Etapa quatro

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Pode ter sido quando decidi te beijar de novo, mesmo que estivesse sóbria.

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O dia amanhece bonito, ao contrário na noite anterior. JungKook para o carro na frente do meu portão e olha para mim depois. Não é como se eu não tivesse ensaiado o que dizer agora. Depois da noite passada, minha mente era puro rabisco de poeta.

A chuva estava forte demais, mas o som dentro do apartamento de JungKook era playlist e suspiro.

No momento em que virei aquela taça enquanto dançava, percebi que estava completamente ferrada. Sentei ao lado de JungKook e tentei me convencer que qualquer coisa que acontecesse seria efeito da bebida.

— Por que eu? — Sussurrei, olhando para JungKook e sua boca avermelhada pelo tanto de vinho.

Ele me olha. Não só isso, ele me lê. Ele desvenda facilmente o que eu quero, como se eu fosse o enigma feito para ele. Aprende a decifrar.

— Por que não você? — É sua resposta.

Segundos mais tarde, sua boca e a minha são fogo cruzado.

Agora, olhando para Jungkook sentado no banco do carro esperando que eu diga alguma coisa, eu não sei pra onde vou. Queria poder apagar da memória a noite passada, mas meu corpo iria sentir falta dele mais uma vez.

— Obrigada — É tudo o que eu digo.

Ele assente em minha direção e continua em silêncio. A necessidade de preencher o silêncio com os sentimentos era difícil de calar, por isso, quando percebo, prefiro fazer do que falar.

É surpresa pra mim também, tocar seu rosto com meus dedos, e a sua boca com a minha desse jeito, sóbria. Eu não tinha desculpa para isso, eu apenas fiz, e eu faria de novo. Quantas vezes necessário para sentir de novo JungKook segurar minha nuca com firmeza e dizer sem palavras que o que eu sentia também estava nele.

Não chamaria de fácil afastar. Me prendi nele tempo suficiente para perder a cabeça de novo, dentro desse carro, mas me lembro da minha avó. Ela estava naquele quarto, trancada e esperando por mim, e eu iria vê-la.

A boca de JungKook estava vermelha como a minha, e o cabelo dele estava bastante bagunçado, como aposto que o meu também estava. Me afasto dele, e sem dizer mais nada, abro a porta do carro e saio.

Passo a mão pelo cabelo e me viro para o portão, entrando sem pensar muito e corro para dentro de casa, para o meu quarto, e me jogo na cama.

Meu peito era completa zona, e eu gostava dela.

Quando ainda estou tentando recobrar a mente, tirando os saparos e a blusa, alguém bate na porta.

— Posso entrar? — Era Jin.

— Só um minuto — Me abaixo e pego do chão a blusa e coloco de volta no corpo — Entra.

Jin abre a porta e seu cabelo recém tingido de amarelo preenche minha visão. Além disso, ele trás uma bandeja com café da manhã, começo a sentir o cheiro e percebo que estava com fome de novo.

— Imaginei que estivesse com fome — Ele diz, vindo até a cama e deixando a bandeja sob ela.

— Eu estava. Obrigada Jin — Sorrio involuntariamente, olhando para o café da manhã do meu primo.

— JungKook trouxe você? — Ele pergunta, naquele tom curioso.

Sinto vontade de rir, mas ao invés disso, prefiro beber um gole de suco de laranja. Laranja é minha cor favorita. — Isso sim me fez sorrir, sem querer.

— O que foi? — Meu primo pergunta, sentando na cama ao meu lado.

— Não foi nada. Notícias do vovô? — Mudo de assunto, mordendo a torrada.

Era daquelas com queijo e presunto, alface e tomate. Um verdadeiro sanduíche, daqueles que ninguém consegue fazer tão bem quanto meu primo.

— Ele chega amanhã pela noite — SeokJin responde — JungKook trouxe você? — E repete.

Antes de responder, bebo mais suco e limpo os dedos no guardanapo. Ver SeokJin ansioso era divertido.

— Sim, ele trouxe. Agora a pouco.

SeokJin se empertiga, percebo um incômodo pela maneira como sua postura fica torta, e em seguida, sei que ele está tentando não fazer uma pergunta invasiva demais.

— Por que?

O ar prende na garganta um instante. Com certeza dizer a razão verdadeira seria constrangedor e um tanto perturbador.

— Estava tarde quando parou de chover — Não olho diretamente para ele quando respondo — A vó está acordada?

Jin assente sabendo que provavelmente aquele era o melhor caminho para essa conversa.

— Acordou faz pouco tempo.

Conversamos um pouco mais antes de Jin sair levando a bandeja com restos. Antes de ir ver a vó, tomo um banho quente e é inevitável não passar a mão por onde os lábios de JungKook passaram e não sentir algum tipo de sensação gostosa. Era falta. Falta dele e do seu beijo.

Eu não estava apaixonada, absolutamente não. Era cedo demais para isso, mas de alguma maneira eu não me importava de me entregar para ele sem saber o fim, parte de mim sabia que não tinha como ele me abandonar.

Coloco uma roupa confortável e levo as meias de JungKook para lavar. E só depois, vou para o jardim onde meus primos disseram que a vovó estava.

Quando abro a porta, a sra. Kim está de pé na frente da árvore, olhando para ele antenciosamente. Que tipo de sensação podia estar passando pela cabeça dela? Eu pensava.

Ando até ela, mas mesmo assim, a vovó continuava sem notar minha presença.

— Vó — Eu a chamo. Ela sorri para mim, fraco.

— Doyeon — Ela diz — Essa árvore era o lugar onde ela mais gostava de ficar. Por isso o funeral foi aqui.

Vovó segurava um lenço branco nos dedos.

— Sim, eu me lembro — Respondo olhando para a árvore alta.

Um dia, bem ensolarado, JungKook deixou sua avó aqui para o chá da tarde com a minha. Ele olhou para mim e acenou com o queixo, e lembro que fiquei confusa e olhei para os lados, para conferir se era eu mesma. E era. Ele riu antes de arrancar como carro.

— Aqui e o parque da cidade. Ela gostava muito de ver as pessoas passarem e julgarem a vida delas pelo olhar — Minha avó riu — Aquela velha fofoqueira — Ironizou.

E ficamos ali, silenciosamente admirando aquela árvore, porém com coisas diferentes na cabeça. Minha avó pensava em Benson, e eu, no neto dela.

ᴛᴏᴅᴀs ᴀs ᴇᴛᴀᴘᴀs ᴀᴛé ᴇᴜ ᴍᴇ ᴀᴘᴀɪxᴏɴᴀʀ ᴘᴏʀ ᴠᴏᴄê • ᴊᴊᴋ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora