O Brilho Vermelho dos Olhos

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Ela uniu suas mãos para formar uma concha e conseguir pegar um pouco da água do rio que pairava diante dela, tranquilo, escurecido pela noite, brilhando em sua superficie os reflexos das estrelas mais iluminadas. A brisa fria balançava seus cabelos e refrescava o calor que havia em seu corpo. Sua franja estava colada à testa pois o caminho até aqui havia sido muito turbulento. Haviam pequenos arranhões em seus ombros, e uma parte de seu vestido havia rasgado. Após o profundo gole d'água que lhe satisfez a sede, Sona senta-se na rocha mais próxima e enquanto fita a lua. Era preciso reencontrar sua mãe e talvez retornar à Ionia uma vez que Demacia já não era mais um lugar seguro.

Seus pensamentos vagavam ainda quando ela ouviu um som melancólico atrás de si, e ao se virar percebeu que ele a esperava brilhante e inquieto. Sona nunca entendeu o motivo pelo qual sempre se sentiu conectada àquele objeto, ou como ela conseguia se comunicar através dele, mas até então, tudo que ele tinha sido pra ela não passava de um amuleto de apreço. Porém nesta noite ele tomou vida, e foi então que tudo se desenrolou e ela veio parar ali, na beira daquele rio.

Pouco antes ela estava numa taverna, tocando e se divertindo com sua melhor amiga, até que Caçadores de Magos Demacianos investiram contra ela. Após lutar contra eles de uma maneira que Sona ainda não entendia, ela correu por dentro da floresta, e quando parou ja estava tão longe que ela resolveu descansar e tentar entender o que estava acontecendo.

Seu etwahl tocou mais uma nota chamando-lhe a atenção mais uma vez. Sona percebeu que estava se distraindo e encarou o instrumento. Ele parecia ter ganho vida e tentava lhe dizer algo, mas ela ainda sentia muito medo dentro de si mesma. Ela queria tocar a alma das pessoas com sua música e trazer felicidade a eles, mas ao lembrar o que fez aos caçadores de Magos enquanto fugia, ela perdeu a confiança do seu domínio sobre sua música. Parecia que dentro dela havia uma força muito maior que despertara e estava pronta para assumir.

Não havia mais tempo para devaneios.

Sona então, se levanta da pedra e olha a seu redor. Seus pés estavam submersos na agua corrente do rio, seus braços caídos ao longo do corpo e sua cabeça se movendo em todas as direções à procura de algum sinal de uma direção a ser tomada.

Foi quando ela ouviu um farfalhar de folhas próximo a ela, e um ruido meio rouco como uma gargalhada sombria. Seu etwahl flutuou mais para perto, e quase automaticamente, Sona tocou-lhe as cordas sentindo seu corpo ser envolvido por uma aura brilhante e acolhedora que emitia sons familiares como a risada de seu pai, e tinha cheiro de bolo de maçã, uma das comidas favoritas da jovem que sua mãe Lestara costumava fazer. Envolvida quase que por um escudo mágico esverdeado, Sona se vira para a origem do barulho.

Nada.

Silêncio absoluto.

Seu coração dispara de repente ao sentir uma presença muito forte. Seu etwahl vibra, ela sente entre seus dedos.
Há algo se aproximando.

Alguem...
Alguma coisa...
"O que será isso..?" Pensou Sona.
Ainda olhando para as árvores tentando detectar mais algum sinal, ou indício de ameaça, ela escuta o barulho de alguma coisa caindo no chão. Sona sente a presença de uma pessoa, e percebe que não está muito longe dela, mas ela não se mexe. E então, ela escuta um gemido de dor muito baixinho, seguido de uma respiração forte, cansada, de alguém que está desistindo de algo. Motivada pela vontade de ajudar, Sona finalmente se vê flutuando do rio para dentro da floresta novamente, seguindo seu instinto até chegar a uma pessoa caída.

Sona pousou silenciosamente ao lado do corpo, e observou que era um homem extremamente machucado. "Parece que mais alguém anda tendo uma noite difícil..." Pensou ela enquanto o observava. Ele tinha metade de seu rosto tatuada (pelo menos parecia ser uma tatuagem) e diante da noite profunda, era quase impossível distinguir sua feição.
"A... Água..." Disse o homem com uma voz rouca e quase inaudível.
Sona sobressaltou-se ao ouvir o som da voz do homem caído, mas logo se encaminhou para o rio, porém ao chegar na beirada do rio, ela se deparou com uma mulher encostada na rocha que ela estava sentada minutos atrás.
"E aí?" Disse a mulher numa voz jovem e descontraída.
Sona arregalou os olhos pois percebeu que da cintura para baixo a mulher na verdade tinha uma cauda de peixe linda esverdeada. Os olhos dourados da sereia encaravam Sona com muita curiosidade e interesse, e seus braços cruzados sobre a rocha exibiam pequenos arranhões. Sona permaneceu parada encarando a criatura.
"Vai falar nada não?" Perguntou a Sereia.
Sona ergueu as mãos e tocou uma corda de seu etwahl, e sua melodia flutuou até envolver a sereia por completo. A criatura fechou os olhos enquanto era envolvida por um brilho esverdeado, e seus machucados simplesmente se curaram.
"Obrigada... " Disse a sereia quase hipnotizada.
Sona sorri e faz uma leve reverencia.
"Bom, acho que você não é muito de falar, então eu vou indo... "
Sona deu um passo para frente, com uma mão erguida, a Sereia que ja estava se virando para o rio, parou e voltou-se para Sona. Ela então sinalizou que precisava de água. A sereia piscou algumas vezes enquanto tentava entender os gestos, mas após compreender, ela sorriu.
"Tenho algo para você."
A sereia mergulha por um tempo e depois volta com um peça dourada entre as mãos.
"Achei perdido aqui no fundo, acho que lhe pode ser útil." E deixa o objeto sobre uma pedra. "A gente se vê!" E com um leve acenar de cabeça, Sona se despede da sereia enquanto observa a criatura sumir na água escura.

Os Acordes do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora