Aquele dia parecia nunca chegar ao fim e eu já estava mais do que cansada. Não apenas fisicamente, com certeza não. Sentia-me quebrada mentalmente, eram informações demais para processar, coisas demais para acreditar. Meu irmão era um assassino e eu não tive a capacidade de perceber. Bom, eu ainda tinha tempo de consertar algum coisa.
Eu estava agora na delegacia. Tudo estava indo para um rumo muito além do absurdo. Logo depois de sair do escritório, fui a pensão, pretendendo encontrar Hans, mas o que encontrei foi uma cena bem diferente.
A frente do prédio, um corpo ensanguentado, coberto por um lençol branco jazia no asfalto. "Que merda é essa?" Foi a única coisa em que consegui pensar. Um pequeno grupo de curiosos se reunia em um círculo ao redor do homem morto. Uma mulher chorava, um tanto longe de todos, sentada no meio fio.
-O que aconteceu aqui?- Perguntei. Estava torcendo que a resposta não envolvesse meu irmão. Infelizmente, o que eu temia aconteceu.
-Seu irmão. Ele espancou o homem e depois o jogou da janela do segundo andar.- Respondeu o senhor Baker. Seu rosto continha tanto espanto quanto o meu.
Meu irmão nunca havia matado alguém antes. Bom, eu achava que não. Eu não o conhecia mais, ele havia se tornado algo diferente, alguém diferente.
Agora eu estava na delegacia, esperando para fazer uma visita. O delegado Bristal me acompanhou até o andar de baixo, onde ficavam as celas.
-Seu irmão está na última cela á direita.- Disse ele.
O corredor estava escuro e frio. Todas as celas estavam vazias, menos uma. Por entre as barras de ferro pude ver meu irmão. Estava sentado com as costas na parede e as pernas esticadas. Vestia uma camisa branca ensanguentada, com as mangas dobradas para cima, uma calça marrom e sapatos de couro preto. Pude ver algumas gotículas de sangue na ponta do sapato direito.
Quando me viu, correu em direção a porta, encaixando seu rosto entre-meio a duas barras.
-Eva, você tem que me tirar daqui! Por favor, me ajude. Eu não sei exatamente porque estou aqui mas Lilly corre perigo. Eu preciso salva-la.- Sua voz estava desesperada. Era como se ele realmente acreditasse no que dizia, como se aquelas palavras que saíam de sua boca fossem realmente verdade.
-Hans, você está aqui porquê matou um homem.- O rosto de meu irmão ficou branco como leite. Ele olhou para os lados, como se naquele momento lembrasse do que havia feito.
-Eu... Eu apenas me defendi. Ele me atacou e eu me defendi. Foi isso que aconteceu.
-Não. Não foi. A esposa dele disse que você arrombou a porta e depois o espancou até que ficasse desacordado. Disse também que em seguida você arrastou o homem e o jogou pela janela do corredor.- Ele agora andava de um lado para o outro, como se tivesse escutado uma mentira.
-Não!Não!Não! Isso não aconteceu dessa forma. Essa mulher mentiu pra você!- Hans se virou de costas e correu para a parede que ficava no fundo da sala, dando-lhe um soco com toda a força.-Eu não fiz isso.- Sua voz agora estava chorosa.
-Hans, eu acredito em você, de certa forma. Eu visitei a clínica psiquiátrica onde Humpfrey foi internado... Eu conversei com o diretor. Ele disse que Humpfrey sofria de um transtorno de personalidade causado por um evento traumático, acredito que você esteja passando pela mesma coisa. Claro, você terá de ser julgado, mas podemos alegar insanidade. Eu posso te ajudar, Hans. Mas terá de colaborar comigo.
Eu podia ouvir Hans chorar. Chorava alto como uma criança. Aos poucos seu choro se tornou uma risada, cada vez mais escandalosa. Ele estava de costas para mim, com uma das mãos apoiadas na parede, mas podia ouvi-lo gargalhar.
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Café Frio
Mystery / Thriller(completa) Dois irmãos, Eva e Hans Schuleman, trabalham como detetives particulares há vários anos, e após o término de um de seus casos, resolvem voltar à cidade natal para se reorganizarem. Mas logo quando retornam ao local, eventos suspeitos come...