CAPÍTULO SEIS

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     Seguro minhas lágrimas ao término da música, olho pro lado e vejo minha garota sorrindo pra mim.

     - Que foi? - a pergunto.

     - Nada, é bonito ver você tocar, Li. Me traz lembranças boas, mesmo a música sendo triste.

     - Ah é? Quais lembranças?

     - Sabe que não gosto de falar sobre isso, Alice, mas são lembranças da minha mãe, de quando eu era pequena. - disse sorrindo.

     A história da Vick sempre vai ser um mistério pra mim... mesmo que ela me conte, sempre vou achar misteriosa, mesmo que não seja nada de mais. Ela passa esse mistério pra mim, e eu não espero que acabe.

     Levanto do banquinho acolchoado do piano e sento no colo da Vick a beijando. Ela retribui passando as mãos nas minhas costas e colocando uma das mãos na minha nuca. Coloco as mãos no rosto dela e a beijo mais forte, sinto que dentro nós há algo querendo nos juntar além da pele. Sorrio pra ela e ela devolve um sorriso brilhante, nos levantamos e vamos até a cozinha beber alguma coisa.

     Estamos no jardim dos fundos, fumando nosso terceiro cigarro. Meus pais estão dormindo e nossos pés estão afundados na água da piscina.

     - Sei que não foi por passar mal que foi ao hospital ontem, amor.

     - O quê? - digo, remexendo a água com os pés.

     - Você tentou suicídio de novo, né garota?

     - Me desculpe... de verdade. Mas não quero falar sobre isso agora, Vi. Minha mãe já encheu minha cabeça de perguntas e de olhares tristes igual a esse seu. Só quero fingir que isso não aconteceu.

     - Mas aconteceu, tá legal?! Você fez! Sabe como me sentiria se te perdesse? Exatamente como se sente quanto a sua tia! Foi a escolha dela, Alice! Que porra, você sabe que não tem que seguir os caminhos dela! - ela disse, alterada.

     - Desculpa, Vick...

     - Você quer que eu sofra mais? Então por favor, pare de tentar se matar! Eu tô aqui pra o que precisar, e você não precisa disso. Eu te amo, Alice, com todas as forças. Eu não conseguiria perder você também!

     E então ela me envolveu em um abraço apertado, longo e caloroso, do jeito que só ela sabe dar.

     - Eu também te amo, Vick. Mais que tudo.

Não é Um Conto de FadasOnde histórias criam vida. Descubra agora