episode six

17 5 28
                                    

Na terça-feira...

Troquei a roupa pela terceira vez, e me olhei no espelho.

Nada parecia bom, parecia que eu não estava cabendo dentro de mim, e pra piorar eu já estava atrasada.

Não queria parecer desleixada, mas também não arrumada demais, e eu não sabia o que fazer.

Troquei de novo a roupa por uma jardineira jeans, ou será um macacão, enfim, pus uma t-shirt preta por baixo, calcei um coturno e só fui.

Entrei no carro, olhei as horas, 7 e 15, atrasada, bem atrasada, tínhamos combinado ás 7. Coloquei o cinto de segurança liguei o carro e dirigi até o shopping, o Shopping Tacaruna costumava estar lotado, todos os dias, todas as estações, não importava a hora, mas eu parecia não pensar muito quando sugeri que fossemos ao cinema de lá, agora já estava feito.

Estacionei no estacionamento aberto, e corri pra dentro do shopping, o problema agora era achar alguém ali dentro. Liguei pro Vítor, ele estava na praça de alimentação, em frente ao subway, perto da escada rolante. Aqui era assim que funcionava, você tinha que dar todas as coordenadas.

Fui até lá, nervosa, andando em passos largos, esbarrando em mil pessoas, com as mãos suando e o coração acelerado.

Minha respiração pareceu se regular quando o vi, parecia despreocupado, encostado numa parede com o celular na mão, caminhei até ele, um pouco mais devagar do que estava quando pretendia achá-lo.

-oi- falei quando cheguei em sua frente.

-oi!- ele me olhou, sorriu, guardou o celular no bolso e me abraçou.

Fiquei tão surpresa no momento, que parei, congelei, meu coração estava maluco, tive medo que ele pudesse sentir. Alguns segundos depois retribuí o abraço, passando as mãos pelo seu pescoço, sentindo seu cheiro, sentindo os pelos do meu corpo se arrepiarem.

-desculpa, eu...- ele se afastou e parecia não saber o que dizer.

-tá tudo bem, não precisa se desculpar por um abraço- falei tímida.- desculpa o atraso.

-fica tranquila. Já escolheu o filme?- ele perguntou.

-não. Pode escolher, eu só não curto muito terror, não me passa uma vibe segura.- eu disse.

-tudo bem, podemos ver ação?- sugeriu.

-sim, tá ótimo.- falei.

Combinamos de cada um pagar seu ingresso, e pegarmos um combo de pipoca grande, com refri e dividir.

Concordem que pipoca e refrigerante do cinema é mais caro que o próprio ingresso pra ver o filme.

Fomos pra sala, nos acomodamos nas poltronas e ficamos em silêncio por um tempo, ainda ia demorar um pouco pra o filme começar, mas não estava muito afim de ficar vagando pelo shopping, mas o silêncio dentro daquela sala tava me corroendo.

-eaí como foi a viagem?- o Vítor quebrou o silêncio, e eu o agradeci mentalmente por isso.

-foi ótima, descansei bastante.- falei, mas estava tão nervosa que pareceu que eu quis encerrar o assunto por ali, ou estava tão paranoica que só eu percebi isso.

-Itamaracá é incrível, faz muito tempo que não vou lá.- ele comentou.

-sim, deveríamos ir mais vezes, tendo um paraíso tão pertinho de casa.- falei rindo.

-verdade.- ele falou, e encerramos o assunto.

Algumas pessoas começaram a entrar na sala, preenchendo-a, poucos minutos antes do filme começar.

Quando o filme começou, tentei o máximo prestar atenção nas cenas, mas acabava não pensando muito nisso, o que fazia com que eu acabasse me assustando com as trocas de tiros nas cenas do filme. E tudo só piorou quando começou algumas cenas mais românticas, e o Vítor colocou sua mão sobre a minha.

Tentava me concentrar no filme, na pipoca, em qualquer coisa que não fosse nossas mãos juntas, mas foi uma tentativa totalmente falha.

Depois que o  filme acabou, as 9 da noite, fomos tomar um vento na varanda do shopping, estava bem vazia, considerando que faltava uma hora pra fecharem.

-gostou do filme?- perguntei só pra puxar assunto, mas com medo que ele perguntasse de volta e eu não soubesse responder.

-sim, até que foi interessante. Você prestou atenção?- ele perguntou.

Gelei, eu não tinha prestado atenção, em nada. Baixei a cabeça e mordi o lábio, sem saber o que lhe dizer.

-tá tudo bem Gabi, relaxa.- ele disse rindo.

-desculpa, mas é que minha cabeça tá cheia de coisas esses dias- disfarcei, uma dessas coisas era ele.

-você quer conversar?- quis saber.

-na verdade...- meu coração estava acelerado, eu não sabia se devia dizer isso.

Dizer a um cara que conheço a um mês, que gosto dele, que ele me deixa extasiada, que faz meu coração acelerar e minhas mãos suarem, quando penso em encontrá-lo ou ouço sua voz, não era fácil, principalmente se ele sabe que meu último relacionamento foi bastante conturbado e não demonstrava ter superado.

-pode falar.- ele percebeu minha demora.

Simplesmente travei, não soube o que dizer, como agir, foi por isso que me aproximei dele, toquei seu rosto lentamente.

-Gabi...-ele falou, mas foi interrompido pelos meus dedos encostando em seu lábios.

Tomei coragem e o beijei, algo explodiu dentro de mim, não tenho certeza do que foi, meu coração, meu estômago, meu pulmão.

Seu beijo era suave, calmo, maravilhoso, como eu sempre imaginei. Suas mãos alcançaram a minha cintura enlaçando-me e fazendo nossos corpos ficarem cada vez mais próximos, grudados, encaixados perfeitamente.

Não queria sair dali jamais, porém o corpo humano, infelizmente, nesse caso, necessita de respirar para viver.

Quando nos afastamos, acho que nós dois estávamos sem palavras, eu não acreditei no que tinha feito, e não fazia ideia de como o Vítor se sentiu com a minha ação.

Até que ele sorriu, sorriu, o sorriso mais bobo que eu já vi na vida. Mas que me fez ter vontade de pular de alegria.

-você tá realmente pronta?- ele perguntou com um tom de hesitação.

-eu estou.- falei sorrindo e ganhando mais um beijo.

Eu estava extremamente feliz, se nesse dia eu estivesse me decepcionado, ou me sentido mal, sua presença, seu toque, seu beijo, seu sorriso, me fez esquecer exatamente tudo.

É... Já tá mesmo na hora de seguir em frente, e eu seguirei.

continua...

voteeeemm

comenteeem

bebam água 

sejam felizes


in the middle of my path [ss]Onde histórias criam vida. Descubra agora