A traição

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Seus passos eram nada discretos. Seus braços empurravam os galhos mais baixos das árvores com violência, e ela sentia dentro de si um ódio muito grande. "Como ela foi capaz de fazer isso comigo?" Era o pensamento que mais repercutia na mente de Sona enquanto adentrava em mata fechada cada vez indo para mais longe do Placídio de Navori. Era noite, e a escuridão era quase absoluta, porém Sona apenas seguia sem olhar para trás.

Sona estava tendo muitos problemas com sua memória desde que chegara a Ionia. De fato, ela possuía muitos momentos em branco, onde perdia consciência de si, mas isso nunca foi motivo para ser traída da maneira que foi. Caminhando sozinha pela floresta escura, sem medo de nada, Sona não tinha tempo para lamentar.

Tudo começou quando chegaram à Ionia.

Sona se recorda de algumas imagens, entre elas, o grande fluxo de monges e estudiosos entrando e saindo do seu quarto. Ela também lembra do olhar preocupado de Nami, das brincadeiras que Twisted Fate lhe fazia. Porém a memória mais clara e dolorosa que ela tinha era também a mais recente.

Sona acordara no final da tarde e apesar de não lembrar quando teria sido a última vez em que fechara os olhos, ela ainda sentia-se cansada. Suas mãos estavam amarradas a uma cama dura, e ela não reconheceu o local que estava. Parecia um templo pelo teto alto e oval, com escritas antigas e símbolos, e as paredes possuíam janelas com vitrais coloridos formando desenhos da natureza que refletiam o pôr do sol. A luz do sol refletida por um dos vitrais atingia-lhe em cheio o rosto, e a impedia de identificar as feições das pessoas à sua volta. Sem voz, e sem poder gesticular, Sona lutou contra suas amarras em vão.

"Sona, não tente lutar, apenas permita-nos selar este mal que está a lhe corromper, e você será livre." Disse uma voz.

"Livre? Como assim livre?" Pensou Sona sem conseguir se expressar.

Então várias vozes entoaram um canto antigo, e pareciam estar executando algum ritual de magia antiga. A cada palavra cantada, luzes tremeluziam a sua volta e Sona sentia arder em sua pele o calor de uma fogueira no verão, lhe doía demais, porém diante da tortura ainda não conseguia emitir um som. Seus gritos eram silenciados, sua dor parecia não ser ouvida. Era como se algo estivesse sendo enfiado em suas entranhas, e lhe queimasse de fora para dentro. Ela chorou e se contorceu, até que o chão começou a vibrar, e as pessoas perderam o equilíbrio e pararam o ritual ao caírem no chão, exclamando expressões de desespero e dúvida.

O alívio do fim da dor fez Sona sorrir, e ao respirar fundo, ela lutou pela última vez contra suas amarras que se romperam com violência tamanha foi a força e o poder que corria pelas veias de Sona. O chão ainda vibrava quando Sona se sentou sobre a cama de pedra, que agora ela podia ver que se tratava de um altar. Alguns monges ajudavam outros a se levantarem, e dentre as pessoas encapuzadas, Sona reconheceu um olhar.

Nami ajudou uma senhora a se levantar e olhou para Sona com temor. Sona desceu do altar e se encaminhou até Nami, que recuou. 

"Sona?" Indagou Nami tentando verificar se era a amiga mesmo que estava ali, e Sona ficara sem entender o medo da amiga, apenas se aproximou mais e abraçou Nami em busca de conforto, porém a amiga não lhe devolveu o abraço.

Os vidros do templo se quebraram com a vibração, e a construção pareceu querer ruir. Nami empurrou Sona para ajudar os monges a saírem do local. Sona tentou acompanhar o grupo porém Nami a impediu.

"Você precisa ficar aqui. É para o seu bem." Diz a peixe fechando a porta de saída do templo na cara de Sona.

"Meu bem?"

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Sona chuta um galho enquanto caminha pela floresta. Relembrar disso lhe causava tanta dor e raiva que ela não sentiu o ferimento que o chute havia causado em seu pé. Seu corpo estava anestesiado, ela não sentia nada. Ela escuta o barulho de água, sinal que havia uma fonte por perto, e após alguns minutos ela encontra uma cachoeira. Sem tirar a roupa nem nada, Sona mergulha na água, sem nem pensar que poderia ter alguma criatura naquelas águas. Não havia mais nada a perder, era o sentimento que pesava o peito da musicista.

Os Acordes do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora