CAPÍTULO UM

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     Acordei chorando. Mais um sonho com minha tia. Queria tanto tê-la comigo, abraça-la e pedir que ela nunca mais me deixasse. Rapidamente procurei por uma lâmina escondida dentro de uma almofada e a fiz dançar pelo meu pulso cicatrizado. Chorei ao lembrar do passado, ao lembrar dos amigos perdidos, ao lembrar da vida feliz que eu tinha e amaldiçoei o dia em que conheci os cortes.

    Me levanto devagar e vou até o banheiro. Assim que abro a porta o cheiro de lavanda e noites estreladas me invade, o perfume dela está em todos os cantos e não consigo conter as lágrimas. Encaro meu reflexo no espelho fixado na parede do pequeno banheiro de azulejos verdes e vejo a garota que está me olhando de volta. Cabelos negros bagunçados até a cintura, pele branca um pouco avermelhada pelo choro recente, olhos castanhos grandes e vazios, olheiras profundas e boca avermelhada; estou horrível. Vozes vêm à minha cabeça me fazendo acreditar que me odeio por respirar sem ela. Pego a carta que deixei escondida nas gavetas do banheiro e a coloco em cima da pia; nela estou pedindo perdão pelo que sou e por ter acabado com isso, digo que os amo. Pego a lâmina que está junto a carta e faço um corte profundo na horizontal no pulso esquerdo. Sento no chão e vejo tudo se escurecendo, uma lágrima desce e esboço um sorriso...

Não é Um Conto de FadasOnde histórias criam vida. Descubra agora