CAPÍTULO QUATRO

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     Saio do hospital e olho pro céu. Sempre faço isso, o céu é enigmáticamente atraente de mais pra passar desapercebido aos meus olhos. Tem um mistério diferente. Diferente bom. Amo as noites estreladas e o cheiro de chuva, os dias claros de primavera e os dias frios e escurecidos do inverno. Hoje o dia está incrivelmente azul, com pouquíssimas nuvens, as árvores parecem mais verdes e vivas e os pássaros cantam alegre mente a cima dos fios elétricos. Suponho que esteja uns 22°C. Costumo valorizar dias assim já que aqui na minha cidade, são raros. Moro no interior de São Paulo, uma cidadezinha conhecida por Paulínia. Não há muito o que fazer por aqui.

     - Dia bonito, não é? - desperto do meu devaneio ao som da voz de mamãe.

     - Uhum, mamãe. - digo, ainda olhando pra cima.

     Entramos no carro em silêncio, não tenho forças pra falar então busco meu celular e fones na bolsa de mamãe, coloco os fones e respiro fundo enquanto procuro algo bom na minha playlist. Encontro Lost in Paradise da Evanescence e aperto play.

Estou acreditando

Em algo tão distante

Como se eu fosse humano

E estou negando

Esse sentimento de desesperança

Dentro de mim, dentro de mim

Todas as promessas que fiz

Só para te decepcionar

Você acreditou em mim, mas estou destruída

Não tenho mais nada

E tudo que eu sinto é este desejo cruel

Pelo qual estivemos caindo esse tempo todo

E agora estou perdida no paraíso

Por mais que eu queira

Que o passado não exista

Ele ainda existe

Por mais que eu queira

Sentir que pertenço a esse lugar

Estou tão assustada quanto você

Não tenho mais nada

E tudo que eu sinto é este desejo cruel

Pelo qual estivemos caindo esse tempo todo

E agora estou perdida no paraíso

Fuja, fuja

Um dia, não sentiremos mais essa dor

Leve tudo embora

Sombras suas

Porque elas não me deixarão ir embora

Até que eu não tenha mais nada

E tudo que eu sinto é este desejo cruel

Pelo qual estivemos caindo esse tempo todo

E agora estou perdida no paraíso

Sozinha e perdida no paraíso

Seguro as lágrimas ao fim da música, quando vejo estamos na SMI. Desço do carro e encaro a fachada. Vejo os muros amarelados, o portão de ferro abertos marrom e enferrujado, a sala de espera com pequenas mesas e cadeiras com papel e giz-de-cera esparramados pelas mesinhas, cadeiras maiores para os pais e adolescentes, uma outra porta à esquerda.

Não é Um Conto de FadasOnde histórias criam vida. Descubra agora