Minhas costas estavam doloridas quando eu acordei, me espreguicei, calcei as pantufas e fui até o banheiro. Depois de vinte minutos, estava realmente pronto e desperto.
Vesti uma calça azul e larga, uma camisa de manga curta de estampa xadrez, e sapatos marrons.
Acendi um cigarro e fui até a janela. Levantei o vidro e coloquei minha cabeça para fora. O vento estava agradável e o sol batia no meu rosto. Não havia ninguém circulando na rua naquele momento. Olhei no relógio, "dez e vinte cinco". Algo estava estranho naquilo. A essa hora ao olhar pela janela eu deveria ter visto um fluxo médio de pessoas na calçada. Amigas andando lado a lado enquanto jogavam conversa fora em um tom de voz muito mais alto do que o recomendável, ou quem sabe um trabalhador apressado enquanto levava uma caixa de mantimentos sobre o ombro.
Afastei-me da janela e desci o vidro novamente. Coloquei o cigarro sobre o cinzeiro e me servi de uma bela xícara de café. Estava gelado. Tomei o resto do líquido em um gole e me aprumei. Arrumei os cabelos para trás, catei as chaves que estavam sobre a cômoda e saí do quarto.
O corredor estava vazio e novamente não se ouvia som algum. Não logo de cara. Bati algumas vezes na porta de Eva, ela não estava. Provavelmente já estaria na casa de nosso pai, ou eu sei lá onde ela iria quando estava sozinha. Segui meu caminho, mas parei na porta seguinte. Vozes gritavam entre si de forma agitada. E em seguida o som de uma batida. O homem saiu do quarto com um semblante mais do preocupante. Sua camisa estava para fora da calça e a gravata solta do colarinho, tudo isso acompanhado por um cabelo desgrenhado e um bafo que poderia deixar alguém embriagado.
-Tá olhando o quê ?- Perguntou ele com uma voz embargada. Não me prestei a responder. O homem seguiu seu caminho, deixando a porta do quarto aberta atrás de si. Eu não havia o visto no café da manhã do dia anterior, e seu rosto não me era muito familiar.
Olhei para dentro do cômodo ao meu lado. Uma mulher estava sentada com as costas encostadas na parede. Uma garrafa de Whisky pela metade repousava a seu lado. Tirei os óculos de sol do meu bolso e os coloquei a frente de meus olhos. Segui também meu caminho.
Eu tenho uma política um tanto quanto restrita em relação a esse tipo de coisa. Nunca me envolver em assuntos alheios, quanto menos envolvido você está em algo, menos merdas acontecem. Meu histórico com esse tipo de coisa não era dos melhores. Não mesmo.
Desci às escadas e me deparei com um salão vazio. Assim como a recepção. "Mas que porra é essa?" As respostas estavam prestes a serem apresentadas.
Saí da pousada e olhei em direção ao final da rua. Estavam longe de mim, mas pude ver exatamente do que se tratava. A cidade inteira parecia estar reunida em um só lugar. Quem olhasse poderia dizer que a própria rainha estava fazendo uma visita ao lugar. Guardei a chave do carro no bolso e continuei a pé.
Todos estavam gritando e se empurrando de forma desordenada. Mulheres afastavam crianças da horrível imagem que ali estava, enquanto outros olhavam atônitos para o retrato macabro. Tirei meus óculos observei melhor enquanto afastava a multidão a minha frente. Quando cheguei a ultima fileira de aglomerados, logo em frente a grande árvore, pude ver com clareza do que se tratava. Engoli a seco e belisquei a mim mesmo para testar se não estava em um pesadelo. Obviamente não estava. Elizabeth estava pendurada pelo pescoço em um robusto galho da grande árvore. Seu corpo jazia pálido, enquanto a corda ainda apertava seu pescoço.
O delegado Bristal e outros dois oficiais faziam a contenção do local, impedindo que a multidão se aproximasse demais da cena.
-Vai fazer alguma coisa?- Perguntou-me Eva, colocando o braço sobre meu ombro.
-Vamos fazer.- Respondi.
Eva estava logo ao meu lado. Sua mão segurava a manga de meu casaco com força. Achei que ela já estivesse acostumada com esse tipo de coisa... Estava errado. Era impossível aceitar coisas como estas para falar a verdade, jamais deveríamos achar normal tal atrocidade.
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Café Frio
Mystery / Thriller(completa) Dois irmãos, Eva e Hans Schuleman, trabalham como detetives particulares há vários anos, e após o término de um de seus casos, resolvem voltar à cidade natal para se reorganizarem. Mas logo quando retornam ao local, eventos suspeitos come...