pesado pelo longo tempo ocioso, catou seu moletom que tinha largado na poltrona cor de creme e saiu do quarto.

O corredor tinha uma iluminação fraca e permanecia silencioso, mas enquanto ela andava em direção ao hall de entrada pode ouvir o som de risadas contidas, andou mais rápida com curiosidade sobre os donos das vozes. Chegou ao hall, mas ainda não tinha ninguém, parou por um instante para o observar o ambiente e tentar ouvir melhor as vozes. O salão estava escuro então ela pescou o celular que tinha deixado no bolso do moletom e o ergueu a sua frente iluminando o ambiente com uma luz fraca.

Ela não tinha observado com atenção da última vez que esteve aqui, as paredes do hall eram repletas de fotos de diversos tamanhos, parou em frente a um quadro que continha a foto de uma menina lá com seus oitos anos pele negra, seus cabelos cacheados estavam presos em pompons, ela esboçava um brilhante sorriso faltando dentes para a câmera. Passou para o próximo, uma mulher de cabelos brancos deitada na grama com um menino que Kathy julgou ser seu filho pela semelhança e olhar protetor que a mulher lhe lançava.

Sentiu um embrulho no estômago e se afastou do quadro, fixou seu olhar na lareira no canto da sala que provavelmente não era usada há séculos parecia servir agora de uma espécie de estante, passou a mão pelo sofá e sentou olhando para os livros largados na mesinha de centro a sua frente.

As risadas vieram em um tom mais alto agora, ela tinha se esquecido por instante das vozes. Pulou do sofá com a lanterna do celular mais uma vez a sua frente, caminhou em direção as vozes que pareciam vir pelo corredor ao lado do balcão. Kathy foi andando a passos lentos pelo corredor ainda receosa sobre prosseguir, mas continuou andando. No meio do corredor, onde ela estava agora as vozes ficavam mais altas mesmo assim não conseguia distinguir palavras ou os donos, continuou seguindo até uma fresta de luz que vinha de uma porta a direita no final do corredor.

Parou em frente a porta de um tom escuro de verde decidindo o que deveria fazer, não sabia se queria participar do que estava acontecendo ali, fosse lá o que fosse, mas voltar para o quarto e dormir parecia menos atrativo ainda. Primeiro ela se inclinou para espiar pela brecha da porta semi aberta, Kathy não conseguia ver muita coisa: a mão de alguém afagando com carinho o cabelo da menininha que os recebeu, alguns ingredientes espalhados pelo balcão e os pés de alguém batendo no chão em um ritmo estranho.

- canta de novo, por favor - ela ouve do outra lado uma voz infantil que só pode ser da menininha pedir

- ah! Mas eu já estou cansado Bela - responde uma voz que só pode ser do garoto do balcão, seu tom era doce e brincalhão quando continuou - bem talvez se eu tivesse com meu violão eu me animasse mais

- nós temos um, temos um - Bela exclamava dando pulinhos - vovô deixa ir pegar, deixa por favor - implorou

O dono da pousada deu uma risada fraca

-você nem precisava desse escândalo todo. Deixa que vou lá pegar, tá escuro - diz e Kathy escuta um arrastar de cadeira, tarde demais percebe que ele está vindo e sua direção

Assim que o senhor abre a porta encontra uma Katherine prostrada completamente envergonhada por ter sido pega espiando. Abre um de seus sorrisos quentes

- senhorita! Acho que a acordamos, peço desculpas - kathy só balança a cabeça em concordância - mas o que acha de se juntar a nós? Eu estava indo agora mesmo buscar o violão para ouvirmos nosso rapaz cantar

Quando ela não responde, ele a guia até dentro do que parecia ser a cozinha, faz ela sentar em uma cadeira de frente para o garoto do balcão que exibia um sorriso travesso.

- já volto com o violão - concluiu então o senhor antes de sair pela porta para escuridão do corredor

Kathy puxou as mangas do moletom cobrindo suas mão só deixando a ponto dos dedos de fora, dedos esses que ela não parava de mexer. A garotinha se aproximou dela a observando com uma cara de indagação.

- moça você é a namorada dele? - perguntou sem rodeios apontado para o garoto que começava a ter um ataque de riso

- humm... não... não somos namorados - completa meio nervosa

- pois deveria ser, se eu fosse mais velha namoraria ele - Kathy tinha esquecido como crianças eram sinceras

- eu mal o conheço - respondeu por fim um pouco mais confiante

Bela juntou suas pequenas sobrancelhas, colocou seu dedinho na boca e pensou por uns instantes.

- então você não é a namorada dele - Kathy concorda com a cabeça - também não o conhece direito - concorda novamente - Então o que tá fazendo aqui com ele? - pergunta apontado para o garoto atrás dela

Kathy olha pra ele que parece também querer saber a resposta para essa pergunta. Ela suspira e quando está prestes a responder é salva pelo senhor que entrar na cozinha com um vilão já desgastado.

- está meio velhinho...

- é perfeito - completou o garoto arrancando um sorriso do velho senhor

Ele se levantou e pegou o violão com sutileza, como se fosse quebrar a qualquer momento. Voltou a sentar no mesmo lugar, se posicionou com o vilão em seu colo, olhos fechados e dedos firmes nas cordas. Assim que as primeiras notas soaram pelo ambiente, Kathy foi tomada por algo forte, era doce mais intenso. Prendeu a respiração tentando controlar aqueles sentimentos que a invadiam sem permissão, mas quando ele começou a cantar não conseguiu mais conter aqueles sentimentos. Eles estavam por toda parte, seus dedos formigavam, seu coração descontrolado batia por toda parte e seus olhos teimosos se enchiam de lágrimas.

"como posso ser feliz?
Tenho medo de deixá-la escapar por entre meus dedos
Não sei viver como alguém feliz
Pessoas felizes choram sozinhas à noite?
Elas não sentem esse buraco no peito?
O que faço com ele então?
Já me acostumei com a dor
Deixá-la ir me assusta
Mas estou pronto para abandoná-la
E ser feliz como você desejava"

Assim que seus dedos deixaram as cordas e sua boca soou a última nota, Kathy sentiu pela primeira vez em um ano lágrimas quentes rolarem por suas bochechas. Naquele momento ela não estava só chorando por ela, mas por ele. Por que naquele momento ela sabia que ele estava sorrindo por sua filha. Quando seus olhos se abriram e se encontrou com os lagrimosos olhos de Kathy ele sorriu, mas ela pode ver sua dor estampada naquele sorriso.

Eles ficaram assim por alguns instantes se encarando, cada um enxergando a dor do outro. Até em um rompante ela tomou consciência do que tinha acontecido, limpou rapidamente as lágrimas com a manga do moletom deixando-o com as marcas delas nele como uma lembrança. Olhou ao redor para encontrar uma Bela aninhada no colo de seu avô, os olhinhos colados, seu peito subia e descia em uma respiração calma. Kathy teve vontade de ir até ela e afagar seu rosto, mas reprimiu essa vontade apertando os olhos e se levantando devagar para não acordar a garotinha. Ela não entendia o que estava acontecendo com ela, de onde estava vindo aqueles sentimentos.

Quando estava a um passo de entrar no corredor escuro foi parada por uma voz carregada de emoção.

- uma hora você vai cansar de fugir deles, Katherine. É impossível ignorá-los para sempre

Sem resposta ela continuou a caminhar. Ela odiava como ele tinha razão, mas se odiava mais ainda por está gostando de sentir novamente. Odiava-se por querer sentir de novo. Quando chegou ao fim do corredor ela não virou em direção aos quartos.













Olá!
Já faz um tempo não mesmo? Eu estava me sentindo um tanto distante da história e desanimada em escrever, mas ela veio a minha mente pedir pra ser escrita novamente então estou aqui. Espero que gostem desse capítulo e dos que viram. Se cuidem...

O que as estrelas deixam para trásOnde histórias criam vida. Descubra agora