O balão preto

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Com essa nova trégua estabelecida entre os dois, as coisas fluíam ainda mais fácil. Eles trabalhavam bem, mas podendo sentar e conversar sem tanta seriedade fazia as investigações irem ainda mais rápido.

Tinham avisado Carol a respeito de Cassie, e eles estavam monitorando a área.

Também tinham ficado próximos dos Lang, e Cassie tinha encontrado uma espécie de refúgio em Natasha. Não que ela contasse nada de mais, é claro que não, mas Nat já tinha percebido que a adolescente gostava de estar na companhia dela, e certamente aceitaria um conselho ou outro.

Durante toda aquela semana, Steve notou que Natasha teve pesadelos recorrentes, acordando suada e por vezes, chorando. Quando ele perguntava se era por aquele motivo, ela só balançava a cabeça que sim.

Da quinta pra sexta, ele perguntou,

"Tem certeza que é uma boa ideia continuar nessa missão? Eu posso ficar e você volta pra New York."

Ela fez que não com a cabeça.

"Não. Se eu tenho a oportunidade de fazer algo contra isso, então quero fazer. É o mínimo."

"Então tá. Mas a gente vai passar por uma avaliação psiquiátrica. É o único jeito que eu não vou ligar pra Danvers agora e pedir pra te remover da missão."

Nat rolou os olhos.

"Por que tem que ser tão mandão?"

"Não sou. Só tô preocupado. Não vou arriscar sua saúde mental numa missão."

Ela engoliu em seco.

"Tá. E onde fica o psiquiatra da SHIELD mais próximo?"

"Lincoln."

"A três horas e meia daqui, Rogers?" ela ralhou.

"Eu te levo lá no sábado. A gente aproveita e passeia, vai ser bom."

Ela respirou fundo. Era melhor sair vitoriosa de tudo aquilo.

No sábado, eles saíram cedo e foram se encontrar com um dos psiquiatras em um pequeno QG da SHIELD em Lincoln. Danvers estava sabendo, mas não fez grandes perguntas. Estava um dia quente e Natasha pôs uma mão pra fora da janela, sentindo o sol nos braços. Prendeu o cabelo, que estava mais comprido do que jamais tinha estado antes.

Steve olhou para ela enquanto dirigia na estrada vazia. Além das marcas que os piercings tinham deixado, sob a orelha de Natasha tinha uma tatuagem de um balão preto.

Ela notou que ele olhava.

"O que foi?"

"Nunca tinha visto essa tatuagem."

"Eu costumo cobrir com o cabelo."

"Por que um balão preto?"

Ela sorriu.

"Eu e a Masha éramos adolescentes de almas escuras e angustiadas, blablabla, você sabe. Por algum motivo, os únicos balões que gostávamos eram os pretos. Sabe, querer ser diferentona e tal. Eu tatuei pra lembrar dela, mesmo."

Steve sorriu tentando imaginar Natasha como uma adolescente de batom preto e lápis de olho.

Ela voltou a olhar pra fora.

"Rogers?"

"Hm?"

"Por que você não me contou as instruções que tinha recebido do Stark aquele dia?"

Ele deu de ombros.

"Sei lá. Eu achei que nossas instruções eram as mesmas!"

"Claramente era pro criminoso sair vivo, senão eu mesma o teria matado."

"A instrução era acabar com ele se ele tentasse alguma coisa, e ele tentou."

"E eu sou perfeitamente treinada pra me defender disso, Rogers, que nem você."

"Não duvido do seu treinamento, Romanoff, Tony só me disse que não valia a pena deixá-lo vivo se ele desse trabalho."

"Mas que trabalho? Ele me derrubou e provavelmente tentaria apontar uma faca no meu pescoço, mais uma terça-feira."

"Eu só tava seguindo ordens. Tá? Tony me disse que ao primeiro sinal de resistência era pra apagá-lo e foi o que eu fiz."

"Sem checar comigo antes?"

"Natasha, eu achei que eram as mesmas instruções."

"Não pensou em repassar comigo?"

"E você também não."

Ela se calou.

"Provavelmente você questionou Fury e ele te deu a mesma resposta que Stark me deu, que eles receberam instruções diferentes ou que houve uma falha de comunicação. Eu só segui ordens, mas você ficou brava comigo como se eu tivesse deliberadamente matado o idiota porque me deu vontade de meter uma bala no cérebro de alguém."

"Eu só não gostei de me sentir a donzela em apuros. Era minha missão e eu falhei miseravelmente."

Ele riu sarcasticamente.

"Nem tudo se trata de você, Romanoff. Se fosse Barnes no seu lugar, o resultado seria o mesmo. Ou ele próprio teria atirado."

Ela se calou e ele também. Queria deixar aquele assunto pra lá. Talvez tivesse julgado Steve mal aquele tempo todo.

Chegaram para fazer a avaliação psiquiátrica. O lugar parecia uma padaria. E devia realmente funcionar como uma.

O laudo final foi que os dois deveriam se manter afastados das investigações por três dias. Foi imediatamente passado para Danvers.

Natasha voltou dirigindo dessa vez. Ela e Rogers não falaram durante a primeira hora e meia do trajeto de volta.

"Steve." Ele olhou pra ela. "Desculpe. Eu não parei pra pensar antes de soltar os cachorros em você."

Ele concordou com a cabeça.

"Desculpe também. Eu deveria ter questionado ou falado com você antes."

"Tudo bem."

Os dois voltaram a não falar nada de mais no trajeto, mas o clima estava um pouco mais leve.

Chegando à cidade, Nat voltou a soltar o cabelo para ser Rachel novamente. Quando chegaram em casa de novo, já passava das duas da tarde. Acabaram comendo qualquer coisa e ela aproveitou para tirar um cochilo durante a tarde.

Quando acordou, já tinha escurecido. Que típico. A intenção era dormir meia hora, e esse tempo foi multiplicado por seis.

Um delicioso aroma de comida se espalhou pela casa toda, e o estômago de Nat reagiu instantaneamente. Se levantou e foi até a cozinha. Steve estava de costas pra ela, parecendo realmente investido em cozinhar alguma coisa.

"E você sabe cozinhar desde quando?" ela perguntou, divertida.

Ele se virou para ela, sorrindo.

"A condição para eu conseguir me manter são fora da casa da minha mãe era saber fazer algumas receitas dela."

"Não sabia que morava com ela."

"Mais ou menos. Eu saí de casa quando entrei no programa, mas ia sempre comer junto com ela. Ainda vou quando posso. O que agora não é com essa frequência toda."

Natasha se lembrou que as chamadas de vídeo com os pais não eram feitas há um tempo. Sentia falta. De Yelena, então, nem se fala. Parecia que ela via menos a irmã agora, que estavam as duas no mesmo país, do que antes.

"E o que temos pra hoje?"

"Lasanha. É uma das únicas coisas que eu sei fazer direito."

O estômago de Natasha roncou audivelmente. Fazia tempo que ela não comia nada que não fosse ou do refeitório da SHIELD ou feito por ela mesma, talvez por Wanda.

"Mal posso esperar. Vou tomar banho e trocar de roupa."

[N/A: a próxima postagem é o jantarzinho dos dois! Comentem!]

Black Balloon  - RomanogersOnde histórias criam vida. Descubra agora