Os Acordes do Amor

O Reencontro

A fogueira queimava emanando calor e fumaça sobre eles. Sona abraçava seus joelhos enquanto observava as chamas tremeluzindo, ao passo que Kayn estava sentado ao seu lado e eventualmente arremessava gravetos ao fogo. Era noite, e eles haviam caminhado durante todo o dia rumo ao mar, e a julgar pelo cheiro no ar, estavam mais próximos que nunca. O clima frio indicava que o inverno de Ionia estava se aproximando, e eles iriam precisar de vestes de frio o mais rápido possível. Segundo Kayn, havia uma cidade à beira mar com algumas lojas e senhores que contratavam pessoas para alguns serviços, como cobrar dívidas ou ameaçar. Quando ele mencionou isso, Sona primeiramente sentiu estranhamento, mas logo se sentiu indiferente.

Se fosse no passado, ela acharia esse tipo de serviço algo cruel demais, e lançaria a Kayn o olhar mais julgativo possível como uma clássica demaciana. Porém, após tudo o que acontecera em sua vinda para Ionia, em seu coração não havia espaço para compaixão. Matar ou usar sua magia apenas por poder, era algo extremamente excitante, e isso lhe causava tanto prazer que parecia obsceno. Sona não se reconhecia mais, e ela não achava o menor problema nisso. Ela ainda se lembrava do beijo em Draven em meio aos corpos no chão, e ainda lhe causava arrepios de excitação lembrar a cena. O poder que estava em suas mãos era tão instigante e delicioso...

"Uma moeda pelos seus pensamentos..." Disse Kayn observando que Sona estava encarando as próprias mãos sem nem perceber. Ela apenas balança a cabeça e sorri como se fosse nada. Ele então volta a olhar para o fogo e arremessa mais um graveto. "Deve ser difícil não poder falar..."

ona balança os ombros com indiferença.

"Eu poderia facilmente dizer que se você tivesse uma voz, seria uma voz tão linda quanto dizem ser sua música."

Sona olha para Kayn e ele exibe um leve sorriso para ela. Ela percebe o quanto ele fica lindo à luz do fogo com aquele olhar amigável, porém é muito estranho observar isso e lembrar que há horas atrás os dois quase se mataram numa batalha. Ele estaria tentando criar conexões com ela? A troco de que? Sona fica desconfiada, e ergue a sobrancelha.

"O que? Agora vai desconfiar de um elogio? A gente já lutou, já aceitei lhe ajudar, não posso ao menos ser gentil?"

Sona balança a cabeça negativamente. Ele ri se deitando no chão, colocando as mãos atrás da cabeça e fecha os olhos. Com parte de seu abdômen exposto e iluminado pelo fogo, Sona percebeu que ele demonstrava confiar nela ao se colocar numa posição tão vulnerável. Mas ela enxergava além do gesto. Ela sentia uma excitação crescer dentro de si ao ver a respiração dele elevar e descer seus músculos desenhados, e ao observar a linha dos lábios dele... Tudo nele era convidativo e provocante, e tinha um teor de memória, de saudade, que ela não compreendia, e enquanto encarava fixamente, ele abriu os olhos e a encarou ainda deitado.

"O que foi?"

Sona se assusta e tenta disfarçar. Ele ri e olha para o céu balançando a cabeça negativamente. Aquela cena era tão humana e tão normal, que Sona sentiu-se bem por estar perto dele. Suas missões intermináveis, dúvidas, desconfianças e medos, tudo parecia tão irrelevante naquele momento quando ela viu o sorriso dele. Sentindo-se cansada, ela abraçou seus joelhos com mais força e abaixou a cabeça, adormecendo logo em seguida.