Não é Um Conto de Fadas

CAPÍTULO DOIS

     Sou acordada por uma discussão vinda do outro lado da porta do hospital. Droga, falhei de novo, penso. Levanto e sinto uma pontada de dor em um dos pulsos, levanto a manga da blusa e vejo os pontos. Seis, pelo que consigo contar, minha visão está embaçada, temo que vá começar tudo de novo. Abro a porta do quarto do hospital e vejo meus pais discutindo, eles param imediatamente quando percebem minha presença e sorriem. Observo o estado dos dois. Dona Maria está com os cabelos bagunçados e os olhos avermelhados, roupa amarrotada e rosto inchado. Seu Isaque está com os olhos vermelhos e, como sua pele é escura, não vejo vermelhidão nas bochechas ou nariz.

     - Oi - eu digo com a voz embargada pelo choro. - Vocês estão bem?

     - Estamos! - respondem em uníssono e um pouco alto de mais pra me convencer que sim.

     - O que aconteceu?

     - Nada, querida, vá se deitar porque o doutor já está vindo te ver! - minha mãe diz, forçando um sorriso e me levando até a cama.

     - O doutor é um psiquiatra? - pergunto.

     - Sim, querida. O que houve pra fazer isso de novo? Você prometeu... - sinto a mágoa na sua voz e seguro as lágrimas.

     - Desculpe, mãe, não quero falar agora. Sinto muito mesmo. - digo me deitando e puxando a coberta pra mim. Dói muito magoar a única pessoa que está comigo, mas não pensei que viria ao hospital, mas para o necrotério. Lá é o meu lugar.

     Depois de uns minutos, o Doutor Nino chega. Já o conheço de outras madrugadas sangrentas.

     - Olá, Alice. - o doutor diz

     - Oi, doutor.

     - Podemos conversar? - e então, me leva pra salinha amarela onde entrego a minha pequena chave a ele e ele começa a vasculhar meu cérebro a procura de algo que seja valioso.

       - Bom, Li. Depois do que me contou, baseado nos seus sintomas, eu acho que você tem um transtorno de personalidade. Não posso dar o diagnóstico ainda, só quando tiver 18 anos, e você só tem 15, mas o que posso te dizer é: você é borderline.