Prólogo

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O sol nascia, iluminando a densa floresta aos poucos, e, consequentemente, o vilarejo próximo. Crianças corriam entre as várias barracas no caminho, gritavam e cantarolavam, diferente dos adultos que lutavam para ignorá-los e prosseguirem com seus exaustivos trabalhos. A feira se entendia até o final da longa rua, e alguns feirantes faziam questão de tomar algumas outras ruas com suas mercadorias.

No centro de toda a movimentação, em um beco, encontrava-se uma pequena loja de adornos; moças riam para suas damas de companhia, exibiam o dinheiro aos vendedores e o mais importante: experimentavam cada joia que lhes rendessem alguma atenção.

— Oh, esse de conchinhas é perfeito! — a dama exclamava, erguendo o adorno aos ares. - me lembra o mar e a deliciosa areia. Levarei esse! — finalizou, jogando a peça para sua dama de companhia, no qual faltara cair pelo susto e desespero de não deixar que a escolha de sua senhora chegasse ao chão.

— Fico honrado que tenha gostado desse, minha senhorita. — o vendedor aproximava-se da mesma que faltava jogar-se em seus braços. Suspiros eram arrancados da mesma ao ver aqueles olhos que tanto chamava atenção entre as mulheres.

Os olhos da dama deixavam claro suas intenções, demonstravam o desejo de tê-lo, mesmo sabendo que sua família não o aceitaria pela falta do sangue nobre. A heterocromia do homem era seu maior charme, seria raro achar uma dama que não ousasse desejá-lo, mas não impossível.

— Meu bom senhor, poderia dizer onde encontro os acessórios de primavera para minha senhora? — uma jovem de longos cabelos cor-de-rosa aproximou-se ao lado de uma mulher de aparência refinada.

O homem sorriu, mas logo paralisou ao ver uma jovem tão bela quanto a que estava em sua frente. Seus olhos esmeraldinos combinavam perfeitamente com as pontas verdes de seus fios, sua pele parecia tão macia como algodão e um sorriso encantador tomava conta de seu rosto.

— Meu senhor? Está bem? — a mesma perguntou pela demora de uma resposta. — senhor?

— Perdão. Por aqui, senhorita. — caminhava até à direita da loja, onde se encontrava a preferência citada pela rosada. — estarei à disposição. — retirou-se, voltando para as damas que chamaram sua atenção pela compra do belo colar de conchas. — vejo que tem bom gosto, senhorita. — sorriu.

— Agradeço por dizer o que já estou ciente.

A dama de companhia desculpou-se por sua senhora enquanto pagava o homem, parecia querer se enfiar em um buraco pelo constrangimento. O vendedor, apenas aceitou as desculpas e pediu para esquecer o ocorrido.

— Meu senhor, agradeço por ter um coração tão nobre. — dirigiu-se até sua senhora, e logo saíram.

Obanai Iguro era o nome do vendedor, cujos charmes não passavam despercebidos pelas mulheres. O mesmo trabalha na venda de adornos desde sua infância, junto de seu querido pai. Sempre foi responsável pela confecção dos acessórios que tanto fazem sucesso entre as damas.

— Saia da frente, aberração! — uma mulher gritava com a jovem de cabelos peculiares —sua senhora deve morrer de vergonha por ter você como companhia. — riu encarando a mulher ao lado da mesma.

Apesar das ofensas, a rosada não se abalou, apenas continuou a escolher os acessórios, obedecendo sua senhora, o que não passou despercebido pela dama nervosa. A mesma agarrou um de seus braços, apertando-os com certa força.

— Vai me ignorar? Quem você pensa que é?

— Minha senhora não permite que gaste a voz com certas pessoas. — foi tudo que a mesma disse, antes de puxar seu braço de volta e pagar Obanai.

— Isso foi grotesco! — a dama reclamava para sua companheira —seja útil! Faça algo! Minha beleza não pode ser afetada por estresse.

— Me perdoe, minha senhora... Sinto muitíssimo. — a mesma segurava o riso.

Iguro estava incrédulo pela coragem da jovem. Seu amigo, que acabara de chegar, presenciou tudo e não segurou um sorriso de satisfação, para ele a rosada havia acabado de realizar seu sonho com tal atitude.

— O que foi isso? — Obanai virou-se para Sanemi, seu melhor amigo e também vendedor.

— Eu não faço ideia, mas foi algo incrível de se ver. — o platinado sorria. — mas, mudando de assunto, há algum evento? A feira está cheia.

— Deve ser alguma oferta — respondeu. — E sabemos bem que as damas enlouquecem na primavera. — suspira.

— Sabemos bem, ano passado fugimos de quantos casamentos mesmo? — ambos riram. — espero que essa primavera seja diferente.

— Espero que esse dia acabe logo, estou exausto.

— Quando fecharmos poderíamos ir a uma taverna. O que acha?

— Acho que qualquer coisa é melhor do que ouvir as ofensas das damas para suas rivais. — novamente ambos riram.

Horas foram se passando e logo a dupla de amigos estavam na taverna. Gargalhadas altas ecoavam pelo lugar, um clima feliz havia se instalado ali. O motivo? Ninguém menos que a jovem rosada e sua bela voz. A garota cantava uma música animada, mas deixava claro que por dentro não estava tão feliz quanto a cantoria.

— Não é a garota de mais cedo? — Sanemi perguntou.

— Sem dúvidas é ela. Simplesmente linda.

— Não baba, Obanai. Não quero passar vergonha pela sua paixonite.

A taverna inteira começou a cantar quando a jovem iniciou a frase "salve o Rei e a Rainha de todos os males e prospere vosso reino". Parecia uma frase do castelo, Iguro não deixou esse detalhe passar, no fundo de seu coração algo dizia: essa canção faz parte dos nobres.

A rosada se chamava Mitsuri Kanroji, uma jovem encantadora que atraí a atenção dos cavalheiros por onde passa. A mesma é conhecida como a "dama cor-de-rosa" devido a seus cabelos peculiares com pontas verdes, combinando com seus olhos esmeraldinos, tornando se o terror das damas ao seu redor. Contudo, Mitsuri não possui tempo para assuntos amorosos, pois está determinada dar uma vida melhor ao seu irmão adotivo, Tokito, de seis anos. Por isso, mesmo com uma beleza inigualável e olhares para si, a jovem não possui nenhum desejo de mudar seus objetivos.

Tokito e Kanroji moram em uma casa minúscula na parte mais pobre do reino. Portanto, a rosada se sente na obrigação de conseguir uma vida melhor ao seu irmão, sendo obrigada a trabalhar em diferentes lugares para guardar dinheiro, enquanto o menor passa os dias sozinho em casa esperando seu retorno.

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