Capítulo 1

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O sol nasceu iluminando todo o vilarejo e destacando as mais belas flores, junto delas uma jovem rosada, que seguia sua senhora no grande jardim do castelo. Seus pés doíam, mas não poderia reclamar, seu trabalho era estar ao lado da mesma a todo tempo; só não pensou que uma dama andaria tanto.

— Minha senhora, acho que devemos descansar. Não queremos que fique cansada durante o baile —sugeriu sua dama de companhia, Mitsuri Kanroji.

— Não seja tola. Preciso estar preparada para dançar horas e horas no baile. — suspirou. — E não me lembro de pedir uma sugestão.

—Perdão, minha senhora.

A jovem Kanroji não tinha permissão de falar durante a presença da princesa, mas era seu trabalho fingir uma preocupação com a futura herdeira do trono. A mesma estava ofegante, fazia breve pausas durante o caminho e quando via sua senhora estava mais adiantada, não estava nada além de correr.

—Kanroji. —cuspia seu sobrenome. —Certifique-se que o vendedor Iguro estará e meu baile. Isso é uma ordem. —finalizou.

Sem delongas, a rosada correu até a loja de acessórios. Agradeceu por não estar longe do local, pois suas pernas estavam doendo mais do que suportava. Entrou no lugar deparando-se com o vendedor citado pela princesa; ela de fato não podia negar que o mesmo era charmoso.

—Você está bem, senhorita? —o mesmo perguntou aproximando-se.

—Eu só preciso me sentar —respondeu ofegante. Não demorou para que Obanai a guiasse até um banco próximo e lhe desse um copo d'água. —o senhor é um anjo —soltou em agradecimento.

Iguro sentiu suas bochechas rubras após a fala da garota, mas aparentemente ela nem se deu conta do que disse. A rosada, cuja voz era a mais bela de todo vilarejo, estava visivelmente exausta, mas ainda precisava se recompor e entregar o recado da herdeira.

—Minha senhora deseja sua presença no baile de hoje à noite —disse com dificuldades.

—Sua senhora? —perguntou confuso.

—A princesa —respondeu.

—Sinto decepcioná-la, mas não compareço em bailes... —os olhos esmeraldinos imploravam para que o homem fosse, ao menos para que duas ou três pessoas pudessem testemunhar sua presença.

—Por favor. Eu te imploro. —a mesma pegou em sua mão e o encarou com os olhos suplicantes. As damas ao redor cochichavam sobre a ação, mas a rosada não cedeu. — Fique ao menos por alguns minutos. Nada mais. —implorou.

— Por que implora por minha presença? Não sou um nobre.

— Estou implorando para não ouvir reclamações da minha senhora! —exclamou —tenho um irmão para cuidar, não posso perder a oportunidade que estou tendo. Por favor, vá.

Kanroji era responsável por seu irmão adotivo, Tokito, de apenas seis anos, e também tinha impostos para pagar. Seus pais haviam falecido há anos, mas não conseguiu arrumar um trabalho por conta de seu cabelo.


O baile havia começado, Mitsuri estava seguindo sua senhora para todos os cantos. Torcia para que ninguém reparasse em suas olheiras, não havia pregado o olho um minuto sequer. Suas pernas gritavam de dor, mal obedeciam aos seus passos, a rosada estava preparada para cair no chão a qualquer momento.

A princesa estava flertando com todos os nobres possíveis, mas Kanroji não estava na posição de opinar. Precisava descansar o quanto antes. Aproveitando o distanciamento, caminhou até uma sala vazia, onde poderia descansar em paz. Iguro estava na mesma sala e não pode controlar a sua surpresa ao ver a garota jogando-se na poltrona próxima e resmungando coisas inaudíveis.

— Princesa mimada... não sabe o que é lutar para conquistar nada. — ajeitou-se na poltrona e em minutos adormeceu.

Os olhos de Obanai exploravam a rosada adormecida, estava terrivelmente cansada, sua pele macia estava replete de leves gotas de suor. Um sentimento triste tomou conta do mesmo, sentia pena pela garota; supôs que sua senhora dava mais trabalho do que parecia.

Enquanto isso, na festa, a herdeira prosseguia com seus flertes. Os nobres cada vez mais tinham a certeza de que a garota estava apostando em todos para no fim ficar com aquele que mais possuísse riquezas.

— Quando subir ao trono não passará de uma rainha interesseira — um duque comentava com seu acompanhante, que concordava.

O salão estava repleto da alta sociedade, fofocas e sussurros que possivelmente afetariam a reputação da princesa começariam em breve, mas foram impedidos por Janeth, atual rainha, que aparecia no meio de toda agitação.

— Agradeço a presença de cada um nessa gloriosa noite — um sorriso aparecia aos poucos no rosto de sua Majestade — em breve minha filha assumirá o trono. Peço que sejam compreensíveis, e, que tornem-se um parceiro ideal para minha amada herdeira.

Sussurros em oposição apareciam, nenhum nobre estava disposto a se casar com uma garota oferecida, isso poderia afetar a reputação de um reino. Sem entender, Janeth apenas continuava seu discurso.

Na biblioteca, Iguro cuidava da rosada como podia, seu sono estava pesado, poderia cair uma prateleira e ela correria o risco de não ouvir. O corpete que usava deixava visível o quanto prendia sua respiração. Torcendo para que ela não o matasse, o mesmo afrouxou os nós.

— Não imagino o sofrimento que deve ser usar isso. — referia-se ao corpete. — vou atender ao seu pedido. — sorriu.

O homem saiu da sala, deixando-a descansar, dirigindo-se até o salão. Olhares desconfiados fitavam Obanai, todos ali não o conheciam na alta sociedade, mas a princesa logo correu aproximando-se.

— Iguro. — sorriu. — como é bom vê-lo.

— Princesa. — reverenciava.

Novamente, os nobres levantaram suas suspeitas; aquele homem não fazia parte deles, não era nobre. E uma princesa ousada mostrou-se atraída por ele. A Rainha, por outro lado, não reconheceu sua filha.

— Leona. — sua Majestade chamava atenção de sua herdeira que acabara de perder a compostura.

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