A batalha continuava feroz entre os soldados, os sons metálicos das espadas e machados se chocando aumentavam e com eles surgiam gritos de dor e desespero. Zalmon, agora no campo de batalha, lutava desajeitado com sua espada, seus golpes improvisados chamaram a atenção de Jodahes, que passou a lutar do seu lado para proteger o inexperiente mago. O grupo de Maik havia por fim sido cercado por centenas de soldados. A batalha parecia estar chegando ao seu fim, com a triste derrota dos heróis.
- Abaixem-se! Gritou "Braços de trovão" quando viu, além dos soldados, uma dezena de arqueiros que estavam prontos para disparar suas flechas.
A maioria dos guerreiros se abaixaram imediatamente enquanto as flechas passavam zunindo sobre suas cabeças, outros não tiveram a mesma sorte e caíram sem vida atravessados por várias setas. Zalmon pôs-se de joelhos com a palma das mãos no solo, visando conjurar uma magia e, então do nada ergueu-se uma parede de chamas, protegendo os guerreiros de uma nova saraivada de flechas. Como resultado, vários inimigos que os cercavam morreram incinerados, alguns com o corpo em chamas correram desesperados gritando em meio aos soldados, dispersando o grande exército. A muralha flamejante agora era o refúgio dos guerreiros, os ataques haviam cessado e nada se podia ver além dela.
A cavaleira atacava Darlan, rápida como um raio que corta o céu em meio a tempestade. O sangue jorrava nessa refrega, a cada golpe Florença desconjuntava seu oponente, que revidava cada golpe que cortava sua carne. Os dois estavam bastante feridos, o cheiro de sangue misturava-se ao ar, nem a forte ventania diminuíra seu odor. Os oponentes param por um instante e se encaram. Darlan estava exausto, mal podia erguer sua pesada lança de batalha. A vantagem de lutar com uma arma mais longa e pesada agora era seu martírio, a cavaleira mal respirava, mas ainda podia erguer sua espada mágica com certa facilidade. Ambos se preparavam para o último golpe, Florença tomou a iniciativa e avançou contra Darlan, este tentou empalar a guerreira que se esquivou com uma manobra fantástica, passando rapidamente para as costas do vilão. Agarrou-o pelos cabelos e com um corte perfeito decepou a cabeça do inimigo. Estava terminado o duelo, Florença com um grito de guerra vitorioso ergueu a cabeça do petulante general Darlan e a mostrou aos soldados inimigos que entraram em desespero e rapidamente abandonaram a batalha às pressas. Todos comemoraram a vitória inesperada e agradeceram aos dois heróis recém chegados.
Após o breve momento de alivio e felicidade, Maik caminhou entre os mortos e tristemente recolhia os corpos de seus amigos. Os poucos sobreviventes mesmo feridos ajudavam seu líder resgatar os falecidos.
- Aqui não é o melhor lugar, mas vamos enterrar e rezar para que nossos amigos que se foram encontrem a paz! – Falou Maik com os olhos marejados.
Os guerreiros rezaram durante horas para seus companheiros e por fim encerraram a cerimônia fúnebre com gritos de guerra homenageando os que perderam suas vidas com glória. Depois agradeceram a Florença e Zalmon, exaltando que a vitória não seria possível sem a ajuda deles. Segundo Maik, Darlan e seu grupo queriam tomar sua área denominada como montanhas gélidas, que Darlan reclamava como suas.
- Para onde estavam indo? – Perguntou o gigante guerreiro Jodahes aos heróis.
- Estávamos indo até Narfell. – Respondeu a cavaleira.
- Narfell está a dois dias de viagem, é uma viagem longa. Descansem um pouco em nosso vilarejo, deixe-nos retribuir pelo que fizeram pelo nosso povo. – Propôs Maik "Braços de trovão"
- Vamos meu amigo, conte-me como aprendeu esses sortilégios. – Completou Jodahes pousando a mão sobre a cabeleira do pequeno Zalmon.
Os heróis aceitaram o convite e percorreram lentamente junto aos soldados.
Os caminhos eram tortuosos entre as colinas, a neve densa chegava até a cintura dos guerreiros. O jovem mago que era desfavorecido no vigor e tamanho caminhava com dificuldade, até que bondoso Jodahes decidiu o ajudar e com seus braços fortes o colocou com facilidade sobre os ombros o carregando até o destino final. Florença e Maik se colocavam na frente como batedores, visando proteger o grupo de qualquer emboscada. Após quatro horas finalmente encontraram o vilarejo, haviam muitas casas de diversos tamanhos e arquiteturas, a neve era mais fina e dava uma visão de paz ao pequeno vale. Chegando mais perto viram seu povoado caminhando em harmonia enquanto faziam seus afazeres, crianças corriam e brincavam entre as barracas das feiras e vendedores eram vistos por todo lado oferecendo seus produtos. Os soldados foram se dispersando, cada um seguia o rumo de sua casa. Jodahes e Maik guiaram os heróis até uma grande cabana de madeira.
- Bem vindos ao Vale do amanhecer! – Disse Jodahes enquanto descia Zalmon de seus ombros.
- Nunca ouvi falar deste lugar. – Exclamou a cavaleira.
- Esta é uma aldeia pacífica, um refúgio para todos os povos. Geralmente fazemos expedições para libertar pessoas que foram escravizadas e aqui eles têm a chance de ter uma vida digna. Não temos reis nem líderes, todos somos iguais e temos a função de ajudar o próximo e proteger a paz da nossa casa. Qualquer cidadão que tome uma atitude violenta aqui é expulso. – Respondeu Jodahes.
Neste momento Zalmon se lembrou de Ramir, seu coração apertou e seus olhos se encheram de lágrimas, pois ele sabia que aquele local seria o lar ideal para seu grande amigo.
- O que foi Zalmon? O que lhe aborrece? – Perguntou Jodahes ao ver a tristeza do pequeno mago.
- Este lugar me fez recordar de um estimado amigo que passou a vida sendo escravo, e quando conseguiu conquistar a liberdade teve a vida ceifada por um homem cruel e sem coração.
- Infelizmente essa é uma história triste que se repete diariamente em todos os meios sociais. Todos os seres vivos tem sentimentos bons e ruins, mas pessoas que não tem um bom coração tendem a ser dominados pela desumana maldade e isso as fazem ter pensamentos e ações prejudiciais aos seus semelhantes. Mas também temos seres de corações puros e iluminados, esse tipo de pessoa é capaz de usar sua bondade como combustível para mudar o mundo, mesmo que em pequenas proporções. A única forma de combatermos o mal do mundo é plantando uma semente do bem por onde passarmos, nem que for um simples elogio para alegrar um coração abatido. Siga em frente pequeno, seu amigo está em um lugar melhor olhando por você, um dia vocês se reencontrarão.
Zalmon caminhou emudecido até uma das janelas, olhou para o povoado que se empenhava em seus afazeres, para o sorriso das crianças que brincavam umas com as outras e então falou.
- Parabéns pelo que fazem pelo próximo, por todos lugares onde percorri nunca vi algo tão simples e bonito assim. Sinto que devo mudar meu pensamento e encarar todos desafios para deixar o mundo um lugar melhor, de hoje em diante vou viver para fazer o bem a quem cruzar meu caminho.
- Vida longa as pessoas de bom coração e a luta para um mundo melhor, vamos brindar – Exclama Maik servindo cerveja para os heróis.
Florença sorri feliz pelo restabelecimento e as palavras positivas do jovem mago e a pergunta:
- Zalmon, posso te acompanhar nessa jornada?
O jovem mago se aproximou da cavaleira tirou o cabelo que cobria seu rosto olhou em seus olhos e disse:
- Se você não me acompanhasse, eu iria te seguir. Afinal temos o mesmo objetivo certo?
- Sim, desde quando nossos olhares se cruzaram eu soube que teríamos uma longa jornada juntos. – Respondeu a cavaleira cheia de sorrisos e com a pele levemente corada.
- Ah, o amor não é lindo Jodahes? – brinca Maik deixando todos sem jeito.
- É meu amigo, enquanto não encontramos o nosso vamos beber e aproveitar esse momento de alegria – Respondeu Jodahes beijando a caneca de cerveja fazendo todos caírem em gargalhadas.
E então todos aproveitaram bastante aquele breve momento de alegria e felicidade, pois eles sabiam que novas aventuras estavam por vir.
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Florença, a Cavaleira Errante
FantasyUma jovem mulher, talentosa em batalha, passa a vida lutando como mercenária nas terras gélidas do Norte. A população admirada com seus feitos, colocaram-na o nome de Cavaleira errante, por seu espirito que vaga sem destino e sua destreza nas batalh...